Estão aí os novos ingredientes para a possível e previsível repetição da "limpeza política" na Líbia, através da intervenção militar e dos bombardeios sobre populações civis pela OTAN, na Siria, e do ataque já anunciado, e por enquanto abortado em função das dissensões internas de Israel, sobre o Irã.
Na Siria, a resposta popular foi imediata. Até o Partido Comunista, que faz oposição ao governo, protesta. Tem clareza de que reformas políticas têm que ser implementadas, mas tem clareza também de que qualquer intervenção externa - com as bençãos dos califas proprietários da Arábia Saudita - só pode implicar em retrocesso, e alinhamento explícito aos governos americano e inglês, na busca de estabilidade na região, após os fracassos e os vexames que se impuseram com a invasão do Iraque.
Contra a tragédia do ataque a Siria, as agências internacionais já noticiam hoje as manifestações de protesto pela iniciativa da Liga Árabe - onde o peso da Arábia Saudita e do Qatar, reacionários, é determinante para as decisões -. Segue o noticiário do Valor Econômico, onde a foto é bem menos generosa na demonstração da quantidade de manifestantes do que a do insuspeito Globão.
Suspensão da Liga Árabe
gera protesto na Síria
Milhares de manifestantes pró-governo saíram às ruas em diversas cidades da Síria ontem para protestar contra a decisão da Liga Árabe de suspender a participação do país na entidade. Com fotografias do ditador Bashar Al-Assad e bandeiras sírias em punho, os manifestantes denunciaram o que consideram uma "conspiração" contra a Síria.
A decisão foi o mais forte sinal de advertência da comunidade árabe ao governo Assad. Suspensão similar dada pela organização - composta por 22 países - à Líbia contribuiu para que o Conselho de Segurança da ONU autorizasse a ação militar que ajudou a derrubar Muamar Gadafi.
"Não há nada de errado em ir ao Conselho de Segurança porque ele é a única organização capaz de impor medidas de proteção internacional à população civil", disse Nabil Al-Arabi, presidente da Liga, após o anúncio.
De acordo com representantes da entidade, a suspensão foi cogitada após Damasco ignorar um plano de ação para tentar por fim aos conflitos - entre outros pontos, ele determinava a libertação de prisioneiros, a retirada das forças de segurança das ruas e o início do diálogo com a oposição. O governo Assad qualificou a decisão de "ilegal", argumentando que as conversas pela paz já teriam sido iniciadas, e convocou uma reunião emergencial com representantes da entidade.
EUA e França aprovaram a notícia. Para o presidente americano, Barack Obama, ela mostra "o isolamento crescente de um regime que sistematicamente viola os direitos humanos". Segundo as Nações Unidas, mais de 3.500 pessoas morreram desde o início do conflito em março deste ano.
Apesar do tom amistoso que Damasco tentava transmitir, a rede de TV Al-Jazeera informou que as forças de segurança sírias entraram novamente em conflito com a população e mataram 24 pessoas apenas ontem.
No sábado à noite, vários manifestantes partidários do regime, munidos com paus e facas, invadiram as embaixadas do Catar e da Arábia Saudita, a três quadras de distância da sede do governo, em uma das áreas mais policiadas da capital, assim como os consulados da Turquia e da França em Latakia.
A Turquia, que iniciou a retirada de funcionários não essenciais de seu quadro diplomático no país, pediu à comunidade internacional para que "responda com uma voz unida aos desdobramento sérios na Síria".
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