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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

EUA repete na Siria os Esquadrões da Morte de El Salvador

Mais uma contribuição da atenta Gilda Arantes para o blog


"A opção salvadorenha para a Síria"

Esquadrões da morte promovidos pelos EUA-OTAN integram as "forças da oposição"

por Michel Chossudovsky
Modelado nas operações encobertas dos EUA na América Central, a "Opção salvadorenha para o Iraque", iniciada pelo Pentágono em 2004 foi executada sob o comando do embaixador dos EUA no Iraque John Negroponte (2004-2005) em conjunto com Robert Stephen Ford, que em Janeiro de 2011 foi nomeado embaixador dos EUA na Síria, menos de dois meses antes de começar a insurgência armada contra o governo de Bashar Al Assad.

"A opção salvadorenha" é um "modelo terrorista" de assassinatos em massa por esquadrões da morte patrocinados pelos EUA. Ela foi aplicada primeiramente em El Salvador, no auge da resistência contra a ditadura militar, resultando em cerca de 75 mil mortes.

'.John Negroponte foi embaixador dos EUA em Honduras de 1981 a 1985. Como embaixador em Tegucigalpa ele desempenhou um papel chave no apoio e supervisão dos mercenários "contra" nicaraguenses que estavam baseados em Honduras. Os ataques além fronteiras, na Nicarágua, ceifaram cerca de 50 mil vidas civis.

Em 2004, John Negroponte foi nomeado embaixador dos EUA no Iraque, com um mandato muito específico.

A opção salvadorenha para a Síria: O papel central do embaixador estado-unidense Robert S. Ford 

Negroponte, o arquitecto dos esquadrões da morte.O embaixador estado-unidense na Síria (nomeado em Janeiro de 2011), Robert Stephen Ford, fez parte da equipe de Negroponte na Embaixada dos EUA em Bagdad (2004-2005). A "Opção salvadorenha" para o Iraque estabeleceu as bases para o lançamento da insurgência na Síria, em Março de 2011, a qual começou na fronteira Sul, na cidade de Daraa.

Em relação a acontecimentos recentes, as matanças e atrocidades cometidas que resultaram em mais de 100 mortes incluindo 35 crianças na cidade fronteiriça de Houla, em 27 de Maio, eles foram, com toda a probabilidade, executados sob o que pode ser descrito como uma "Opção salvadorenha para a Síria".

O governo russo apelou a uma investigação
"À medida que a informação goteja de Houla, Síria, próxima à cidade de Homs e da fronteira sírio-libanesa, torna-se claro que o governo sírio não foi responsável por bombardear até à morte cerca de 32 crianças e seus pais, como é periodicamente afirmado e negado pelos media ocidentais e mesmo a própria ONU. Parece, ao invés, que havia esquadrões da morte em quarteirões próximos – acusados por "ativistas" anti-governo como sendo "bandidos pro regime" ou "milícias" e pelo governo sírio como trabalho de terroristas da Al Qaeda ligados a intrusos estrangeiros". (Ver Tony Cartalucci, Syrian Government Blamed for Atrocities Committed by US Sponsored Deaths Squads , Global Research, May 28, 2012)
O embaixador Robert S. Ford foi despachado para Damasco no fim de Janeiro de 2011 no momento do movimento de protesto no Egito. (o autor estava em Damasco em 27/Janeiro/2011 quando o enviado de Washington apresentou as suas credenciais ao governo Al Assad).

No princípio da minha visita à Síria, em Janeiro de 2011, refleti sobre o significado desta nomeação diplomática e o papel que poderia desempenhar num processo encoberto de desestabilização política. Não previ, contudo, que esta agenda de desestabilização seria implementada dentro de menos de dois meses a seguir à posse de Robert S. Ford como embaixador dos EUA na Síria.

O restabelecimento de um embaixador dos EUA em Damasco, mas mais especificamente a escolha de Robert S. Ford como embaixador dos EUA, dá azo a um relacionamento direto com o início da insurgência integrada por esquadrões da morte em meados de Março de 2011, contra o governo de Bashar al Assad.

Robert S. Ford era o homem para este trabalho. Como "Número Dois" na embaixada do EUA em Bagdad (2004-2005) sob o comando do embaixador John D. Negroponte, ele desempenhou um papel chave na implementação da "Opção salvadorenha no Iraque" do Pentágono. Esta consistiu em apoiar esquadrões da morte e forças paramilitares iraquianas modeladas na experiência da América Central.

.Desde a sua chegada a Damasco no fim de Janeiro de 2011 até ser chamado de volta a Washington em Outubro de 2011, o embaixador Robert S. Ford desempenhou um papel central em preparar o terreno dentro da Síria bem como em estabelecer contatos com grupos da oposição. A embaixada do EUA foi a seguir encerrada em Fevereiro. Ford também desempenhou um papel no recrutamento de mercenários Mujahideen junto a países árabes vizinhos e na sua integração dentro das "forças de oposição" sírias. Desde a sua partida de Damasco, Ford continua a supervisionar o projecto Síria fora do Departamento de Estado dos EUA.
"Como embaixador dos Estados Unidos junto à Síria – uma posição que o secretário de Estado e o presidente estão a manter-me – trabalharei com colegas em Washington para apoiar uma transição pacífica para o povo sírio. Nós e nossos parceiros internacionais esperamos ver uma transição que estenda a mão e inclua todas as comunidades da Síria e que dê a todos os sírios esperança de um futuro melhor. O meu ano na Síria diz-me que uma tal transição é possível, mas não quando um lado inicia constantemente ataques contra pessoas que se abrigam nos seus lares". ( US Embassy in Syria Facebook page )
"Transição pacífica para o povo sírio"? O embaixador Robert S. Ford não é um diplomata vulgar. Ele foi o representante dos EUA em Janeiro de 2004 na cidade xiita de Najaf, no Iraque. Najaf era a fortaleza do exército Mahdi. Poucos meses depois ele foi nomeado o "Homem Número Dois" (Ministro Conselheiro para Assuntos Políticos) na embaixada dos EUA em Bagdad no princípio do mandato de John Negroponte como embaixador no Iraque (Junho 2004 – Abril 2005). Ford a seguir serviu sob o sucessor de Negroponte, Zalmay Khalilzad, antes da sua nomeação como embaixador na Argélia em 2006.

O mandato de Robert S. Ford como "Número Dois" sob o comando do embaixador Negroponte era coordenar fora da embaixada o apoio encoberto a esquadrões da morte e grupos paramilitares no Iraque tendo em vista fomentar a violência sectária e enfraquecer o movimento de resistência.

John Negroponte e Robert S. Ford, na embaixada dos EUA, trabalhavam em estreita colaboração no projeto do Pentágono. Dois outros responsáveis da embaixada, nomeadamente Henry Ensher (vice de Ford) e um responsável mais jovem na seção política, Jeffrey Beals, desempenharam um papel importante na equipe "conversando com um conjunto de iraquianos, incluindo extremistas". (Ver The New Yorker, March 26, 2007). Outro ator individual chave na equipe de Negroponte era James Franklin Jeffrey, embaixador dos EUA na Albânia (2002-2004).

Vale a pena notar que o recém nomeado por Obama chefe da CIA, general David Petraeus, desempenhou um papel chave na organização do apoio encoberto a forças rebeldes da Síria, na infiltração da inteligência síria e nas forças armadas.

Petraeus desempenhou um papel chave na Opção salvadorenha do Iraque. Ele dirigiu o programa "Contra-insurgência" do Comando Multinacional de Segurança de Transição em Bagdad em 2004 em coordenação com John Negroponte e Robert S. Ford na Embaixada dos EUA.

.A CIA está a supervisionar operações encobertas na Síria. Em meados de Março, o general David Petraeus encontrou-se com seu confrades da inteligência em Ancara, para discutir apoio turco ao Free Syrian Army (FSA) ( CIA Chief Discusses Syria, Iraq With Turkish PM , RTT News, March 14, 2012)
David Petraeus, o chefe da CIA, efetuou reuniões com altos oficiais turcos ontem e em 12 de Março, soube o Hürriyet Daily News. Petraeus encontrou-se ontem com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e seu confrade turco, Hakan Fidan, chefe da Organização de Inteligência Nacional (MIT), no dia anterior.

Um responsável da Embaixada dos EUA disse que responsáveis turcos e americanos discutiram "muito frutuosamente as mais prementes questões da cooperação na região para o próximos meses". Responsáveis turcos disseram que Erdogan e Petraeus trocaram pontos de vista sobre a crise síria e o combate anti-terror. ( CIA chief visits Turkey to discuss Syria and counter-terrorism | Atlantic Council , March 14, 2012)

O original, em inglês, está no portal de Global Research,  http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=31096 
28/Maio/2012
 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

 

"Nova" classe média ganha até R$ 1.019 per capita

 

Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo- Valor Econômico 30/05/12
Ruy Baron/Valor / Ruy Baron/ValorRicardo Paes de Barros, da SAE: desafio para a nova classe média é a geração de empregos mais estáveis



A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) divulgou ontem estudo que estabelece novos critérios para a identificação da classe média brasileira e a define como o grupo composto por famílias com renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019, segundo dados da composição da renda em 2009. Atualmente, esse universo representa 54% da população do país.
Em parceria com um corpo de especialistas nas áreas de economia, sociologia e pesquisas de opinião, foram adotados diversos critérios para definir as faixas de renda da classe média, que foi dividida em três subgrupos, como a alocação e a composição da renda. Segundo a SAE, o principal critério observado foi o da vulnerabilidade, ou seja, a chance que a população tem de sofrer decréscimo na renda, e assim retornar à condição de pobreza.
A nova classificação vai servir para o governo tomar medidas que sustentem a emergência da classe média na sociedade brasileira. Em 2001, o percentual da população que se encaixava nesse perfil era de 38%. Já em 2009, a classe alta representava 18%, enquanto a baixa correspondia a 34%. "A expectativa é que a gente entenda melhor e mapeie essa nova classe, que ascendeu nos últimos dez anos e se transformou na maioria da população brasileira", afirmou Moreira Franco, ministro da secretaria.
A nova classe média foi dividida entre a "baixa classe média", com renda per capita entre R$ 291 a R$ 441, "classe média", com ganho entre R$ 441 a R$ 641, e "classe média alta", com rendimento entre R$ R$ 641 a R$ 1.019.
Os trabalhos para realizar a nova medição começaram em dezembro último, com o último encontro sendo realizado ontem para definir as diretrizes finais. A intenção do governo é fazer com que a nova classe média permaneça como maioria na população brasileira e tenha mais estabilidade, segundo o secretário de Ações Estratégicas da secretaria, Ricardo Paes de Barros.
"A inserção na nova classe média se deu pela expansão do emprego formal. Agora queremos garantir um segundo empurrão nesse mercado de trabalho: a geração de empregos mais estáveis", afirmou para depois explicar que o foco é o aumento da produtividade do grupo. "Hoje há muita rotatividade nas empresas, o que é ruim tanto para o empregador como para o empregado. O primeiro não investe no funcionário e o segundo dá um retorno menor, pois fica pouco tempo." Para tanto, o governo estuda políticas específicas, como a criação de incentivos a funcionários e empresas que mantenham vínculos mais longos.
Além da três subdivisões de classe média, mais cinco foram feitas para enquadrar as diferenças de renda no país. A faixa "extremamente pobre", com renda de até R$ 81, a "pobre mas não extremamente pobre", com renda entre R$ 162 e R$ 291, a "vulnerável", com renda entre R$ 291 e R$ 441, a "baixa classe alta", com renda entre R$ 1.019 e R$ 2.480 e a "alta classe alta", com renda acima de R$ 2.480. Os valores que compreendem essas denominações foram corrigidos de 2009 até abril deste ano.
A previsão de Paes de Barros é que estudos com a nova metodologia sejam anunciados nos próximos meses.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Doações ao neoPT- quem paga o almoço?

O noticiário sobre a cascata de recursos depositados, como doação, na conta do (neo)Partido dos Trabalhadores revela, de forma incontestável, em que se transformou essa outrora briosa organização partidária de cunho socialista. São empreiteiras, bancos, empresas do agronegócio e siderúrgicas. Recursos provindos de trabalhadores desses segmentos? Nem pensar. É dinheiro de maganos habituados a não pagarem sequer almoço que não traga retorno imediato na conta de lucros e benefícios.
Ou seja; recursos na ordem de R$ 50 milhões de reais, em 2011, onde não nos ocorre ter havido campanha eleitoral de qualquer tipo, 89,5% de uma conta total, onde a segunda legenda aquinhoada, o PMDB, não viu mais do que 5% do ervanário. Ao DEMO e ao PSDB, siglas ideologicamente representativas desses segmentos, nada mais do que gorjetas, tendo em vista a inexpressividade em que mergulharam depois dos anos de fausto no mandarinato de FHC.
O que isso quer dizer? Quer dizer muita coisa. Quer dizer que esses segmentos podem abrir mão de tais recursos porque muito mais podem recuperar em suas relações de privatização do bem público. Muito mais; milhares de vezes mais do que o governo despende para manter aquietados amplos setores saídos da miséria para uma "classe média"onde a renda mensal familiar alcança não mais do que R$ 200,00.
Traduzindo: colaboram com o partido do governo que lhes atende aos interesses pecuniários; que está a seu serviço; que transforma nossa diplomacia em agência despachante de negócios (basta consultar a lista de empresários que acompanham Dilma em seus périplos no exterior); que coloca o bem público a serviço da multiplicação sem risco dos lucros que obtêm em seus setores específicos, mas também na especulação com títulos da dívida pública; que os isenta de tributo na renda e patrimônio, por conta do que massacram dos assalariados - tanto no imposto descontado na fonte, quanto nos gastos indiretos através do consumo, onde um quilo de feijão abate o mesmo imposto de quem ganha milhões ou de quem ganha salário mínimo.
Está aí a razão do sucesso do neoptismo. Está aí a essência do lulopragmatismo, que leva à loucura a velha direita: garante ganhos pantagruélicos do grande capital, à custa de um dispêndio mínimo com os setores marginalizados, mas suficiente para mantê-los calmos em sua insignificância social. Tudo acatado até por segmentos progressistas da sociedade, por conta de a alternativa ser algo muito pior - a parceria trágica de tucanos com demos.

Segue a matéria - que não foi publicada na Veja nem no Globo, mas no Valor Econômico cuja credibilidade ainda não virou alvo nem dos defensores fundamentalistas do governo

PT arrecada 89,5% das doações de empresas em 2011

Por Raphael Di Cunto
Ruy Baron/Valor - 30/3/2010 / Ruy Baron/Valor - 30/3/2010João Vaccari: "O PT arrecadou tanto porque a vida do partido continua normal mesmo quando não tem eleição"
Dos R$ 54,6 milhões dados por empresas para os 29 partidos políticos registrados na justiça eleitoral em 2011, o PT ficou com 89,5%. Naquele ano, o partido recebeu R$ 50,1 milhões de 75 doadores, segundo prestação de contas entregue a Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As doações declaradas cumpriram as exigências da lei.
Com uma dívida de R$ 53,9 milhões que só aumentava desde a campanha eleitoral de 2002, o PT recorreu aos tradicionais doadores para quitar os débitos e entrar na eleição municipal deste ano com um caixa mais folgado. Apelou para empreiteiras, bancos, empresas do setor alimentício e petroquímico e até para um empresário envolvido no mensalão do DEM no Distrito Federal.
Seu principal adversário, o PSDB, recebeu apenas R$ 2,35 milhões - equivalente a 4,3% do total. O PMDB, segundo que mais arrecadou, ficou com 5,2% dos recursos distribuídos por empresas para financiar os partidos. A maioria das legendas sequer arrecadou recursos privados em 2011, ano em que não ocorreu eleição e em que o orçamento das siglas dependeu majoritariamente do fundo partidário.
O setor que mais contribuiu com o PT foram as empreiteiras, responsáveis por 45% dos R$ 48,9 milhões que o partido recebeu da iniciativa privada, segundo levantamento do Valor no balanço da legenda. Esse também foi o setor com maior número de doadoras, 21, e com a líder em contribuição: a Andrade Gutierrez, com R$ 4,6 milhões.
Fornecedoras de serviços e equipamentos para a Petrobras ficaram em segundo lugar, com 10,8% das doações, seguidas pelo agronegócio, com 10,3%. O setor petroquímico deu 9,9% dos recursos, com R$ 4 milhões da Braskem, que tem a Petrobras entre as suas acionistas. Já o setor financeiro, que teve o Bradesco e BMG como doadores, responde por 7,9% das colaborações.
A Braskem disse, em nota, que "contribui com partidos que demonstrem alinhamento com os compromissos da companhia em relação ao desenvolvimento nacional, regional e do setor químico e petroquímico". O Bradesco não comentou e o BMG disse que doa para vários partidos.
Na lista, há companhias com contratos vultuosos com o governo federal. A cingapuriana Jurong Shipyard nem começou a construir seu estaleiro em Aracruz, no Espírito Santo, mas já deu R$ 1 milhão para o PT. A empresa pretende atuar no setor de petróleo e gás, com a construção de navios e sondas de perfuração, produtos que tem como principal cliente a Petrobras. Procuradas, ambas preferiram não se pronunciar.
Em alguns casos, o governo tem até participação na empresas, como a JBS, em que o BNDESPar, braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem 30,4%. Quinta maior doadora petista, a companhia disse, através de sua assessoria, que faz doações para todas as legendas. "O BNDES é um investidor da JBS, assim como em outras empresas", respondeu.
O BNDES disse, em nota, que "realizou 986 mil operações de crédito para empresas de todos os portes, então é natural que clientes do banco estejam entre as companhias que realizam doações a quaisquer partidos políticos".
De fato, a legislação permite que essas empresas doem tanto para candidatos quanto para partidos. As únicas restrições são os valores, que não podem ultrapassar 2% do faturamento do ano anterior, e que as doadoras não sejam concessionárias de serviços públicos. Esta regra, porém, tem alcance limitado, já que esses serviços costumam ser prestados por consórcios com outro CNPJ, o que permite à empresa doar em seu próprio CNPJ.
Entre as empresas que doaram estão ainda a Agropecuária Santa Bárbara, controlada pelo Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, e a Ensin - Empresa Nacional de Sinalização e Eletrificação, de propriedade de Jorge Marques Moura e Labib Faour Auad, donos também da Consladel. Reportagem de 2009 do "Fantástico", da TV Globo, mostrou um funcionário da Consladel negociando pagamento de propina para instalação de radares.
O Valor procurou os diretores da Consladel e da Ensin desde terça-feira, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. O secretário nacional de Finanças, João Vaccari Neto, afirmou, em nota, que as doações são legais. "O PT não é responsável pela conduta e pelos problemas fiscais das empresas doadoras. O PT cumpre rigorosamente o que determina a legislação atual com relação às doações partidárias", disse.
As doações de pessoas físicas representaram apenas 1,5% do total arrecadado. O percentual só não foi menor, porém, devido à contribuição de três grandes empresários: José Celso Gontijo, que é investigado no mensalão do DEM (leia abaixo) e deu R$ 600 mil; Ronaldo de Carvalho, que é um dos donos da Drogaria São Paulo e contribuiu com R$ 100 mil; e Benjamin Nazário Fernandes Filho, acionista majoritário da Benafer, uma das maiores distribuidoras de aço plano do país.
Vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Fernandes Filho disse que acompanha a política faz tempo e que doou R$ 1 milhão como pessoa física. "O PT enfrentava problemas financeiros por causa da campanha. Alguns amigos meus, que são do partido, pediram ajuda", conta o empresário, que diz ter doado também para a reeleição do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). "Era logo no começo do governo Dilma, e eu achava que ela estava tomando medidas muito efetivas. Queria que continuasse assim, por isso resolvi doar", diz.
A campanha que elegeu Dilma Rousseff (PT) presidente deixou uma dívida de R$ 26,7 milhões em 2010. Essa conta foi absorvida pelo diretório nacional do PT, que estabeleceu o prazo interno de um ano para quitá-la, segundo Vaccari. O pedido para os empresários surtiu efeito e o partido teve uma receita extraordinária para um ano não eleitoral, de R$ 109,9 milhões.
O valor é uma vez e meia maior do que o arrecadado em 2009, quando a receita do diretório nacional petista atingiu R$ 44,8 milhões, e está bem acima do que as outras legendas arrecadaram no ano passado - segundo maior orçamento, o PMDB recebeu R$ 44,5 milhões, contra R$ 38,5 milhões do PSDB.
Parte do crescimento na receita deve-se ao aumento no fundo partidário - o PT, como o partido mais votado para a Câmara dos Deputados em 2010, tem direito à maior parcela, de R$ 51 milhões. Outra parte, mais significativa, veio das doações. "O PT arrecadou tanto porque a vida do partido continua normal. Os outros partidos não existem fora dos anos eleitorais. O PT existe, faz eventos, palestras, manifestações", diz Vacari.
Embora tenha reduzido a dívida do partido em 72% em comparação com 2010, o dinheiro, porém, ainda não foi suficiente para dizimá-la. No fim do ano passado ainda havia débito de R$ 15,1 milhões, referente a contas e impostos não pagos ao Ministério da Fazenda, INSS, Prefeitura de São Paulo, a empresa TV a satélite Sky, agências de viagem e pequenos fornecedores.
O maior credor ainda é a Coteminas, do ex-vice-presidente José Alencar (morto em 2011). A empresa renegociou a dívida - de R$ 5,7 milhões no fim de 2011- e recebe R$ 300 mil por mês do PT. A dívida refere-se à confecção de 2,75 milhões de camisetas para a campanha de 2004, serviço que foi investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios sob a suspeita de que viesse de caixa dois, o que foi negado pelos envolvidos.
Outro investigado pelas relações com o PT, o BMG teve a dívida de R$ 1,9 milhão quitada pelo partido em 2011. Ao mesmo tempo, doou R$ 1 milhão para a legenda no ano passado. O banco foi investigado por supostamente ter participado do mensalão ao forjar empréstimos para o PT como forma de lavar dinheiro público desviado. A investigação não foi suficiente para que o PT voltasse a registrar empréstimo do banco.
A assessoria do BMG afirmou que "nenhum de seus dirigentes faz parte da ação penal que se denominou de mensalão" - eles respondem a outra ação, referente a suposta fraude no empréstimo, e que está separada da análise do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). O Banco Rural, outro investigado, também teve a dívida de R$ 1,87 milhão paga, mas não doou para o partido em 2011.
A receita extra também não foi suficiente para tirar o patrimônio líquido da sigla do vermelho. O passivo a descoberto, que era de R$ 44,5 milhões em 2010, depois de ajustes feitos no ano passado, caiu para R$ 6,4 milhões em 2011. Entretanto, o resultado ainda mostra que a soma de bens e recebíveis do PT é insuficiente para cobrir todas as suas dívidas.

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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ruínas em vilarejo viram museu de denúncia contra a OTAN

Num pequeno vilarejo rural da Libia, o patriarca Gafez transforma o que restou de sua casa destruída por bombardeio da OTAN, em denúncia contra a instituição que se recusa a se responsabilizar pela perda de vida de seus familiares, para além de  bens materiais, ao não respeitar alvos civis, em suas covardes bravatas aéreas durante a empreitada pela derrubada de Kadafi.
14 pessoas perderam a vida na família Gafez. Outras 20 perderam a vida na propriedade vizinha por explosão posterior. "C' est-ça, les droits humains?" pergunta um painel nas ruínas transformadas em museu, diante da recusa da OTAN, através da arrogância de seu secretário-geral, em reconhecer o erro trágico cometido. Recusa que é reiterada, a despeito da Human Rights Watch ter se colocado francamente ao lado da denúncia. Vale lembrar a legitimidade da WRH, ONG  insuspeita, pelo que deu de  cobertura moral à "proteção de civis" invocada pelo ministro do exterior batido na França, Alain Juppé, para ter o apoio do indefectível BaKimMoon, capataz nomeado pelo Departamento de Estado ianque para o controle da ONU, no início dos bombardeios que destruiram as estruturas governamentais da Libia, sob pretexto de derrubar Kadafi, mas para na verdade entregar o excelente petróleo líbio às multinacionais do setor.

Segue a matéria do insuspeito LeMonde, que também apoiou o ataque



En Libye, un village victime d'une bavure de l'OTAN attend que justice soit rendue

LE MONDE |  • Mis à jour le 

Un Libyen sur les décombres de sa maison détruite par les bombardements de l'OTAN durant le conflit en 2011, à Majer, à 150 km de Tripoli.

Neuf mois se sont écoulés mais les gravats n'ont pas bougé. Bombardée par l'OTAN, un soir du mois d'août 2011, la demeure de la famille Gafez, à Majer, un bourg à 150 kilomètres à l'est de Tripoli, ressemble toujours à un soufflé ratatiné. Une bouillie de béton et d'acier. Quatorze personnes ont perdu la vie dans l'explosion. Vingt autres sont mortes, quelques minutes plus tard, dans deux nouvelles frappes sur la ferme des voisins, les Jaroud. Des hommes, des femmes et des enfants, foudroyés en pleine veillée de ramadan.
Déblayer ? Reconstruire ? Haj Ali, le patriarche de la famille Gafez, un petit homme affable et moustachu, n'y a jamais pensé. Question de santé, d'argent et surtout d'honneur. Car l'OTAN ne veut pas entendre parler des martyrs de Majer. L'organisation persiste à affirmer que les bombes lâchées ce 8 août visaient des"cibles militaires légitimes".
NI ENQUÊTE, NI COMPENSATION
Les organisations internationales de défense des droits de l'homme sont d'un avis contraire. Notamment Human Rights Watch (HRW), qui a publié lundi 14 mai un rapport très documenté sur les bavures commises par l'Alliance durant la campagne de Libye, au printemps et à l'été 2011. Selon ses auteurs, les sept mois de bombardements qui se sont conclus sur l'effondrement du régime de Mouammar Kadhafi ont causé la mort de 72 civils.
Ce bilan "relativement peu élevé atteste des précautions prises par l'OTAN" tout au long de son opération, affirme le rapport. Pour autant, HRW déplore que l'organisation militaire n'ait pas reconnu ses erreurs, n'ait ouvert aucune enquête et n'ait offert aucune compensation aux victimes de ses tirs.
C'est pour lutter contre ce déni que les membres de la famille Gafez ont transformé les ruines de leur maison en musée du souvenir. Le visiteur est accueilli par une inscription rageuse, tracée sur le portail d'entrée : "C'est ça les droits de l'homme ?" Une allusion au principe de "protection des civils" que le ministre des affaires étrangères français, Alain Juppé, avait invoqué devant le Conseil de sécurité des Nations unies, pour obtenir le vote de la résolution 1973 qui déclencha l'intervention de l'OTAN.

Un Libyen montre les photos de victimes tuées par les bombardements de l'OTAN en 2011, alignées sur le mur d'un musée à leur mémoire, à Majer, le 13 mai 2012.

Dans le salon du rez-de-chaussée, dont le plafond a résisté à l'écroulement des deux étages supérieurs, une banderole couverte exclusivement de photos de bambins et de jeunes femmes voilées a été déployée. "Beaucoup de familles qui fuyaient les combats étaient venues se réfugier chez nous, explique Amr, le fils de Haj Ali. Nos traditions veulent que dans ces cas-là, les hommes laissent la maison aux femmes et aux enfants. Nous nous étions installés dans le champ d'à côté. C'est ce qui nous a sauvés."
SYSTÈME DE GUIDAGE AU LASER
Les sandales en plastique des défuntes, encore recouvertes de la poussière des décombres, ont été regroupées dans un coin. Elles voisinent avec une horloge cabossée, un vélo d'enfant à la roue déformée et une machine à coudre. Ce bric-à-brac funeste est destiné tout autant à honorer la mémoire des victimes qu'à prouver qu'elles ne méritaient pas de figurer dans le collimateur de l'OTAN. "Vous imaginez que j'aurais accueilli tout ce monde chez moi, si des soldats de Kadhafi traînaient dans les parages ?", demande Haj Ali.

Un Libyen extirpe la peluche d'un enfant des ruines d'une maison détruite par les bombardements de l'OTAN durant le conflit de 2011, à Majer, le 13 mai 2012.

Venus inspecter le site à quatre reprises, dont le lendemain même de la tragédie, les experts de HRW lui donnent raison. Hormis un tee-shirt militaire, un vêtement qu'affectionnent de nombreux Libyens, ils n'ont trouvé aucun indice susceptible de corroborer les allégations de l'alliance, selon laquelle les fermes de Majer servaient de base de repos aux forces régulières.
Dans la pièce d'à côté, le mausolée vire au musée des horreurs. Des clichés de cadavres, déchiquetés tapissent les murs. "C'est mon frère, dit Adel Absaat, un jeune trentenaire, en désignant un corps informe, poissé de sang. Il était à la mosquée quand une première explosion a dévasté la maison de la famille Jaroud. Il a couru pour porter secours aux victimes, avec une dizaine de ses camarades. C'est à ce moment qu'est survenue la seconde frappe. Ils ont tous été tués."
Les habitants ont récolté dans les gravats des fragments de bombe qu'ils ont amassés sur une table en bois. L'un d'eux a été identifié par HRW comme un morceau d'ailette de GBU-12, un projectile doté d'un système de guidage au laser,"qui aurait dû indiquer au pilote la présence d'un grand nombre de personnes au sol", dit le rapport.
ENTRE COLÈRE ET RÉPUGNANCE LES HABITANTS SE TAISENT
Le lendemain du carnage, le 9 août, les autorités libyennes véhiculent des dizaines de journalistes jusque sur les lieux. Grisé par la perspective d'embarrasser l'OTAN, voire de la forcer à suspendre son opération, le porte-parole du régime, Moussa Ibrahim, se déchaîne contre ce "crime qui défie l'entendement", gonflant au passage le nombre de morts qu'il chiffre à quatre-vingt-cinq.
Ayant déjà pris les partisans de Kadhafi en défaut de truquage, les médias rapportent ces propos avec circonspection. Déchirés entre la colère, le chagrin et la répugnance à faire le jeu de Tripoli, les habitants se taisent. Il faut attendre la fin du conflit pour que les esprits s'apaisent et que le calvaire de Majer soit reconnu.
Reste que le Conseil national de transition (CNT), l'instance de direction de la révolution libyenne, rechigne à prendre position. Certains de ses membres jugent inopportun d'incriminer l'OTAN, cet allié dont le soutien fut si déterminant. "Ils entretiennent l'idée que ça a été fait par les forces de Kadhafi, pour discréditer les occidentaux, déplore Khaled Shakshik, un responsable du CNT, à Zlitan, la grande ville à côté de Majer. Et quand ils reconnaissent la faute de l'OTAN, ils s'opposent à ce que le statut de martyr soit attribué aux victimes, en affirmant que tous n'étaient pas forcément anti-Kadhafi."

Photos et vêtements de Libyens tués par les bombardements de l'OTAN durant le conflit de 2011, et accrochés dans le musée à la mémoire des victimes, à Majer, le 13 mai 2012.

Ces petits calculs exaspèrent Milad Tawil, un ingénieur qui a perdu son frère dans l'hécatombe. "Nous ne voulons pas tant des compensations qu'une assistance morale, dit-il. La liberté, nous l'avons payé au prix fort. Il faut le reconnaître."

M. Rasmussen : "Nous n'avons rien à cacher"
Interrogé lundi après-midi, à Bruxelles, par Le Monde, Anders Fogh Rasmussen, le secrétaire-général de l'OTAN, n'a pas vraiment répondu à la question "Pourquoi l'organisation refuse-t-elle une enquête sur place ?". M. Rasmussen souligne que l'OTAN a collaboré avec Human Rights Watch et a rendu publiques les informations dont elle disposait. "Nous n'avons rien à cacher", ajoute le secrétaire-général, rappelant que le but des opérations était de protéger les populations civiles. "Les opérations ont été menées avec une précision inédite, pour éviter de toucher des civils et de causer des dommages collatéraux". Pourrait-il y avoir des compensations financières pour les proches de victimes civiles ? "Nous ne sommes en mesurer de confirmer que nous serions responsables de la mort de civils parce que nous n'avions pas de troupes au sol, ce qui n'entrait pas dans notre mandat", répond M. Rasmussen. Il rappelle seulement la volonté de l'OTAN de collaborer avec les nouvelles autorités libyennes. (Jean-Pierre Stroobants, Correspondant, Bruxelles)


O propagado e o verdadeiro, a respeito dos juros

Mais um excelente artigo de Paulo Passarinho, mostrando o farisaísmo oculto nas manobras do governo em sua propalada guerra contra os altos juros bancários. Os juros continuam altos na corrida em torno dos títulos da dívida pública.
Segue a íntegra:


Realidade e Farisaísmo
Paulo Passarinho
A atual e aparente queda de braço entre o governo e os bancos deve ser mais bem entendida, antes de qualquer precipitada conclusão, conforme já alertei em artigo anterior.
O último, ou melhor, penúltimo capítulo dessa história foi a anunciada mudança nas regras de remuneração das cadernetas de poupança. O governo apresentou a iniciativa como uma necessidade para a garantia do processo de continuidade de redução da taxa básica de juros, a taxa Selic.
Com a queda da taxa Selic, os fundos de renda fixa – que são lastreados majoritariamente pelo rendimento dos títulos públicos – tenderiam a perder competitividade em relação à remuneração das cadernetas. Os títulos públicos, dentro desse raciocínio, renderiam menos, por conta da redução da taxa Selic, e, por conseqüência, os fundos passariam a pagar menos aos seus aplicadores. Os aplicadores em fundos pagam, também, taxas de administração aos bancos que os gerenciam (em geral, muito elevadas), além da tributação do imposto de renda, o que acabaria por tornar o rendimento da poupança, isento de imposto de renda, mais atrativo do que dos fundos. A cobrança do imposto de renda em relação aos títulos públicos é isenta apenas aos fundos de investimento estrangeiros, o que já é uma aberração.
A fuga de capitais dos fundos para as cadernetas, por sua vez, não interessa ao governo, pois são através dos fundos que os bancos captam recursos que são aplicados, em sua maior parte, em títulos públicos, fundamentais para a rolagem da dívida pública.
Contudo, o mais curioso é que essa versão da história é apenas uma meia verdade. A Campanha Auditoria Cidadã da Dívida Externa, em seu boletim diário de acompanhamento das notícias veiculadas pela mídia dominante, em sua versão do último dia quatro de maio, nos informa que “no dia 3/5/2012, por exemplo, o governo emitiu R$ 1,5 bilhão em títulos, pagando aos rentistas taxa de 10,7% ao ano, taxa esta que somente cai quando o governo reduz drasticamente o prazo de pagamento de tais títulos, conforme se pode ver na tabela da própria Secretaria do Tesouro Nacional”. O citado boletim lembra, também, que “segundo o último dado da Secretaria do Tesouro Nacional, dos R$ 29 bilhões de títulos da dívida interna emitidos em março pelo Tesouro, apenas R$1,8 bilhão foram indexados à Taxa Selic”. Além disso, “apenas 27,52% do estoque da Dívida Interna sob responsabilidade do Tesouro estavam indexados à Selic, com o custo médio da Dívida Interna sob responsabilidade do Tesouro Nacional sendo de 11,47%, bem mais que a Taxa Selic” (vide www.auditoriacidada.org.br)
Em suma: a vinculação da remuneração dos títulos públicos à taxa Selic é hoje uma realidade para menos de 30% dos títulos emitidos pelo Tesouro, e as taxas que vêm sendo oferecidas aos credores da dívida interna mobiliária, nos chamados títulos pré-fixados, excedem à atual taxa Selic, de 9% ao ano.
Em todo o caso, a mudança decretada para o cálculo dos rendimentos das cadernetas somente será aplicada, caso a taxa Selic chegue a 8,5% ao ano ou menos do que isso, nas novas cadernetas abertas ou para os novos depósitos realizados, a partir do dia quatro de maio. Com a Selic fora dessa faixa ou para as contas de cadernetas já existentes, a remuneração continua a ser de 0,5% ao mês, mais a variação da TR – Taxa de Referência, calculada pelo Banco Central.
Com isso, o governo tenta capitalizar a medida, destacando o “respeito aos contratos” e procurando assegurar que os poupadores da caderneta não sairão perdendo.
E para não esquecer o fio da meada do último capítulo dessa história, os analistas do mercado financeiro já voltam a manifestar preocupações com o ritmo da inflação e os seus riscos à estabilidade econômica. A depender dessa turma, as novas regras de remuneração da poupança não terão oportunidade de ser aplicadas, pois, como sabemos, para ela, somente a elevação da taxa Selic é eficaz para se combater eventuais elevações de preços em uma economia.
Nesse aspecto, o grande problema a ser considerado, levando-se em conta que a maioria da clientela desse tipo de aplicação se constitui de pessoas de menor renda, assalariados ou trabalhadores em condições de fazer alguma poupança, é o modelo de economia – e de país – que continuamos a construir, sob a hegemonia dos bancos e das transnacionais.
Com o crescimento do emprego e da renda dos segmentos mais pobres, observado nos últimos anos, há um enorme espaço de propaganda positiva para esse modelo, iniciado nos anos 1990, mas de aparente sucesso apenas no período a partir de 2003. De lá para cá, as raízes do modelo periférico-liberal se aprofundaram. Avançamos nas aberturas financeira, comercial, produtiva e tecnológica, com acentuada perda de soberania em áreas vitais para o planejamento do nosso futuro. A desnacionalização da economia e o grau de concentração dos negócios são gritantes; a deterioração dos serviços públicos essenciais à população é absurda. Privatizações, fraudulentas e perniciosas ao país, não somente não foram revistas, como continuam a avançar. E a desmoralização e descrença da população com o instrumento da política, como ferramenta para um mundo melhor, é evidente.
Contudo, para muitos vivemos uma espécie de aurora de novos tempos.
A população, bombardeada por meios de comunicação de massa que procuram difundir os supostos acertos da política econômica, parece não perceber que as dificuldades do seu dia-a-dia são crescentes. De alguma forma, o acesso aos crediários com altas taxas de juros e a possibilidade de comprar bens de consumo a prestações criou uma espécie de amortecedor contra as evidentes contradições vividas. Os centros comerciais – os shoppings – e suas instalações parecem substituir escolas de qualidade, centros de saúde adequados, transportes decentes.
As lideranças políticas procuram também estimular a ilusão. Recentemente, em solenidade no Rio de Janeiro, onde Lula foi agraciado com o título de doutor honoris causa, por cinco diferentes universidades públicas do estado, o ex-presidente, ao abordar um dos maiores problemas urbanos que temos vivido – a falência dos transportes públicos e as dificuldades de mobilidade nos grandes centros – afirmou que é o sonho de todo trabalhador ter o seu carro próprio, poder passear com sua família e se divertir. Disso ninguém pode discordar. Outra coisa é admitir como plausível, ou inevitável, um modelo de cidade onde o trabalhador gaste quatro, cinco ou seis horas do dia, para o seu deslocamento de casa para o trabalho e do trabalho para a casa.
Ou seja: uma liderança como Lula, político projetado pela esquerda e com origem popular, contundente crítico do modelo dos bancos até a sua chegada à presidência da República, não se constrange em jogar para a platéia e apostar em um nível atrasado de consciência, para poder se manter em evidência.
Nesta mesma solenidade, contudo, as fraturas do falso modelo exitoso de governo, inaugurado a partir de 2003, se mostraram em diversos momentos. Logo no seu início, com a atriz Camila Pitanga cobrando da presidente Dilma o veto ao Código Florestal, recém aprovado pelo Congresso, pela própria base governista. Ou na fala do reitor da UFF, ao reivindicar reajustes salariais para os professores universitários e, também, a destinação de verbas equivalentes a 10% do PIB para o Plano Nacional de Educação. Ou mesmo no patético esforço de Lula para defender e elogiar Sergio Cabral Filho, o corrupto e desmoralizado governador do Rio, além de seu aliado.
A realidade, portanto, teima em se mostrar, mesmo em ocasiões onde o farisaísmo se manifesta e o baixo nível de consciência e responsabilidade com o nosso futuro se mostram sem pudores.
10/05/2012     

sábado, 12 de maio de 2012

A esquerda que não teme dizer seu nome

"Toda vez que alguém afirma não haver mais nenhuma diferença entre esquerda e direita, na política, podem estar certos: esse alguém é de direita". já afirmava um pensador frances, Alain, nos primórdios do Século XX. É o que reitera, agora, em livro a ser lançado bem proximamente, o articulista Vladimir Safatle, que os tem proporcionado excelentes textos em seus artigos semanais da Folha de S.Paulo. 
Como aperitivo da leitura obrigatória posterior do texto completo, aí vai a Introdução, sacada do portal do Carta Maior:


"A esquerda que não teme dizer seu nome"

Introdução 
Um dos mantras preferidos dos últimos anos diz respeito ao pretenso esgotamento do pensamento de esquerda. Seus sacerdotes são de dois tipos. Os primeiros gostariam de ser vistos como os vitoriosos de uma época terminada de conflito ideológico. Eles não cansam de afirmar que a esquerda nunca passou de um arremedo de autoritarismo mal-disfarçado, demandas infantis de proteção, ingenuidade a respeito das violências animadas pelo mal radical e incompetência gerencial.

Durante décadas, esses intelectuais não tinham coragem de dizer claramente o que pensavam. Mas, animados pelo fim do socialismo real, com o consequente colapso dos partidos comunistas no Ocidente, pelo embaralhamento sistemático das políticas de sociais-democratas e conservadores, pela paranoia securitária da primeira década do século e por doses reforçadas de fundamentalismo cristão, eles podem agora afirmar todo seu conservadorismo e sua crença nas virtudes curativas do porrete da polícia.

O segundo tipo é composto de um séquito heteróclito de viúvas da esquerda. Com um olhar entristecido, elas afirmam que a esquerda está sem rumo desde a queda do Muro de Berlim e que chegou a hora de doses amargas de realismo. Não dá mais para sonhar com Estado de Bem-Estar Social e coisas do tipo, nem ter explicações angelicais a respeito da violência. Falar em novas configurações do político é conversa de gente que não entendeu que a democracia parlamentar é, como costumava dizer um líder conservador, o pior governo, mas o único possível. As velhas agendas de crítica do poder, de identificação dos conflitos de classe e das práticas disciplinares presentes em nossas instituições poderiam muito bem ser trocadas por uma boa ação social em ongs ecológicas, de preferência aquelas financiadas por bancos e grande corporações.

Várias dessas viúvas, principalmente em países europeus, não temeram flertar com o pior do nacionalismo e do culto da identidade, travestindo tudo isso de luta do Ocidente liberal contra o Oriente islâmico amedrontado pelo inelutável processo de modernização.

De fato, esse mantra do esgotamento do pensamento de esquerda encontrou no Brasil um terreno profícuo. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso 1995-2002), tínhamos de conviver com o cinismo de intelectuais que utilizavam Marx para justificar o caráter inevitável da globalização e de nossa inserção “dependente” e subalterna. O único resultado concreto desse cinismo foi impor um dito “choque de realidade”, visando a acabar de vez com o pretenso fantasma do “Estado getulista”, com seus tentáculos ineficientes. Por muito pouco, não se destrói o que restava da capacidade estatal de construção de políticas de intervenção econômica, capacidade cuja importância ficou evidente depois da crise mundial de 2008.

Como se isso não bastasse, a desconsideração soberana por movimentos sociais e por setores organizados da sociedade civil – à parte a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) – foi regra nesse período. Só a título de exemplo, o líder do governo de Fernando Henrique Cardoso no Congresso não temia chamar ações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)de “terrorismo”. Da mesma forma, a questão social era tão ausente que seu presidente do Banco Central não via problemas em ir à televisão e sugerir pura e simplesmente a supressão do parágrafo da Constituição Federal que obrigava o Estado a garantir a universalização do serviço público de saúde.

Com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), no entanto, continuamos obrigados a conviver com o bloqueio reiterado da reconstrução dos fundamentos gerais do campo do político, como se a imersão na “pior política” fosse uma fatalidade intransponível. A despeito de sua capacidade de colocar a questão social enfim no centro do embate político e de compreender o necessário caráter indutor do Estado brasileiro no nosso desenvolvimento socioeconômico, o governo Lula será lembrado, no plano político, por sua incapacidade de sair dos impasses de nosso presidencialismo de coalizão. Como se a governabilidade justificasse a acomodação final da esquerda nacional a uma semidemocracia imobilista, de baixa participação popular direta e com eleições em que só se ganha mobilizando, de maneira espúria, a força financeira com seus corruptores de sempre.

Nos dois casos, esmerou-se em utilizar um palavreado de esquerda para justificar business as usual. O que acaba por reforçar nossa impressão de que o político na contemporaneidade seria apenas a dimensão da ausência de criatividade e das limitações de nossas aspirações de mudança. Por isso, somos obrigados a ouvir compulsivamente que “a divisão esquerda/direita não faz mais sentido”. 

Mesmo que ainda encontremos posições políticas e leituras dos impasses da vida social contemporânea radicalmente antagônicas, há uma clara estratégia de evitar dar a tais antagonismos seu verdadeiro nome. Ela é utilizada para fornecer a impressão de que nenhuma ruptura radical está na pauta do campo político ou, para ser mais claro, de que não há mais nada a esperar da política, a não ser discussões sobre a melhor maneira de administrar o modelo socioeconômico hegemônico nas sociedades ocidentais. Não se trata mais de pensar a modificação dos padrões de partilha de poder, de distribuição de riquezas e de reconhecimento social. Trata-se de uma questão de gestão de modelos que se reconhecem como defeituosos, mas que ao mesmo tempo se afirmam como os únicos possíveis.

A função atual da esquerda é, por isso, mostrar que tal esvaziamento deliberado do campo político é feito para nos resignarmos ao pior, ou seja, para nos resignarmos a um modelo de vida social que há muito deveria ter sido ultrapassado e que evidencia sinais de profundo esgotamento. Cabe à esquerda insistir na existência de questões eminentemente políticas que devem voltar a frequentar o debate social.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Intelectualidade francesa lança manifesto keynesiano para combater pragmatismo

Intelectualidade de esquerda lança movimento keynesiano com proposta alternativa a pragmatismo que já rodeia a promessa de governo Hollande (Srkozy, eleito, não aceitou convite de Chirac para celebração de 8 de maio, como fez Hollande em relação a Sarkozy, na linha da "reconciliação"). Tendo por alvo o desemprego e a hegemonia da banca privada no financiamento da dívida pública, avaliam que a não ser por enfrentar essas questões, mantendo-se apenas no campo de debates financeiros, a perspectiva de derrota futura é grande.
Vale ler e avaliar o texto que me chega pela sempre atenta Gilda Arantes, onde um segmento mais próximo do PS do que do Front de Gauche faz pressão pela não acomodação do governo Hollande


"Nous ne voulons pas mourir 
dans les décombres du néolibéralisme !"
LE MONDE ECONOMIE | 30.04.2012 à 18h28 • Mis à jour le 01.05.2012 à 09h50
Par Pierre Larrouturou, Membre du collectif Roosevelt 2012




mercredi 2 mai 2012.

| Les systèmes tiennent souvent plus longtemps qu'on ne le pense, mais ils finissent par s'effondrerbeaucoup plus vite qu'on ne l'imagine." En quelques mots, l'ancien chef économiste du Fonds monétaire international, Kenneth Rogoff, résume bien la situation de l'économie mondiale. Quant au gouverneur de la Banque d'Angleterre, il affirme que "la prochaine crise risque d'être plus grave que celle de 1930"...


La zone euro ne va pas bien, mais les Etats-Unis et la Chine, souvent présentés comme les deux moteurs de l'économie mondiale, sont en fait deux bombes à retardement : la dette totale des Etats-Unis atteint 358 % du produit intérieur brut (PIB) ; la bulle immobilière chinoise, presque trois fois plus grosse qu'elle ne l'était aux Etats-Unis avant la crise des subprimes, commence à éclater.
Vu le contexte international, comment le PS et l'UMP peuvent-ils continuer de tout miser sur le retour de la croissance ? Il n'y a qu'une chance sur mille pour que ce rêve devienne réalité. "Ça va être effroyable, me confiait récemment un responsable socialiste. Il n'y aura aucune marge de manoeuvre. Dès le mois de juin, on va geler des dépenses. Dans quelques mois, le pays sera paralysé par des manifestations monstres et, en 2014, on va se prendre une raclée historique aux élections."
L'austérité est-elle la seule solution ? La gauche au pouvoir est-elle condamnée à décevoir ? Non. L'Histoire montre qu'il est possible de s'extraire de la "spirale de la mort" dans laquelle nos pays sont en train de s'enfermer.
EN 1933
En 1933, quand Roosevelt arrive au pouvoir, les Etats-Unis comptent 14 millions de chômeurs, la production industrielle a diminué de 45 % en trois ans.
Il agit alors avec une détermination et une rapidité qui raniment la confiance : certaines lois sont présentées, discutés, votées et promulguées dans la même journée. Son objectif n'est pas du tout de "rassurer les marchés financiers", mais de les dompter.
Son but n'est pas de "donner du sens à l'austérité", mais de reconstruire la justice sociale. Les actionnaires sont furieux et s'opposent de toutes leurs forces à la loi qui sépare les banques de dépôt et les banques d'affaires, aux taxes sur les plus hauts revenus ou à la création d'un impôt fédéral sur les bénéfices.
Mais Roosevelt tient bon et fait voter quinze réformes fondamentales en trois mois. Les catastrophes annoncées par les financiers ne se sont pas produites. Mieux ! L'économie américaine a très bien vécu avec ces règles pendant un demi-siècle.
Ce qu'a fait Roosevelt en matière économique n'était sans doute pas suffisant (sans l'économie de guerre, les Etats-Unis allaient retomber en récession), mais les réformes qu'il a imposées en matière bancaire et fiscale ont parfaitement atteint leurs objectifs.
Jusqu'à l'arrivée de Ronald Reagan en 1981, l'économie américaine a fonctionné sans avoir besoin ni de dette privée ni de dette publique.
Alors que, pendant trente ans, des règles fordistes avaient assuré un partage équitable de la valeur ajoutée entre les salariés et les actionnaires, les politiques de dérégulation ont, en trente ans, faitpasser la part des salaires de 67% à 57% du PIB des pays de l'Organisation de coopération et de développement économiques (OCDE), ce qui a conduit à augmenter tant la dette publique - car lesimpôts sur les salaires et la consommation sont la première ressource des Etats - que la dette privée, car les salariés ont dû s'endetter pour maintenir leur niveau de vie.
C'est à cause du chômage et de la précarité que la part des salaires a tellement baissé dans tous nos pays : le chômage n'est pas seulement une conséquence de la crise que nous vivons depuis cinq ans, il en est une des causes fondamentales. On ne pourra pas sortir de la crise sans s'attaquer radicalement au chômage et à la précarité.
N'en déplaise aux néolibéraux, nous ne sommes pas face à une crise de l'Etat-providence, mais bien face à une crise du capitalisme dont l'extrême gravité rend insuffisantes les réponses classiques de l'Etat-providence. La justice sociale n'est pas un luxe auquel il faudrait renoncer à cause de la crise ; reconstruire la justice sociale est le seul moyen de sortir de la crise !
DEUX STRATÉGIES POSSIBLES POUR LE PROCHAIN PRÉSIDENT
Deux stratégies sont possibles pour le prochain président de la République : soit il pense que la crise est bientôt finie et qu'il suffit d'une bonne gestion des finances publiques pour passer les quelques mois difficiles qui nous séparent de l'embellie.
Soit il pense au contraire qu'il ne reste qu'un temps limité avant un possible effondrement du système économique, et il doit "faire du Roosevelt" : organiser un nouveau Bretton Woods dès le mois de juillet 2012, mettre fin aux privilèges incroyables des banques privées dans le financement de la dette publique, lutter frontalement contre les paradis fiscaux et agir avec force contre le chômage et la précarité en lançant dès le mois de mai des états généraux de l'emploi : trois mois de travail avec l'ensemble des partenaires concernés pour construire un nouveau contrat social, comme l'ont fait en 1982 les Néerlandais avec les accords de Wassenaar.
Quel est le rôle historique de la gauche européenne ? Gérer l'effondrement du modèle néolibéral, quitte à mourir dans les décombres, ou accoucher d'une nouvelle société avant que la crise, comme dans les années 1930, ne débouche sur la barbarie ?
Pour pousser le prochain président à l'audace, nous venons de créer le collectif Roosevelt 2012 : avec Stéphane Hessel, Edgar Morin, Susan George, Michel Rocard, René Passet, Dominique Méda, Lilian Thuram, Robert Castel, Bruno Gaccio, Roland Gori, Gaël Giraud, la Fondation Abbé-Pierre, la Fondation Danielle Mitterrand, la Ligue de l'enseignement, Génération précaire et bien d'autres, notre objectif est simple : provoquer un sursaut !
Si vous partagez cette envie, rejoignez le collectif en signant son manifeste et les quinze propositions de réformes sur www.roosevelt2012.fr.
Pierre Larrouturou, Membre du collectif Roosevelt 2012