Quem sou eu

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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Direitos Humanos? Depende de quem

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No artigo "Tirania Amiga", Vladimir Safatle mostra, através da última negociação de armas entra a Arábia Saudita e os Estados Unidos, o que há de falacioso nos critérios das potências capitalistas ocidentais - EUA, Inglaterra e França à frente - quanto ao seu auto-proclamado respeito aos direitos humanos. Traz mais uma importante argumentação para explicar a manipulação do tema como a razão para intervenções imperialistas onde bem aprouver aos interesses privados belicosos que seus governos representam. A Arábia Saudita, principal aliada dos EUA e de Israel, no Oriente Médio, recebeu autorização do Pentágono para mais uma negociação gigantesca de compra de equipamento militar, sem nenhuma discussão sobre a destinação e utilização, a despeito de todas as barbaridades anti-civilizatórias que a família Saud, proprietária do território por "generosidade", comete contra seu povo e contra povos vizinhos de ramos do islamismo distintos do sunita. É a chamada avaliação comercialmente seletiva. Aos capachos, tudo. Aos que ousam enfrentar e não se submeter ao imperialismo, a ocupação militar o ataque com drones. É a barbárie ocidental-cristã
 Tirania Amiga
FSP 13/11/12
Uma das grandes razões pelas quais "democracia" é uma palavra que significa muito pouco no Oriente Médio foi dada na semana passada.
Gostamos de ver países ocidentais como EUA, França e Inglaterra como atores globais responsáveis que usam sua força para pressionar reformas democráticas em países totalitários. No entanto eles mostram, na periferia do mundo, como sua noção de "democracia" é, digamos, singular.
Semana passada, o Pentágono notificou o Congresso norte-americano sobre o projeto de venda de US$ 6,7 milhões em equipamento militar para a Arábia Saudita. Em 2010, os EUA fecharam uma venda recorde de US$ 60 milhões em equipamentos, muitos deles utilizados para ocupar militarmente o Bahrein a fim de esmagar revoltas que pediam padrões mínimos de democracia.
O fato aberrante aqui é que a Arábia Saudita concorre cabeça a cabeça com a Coreia do Norte para ser o país mais totalitário do mundo.
Monarquia absoluta teocrática sem partidos, sem Constituição, sem Parlamento e sem nem sequer um simulacro de eleição, a Arábia é o país no Oriente Médio que mais brutalmente trata as mulheres, não reconhecendo a elas sequer o estatuto jurídico de pessoa autônoma. Seu sistema legal é tão arcaico que adultério pode ser condenado com pena de morte.
Pode-se dizer que, contrariamente a países como a própria Coreia do Norte e o Irã, uma Arábia Saudita forte-mente armada não representa ameaça a seus vizinhos. Entretanto isso é falso.
Grupos salafistas que atuam na Tunísia e no Egito procurando impor um Estado teocrático, usando métodos cada vez mais violentos, são generosamente financiados pelos sauditas e pelo Qatar.
Por outro lado, desde a invasão do Kuwait pelo Iraque de Saddam Hussein, nenhum outro país árabe havia mandado suas tropas para outro país árabe, como fizeram os sauditas para defender a monarquia absoluta do Bahrein. Ou seja, a Arábia é um polo de desestabilização de todo esforço democrático na região.
Este é, juntamente com Israel, o mais fiel aliado do Ocidente na região. Fato que demonstra a vacuidade do discurso dos direitos humanos quando proferidos por antigas potências coloniais.
Em uma situação normal, o ato de armar os sauditas seria objeto de revolta contra a ausência de limites da "realpolitik" da diplomacia internacional. Ele seria a prova de que o tempo dos discursos vazios sobre direitos humanos não passou. Pois ainda parece valer a lógica bem descrita na suposta declaração de Franklin Roosevelt a respeito do ditador nicaraguense Anastasio Somoza: "Ele pode ser um [palavrão impublicável], mas é nosso [o palavrão de novo]".

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Antissemitismo e as esquerdas, fronteiras e armadilhas






“As esquerdas e o antissemitismo”, foi este o tema do debate de que participei no fim de tarde do domingo, na ASA, sociedade judaica progressista, com cujo programa tenho muita proximidade.
Foi um debate duro. Porque não há como debater seriamente o tema proposto sem que a conjuntura do Oriente Médio, particularmente a ocupação da Palestina pelo Estado de Israel, entre na roda. Afinal, é por conta da tomada de posições em relação a esse conflito que se forjam “definições”  de acordo com as posições tomadas.
Tive muitas dúvidas, antecipadamente, na forma de enfrentar o debate, tendo em vista que tenho lado na questão em pauta. Não avalio o conflito como guerra entre dois Estados, mas sim como ocupação de um Estado pelo outro. Opressão de um Estado sobre um povo oprimido, e condicionado a viver sob  controle permanente de um Exército estrangeiro. Tenho, portanto, lado. Como tive na guerra do VietNam; no golpe contra Chavez; no golpe contra Allende. Como estou, na avaliação do bloqueio criminoso contra Cuba, e na forma como a blogueira da moda, compensada em dólares, presta serviço à mídia conservadora internacional na campanha contra o regime da Ilha.  Onde está o imperialismo, operando os interesses do complexo industrial-militar-petrolífero multinacional, eu estou contra.
Aí começa o problema na discussão com uma esquerda judaica, solidária com os Palestinos, mas profundamente  sensível à idéia de que o Estado de Israel não pode ser responsabilizado pelos crimes de seus governos.
Ora, tal preocupação em separar o Estado dos governos deve, antes de tudo, se questionar sobre a possibilidade, ou não, de as correntes de esquerda, humanistas, socialistas ou comunistas, da comunidade judaica, terem alguma condição de chegar ao poder em Israel, no contexto da atual geopolítica mundial.
Alguém acredita ser isso possível no Israel dos nossos dias, em boa parte financiado a fundo perdido por Wall Street, com aporte anual de armamento americano ainda não utilizado pelas próprias forças armadas do país? E  onde a cada eleição a dita vontade popular se encaminha mais  para a escolha de lideranças xenófobas e não raro favoráveis à expulsão dos Palestinos da Cisjordânia?
Aí se coloca, portanto, a questão principal que não vejo a esquerda judaica brasileira responder, teórica ou praticamente. Como exigir da esquerda mundial, anti-imperialista, socialista ou comunista, que não identifique Estado com as práticas dos governos?  
Por que tentam proteger um Estado que não tem em toda a sua história de existência uma única referência atenuante na opressão terrorista constante contra a população palestina? Um Estado acima das leis e deliberações da ONU, porque garantido pelo poder de veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da instituição? (ver sequência de ocupação no mapa acima)
E mais importante ainda. Como garantir, com tal postura, não estar se submetendo sem resistência aos preconceitos da direita reacionária judaica, ao insinuar insistir, em toda a contestação desse terrorismo de Estado, uma forma de antissemitismo simplesmente por não haver uma constante distinção entre o Estado e seus governos que, independentemente de sua maior ou menor identidade formal com uma origem de esquerda, exercem as mesmas políticas de ocupação?
Não, não pode ser tarefa da esquerda laica, internacional, ter a preocupação de formular a denúncia com os cuidados que tornem confortável a convivência da esquerda sionista com a direita xenófoba e reacionária que hegemoniza a comunidade, dentro e fora de Israel. É tarefa dessa esquerda sionista impedir que qualquer ataque mais agudo ao terrorismo de Estado de Israel traga um sintoma oculto de antissemitismo. Com isso, é possível um acordo. Como o acordo que já existe com Uvnery, Filkenstein, Chomsky e tantos outros julgados traidores pelos sionistas fascistas.
Foi importante para mim este debate de domingo, pela forma gentil, mas sem perda de combatividade, com que fui recebido. Mas não deixou de me acender uma preocupação com a forma o fato de ser judeu pode se  sobrepor, a algumas generosas cabeças pensantes, o fato de ser internacionalista de esquerda. Enfim, luta que segue porque o debate não se encerra.