Um tema e dois pontos fundamentais de reflexão. Trata-se do "Ocupem Wall Street", manifestação de protesto siginificativa, organizada no ponto geográfico central, e simbólico, do regime capitalista em nossos tempos, e que teve uma participação recorde na última sexta-feira.
E os dois pontos para uma merecida reflexão são:
1- a incógnita sobre o desdobramento das ações após a desmontagem do acampamento original, na terça-feira, quando o prefeito de NY justificou a repressão - não denunciada pela ONU ou pelas "direitas humanas"- pela reclamação de comerciantes do local que estaria com seus negócios prejudicados, é o primeiro.
2- o resultado de pesquisa mostrando , o que parece incrível, diante da crise de desemprego e desesperança, adminsitrada e alimentada pelo governo Obama, que o apoio ao movimento é minoritário na população.
Dá para entender a última constatação, sem recorrer às reclamações contra o "povinho ordinário", que constantemente temos vontade de expressar ao ver o apego do americano médio ao conservadorismo mais fundamentalista e reacionário, característico de seu perfil médio, Basta recuperarmos o peso da mídia hegemonizada pelo grande capital, na lavagem cerebral ininterrupta, desde a Guerra Fria, condenando como traição qualquer iniciativa que ponha o regime capitalista no banco dos réus. Afinal, não por acaso, o TeaParty consegue mobilizar multidões com o slogan contra reformas que favoreçam melhorias, ou universalização da saúde pública. Seria o primeiro passo, gritam suas histérias edições de sarah palin, para a instalação do socialismo no País.
33% a favor do "Ocupem WS" (com 45%, contrários) termina até sendo um bom resultado.
O fundamental é discutir o primeiro ponto - a forma de solucionar o que há de indefinido no desdobramento das manifestações que começaram em Nova Iorque, mas que se reproduziram em muitas outras cidades dos EUA, e até do mundo.
Antes de tudo, lembrando que não estamos diante de um raio em céu azul. Ainda está viva a memória da grande batalha de Seattle, a primeira manifestação pós-anos 60 do século XX, com caráter essencialmente anticapitalista. E é esse caráter anticapitalista, de condenação do regime e não apenas da tentativa de melhorá-lo mas mantendo-o, que marca os atos atuais.
O espontaneismo das ruas, porém, e já o dissemos aqui várias vezes, não é suficiente para neutralizar a essência repressiva e o poder deliberativo das instâncias oficiais do Estado, sempre a favor do grande capital. A eleição de Obama - lembrando um fenômeno anterior ocorrido no Brasil - tinha claras marcas de disputa do poder real pelos segmentos sociais não mais iludidos pelo decadente "american way of life". Se não resultou em passos concretos, deveu-se fundamentalmente a ter sido produto de, aí sim, um raio em céu azul na disputa eleitoral - um candidato negro, com uma campanha radical contra o conservadorismo, capturando um anseio social significativo, e até então disperso.
Mas se a eleição não resultou nos passos de avanço - pelo contrário; em alguns pontos fez a política retroceder aos contravalores do período Bush - nas instâncias governamentais, resultou num "yes, we can" de mobilização. Uma mobilização que mostra saber contra o que luta, mas ainda não se definiu sobre o que colocar no lugar.
É aí que entra a discussão sobre a ferramente de luta pelo poder mais eficaz em nossos tempos. Na medida em que qualquer perspectiva insurrecional é inimaginável numa sociedade complexa como a americana - e como a brasileira, e a francesa, e a espanhola, apenas para citar algumas - por que não recorrermos ao próprio Marx, quando, em assembléia de trabalhadores em 1872, em Amsterdã, um ano após a Comuna de Paris, preconizava a possibilidade do processo revolucionário através da disputa institucional, em países com tais características? Isto mesmo, pelo caminho eleitoral.
Se nesse momento de indefinição, não prevalecer o esgotamento pelo cansaço, mas resultar a consciência da formação do partido político, que gere liderança reconhecida, não cainda na rejeição alienada da vida partidária, algo de novo de pode ocorrer. Poderíamos recuperar, com muito mais expressão social, a já expressiva significação social de Ângela Davis e sua candidatura à Presidência, na sequência dos processos de 68. Naquela época, pensar no êxito de uma mulher negra em tal empreitada era utopia.
Hoje, seria tão difícil? Com?, não conhece Angela Davis? Entre em http://pt.wikipedia.org/wiki/Angela_Davis. Vale a pena conhecer.
A matéria, referência de dados para esta reflexão, da France Press está em http://bit.ly/rMMmiS
Quem sou eu
- Milton Temer
- Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.
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Milton,
ResponderExcluiro que você pensa a respeito da "economia de recursos" ? Digo, substituir o capitalismo não pelo comunismo ou algo do gênero, mas por uma distribuição social e global dos recursos naturais? (se tiver um tempo, dá uma lida no meu último texto)