Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio, autor de mais de 40 livros, entre eles “As veias abertas da América Latina”, e que ainda acredita em utopias e acha, como eu, que o socialismo não está morto, escreveu:
“Hoje em dia, não fica bem dizer certas coisas perante a opinião pública. O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado. O imperialismo se chama globalização. As vítimas do imperialismo se chamam países em via de desenvolvimento, que é como chamar de meninos aos anões. O oportunismo se chama pragmatismo. A traição se chama realismo. Os pobres se chamam carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos”.
Para fundamentar as conclusões a que pretendo chegar, inicialmente transcrevo trechos do livro “Jogo Duro” (Editora Best Seller – 1988), escrito pelo empresário Mario Garnero, que surfava nos bastidores da ditadura; foi amigo de generais presidentes, mas também angariou inimigos da sua mesma estirpe, como Francisco Dorenelles, Elmo Camões, Lemgruber e outros tristes personagens. Testemunhou episódios que a mídia nunca divulgou. No livro, ele narra episódios “sui generis” sobre Lula e outras figuras importantes da ditadura e da Nova República. Nas pags. 130/5, escreve sobre um bilhete que enviou a Lula:
“... tentei recordar ao constituinte mais votado de São Paulo duas ou três coisas do passado...(pois) o grande líder da esquerda brasileira costuma se esquecer, por exemplo, de que esteve recebendo lições de sindicalismo da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, ali por 1972, 1973, ... a facilidade com que se procedeu a ascensão irresistível de Lula, nos anos 70, época em que outros adversários do governo, às vezes muito mais inofensivos, foram tratados com impiedade. Lula, não – foi em frente, progrediu....”
E prossegue: “Lembro-me do primeiro Lula, lá por 1976, sendo apresentado por seu patrão Paulo Villares ao Werner Jessen, da Mercedes Benz e, de repente, eis que aparece o tal Lula à frente da primeira greve que houve na indústria automobilística durante o regime militar... Recordo-me de a imprensa cobrir Lula de elogios, estimulando-o, num momento em que a distensão apenas começava... e de um episódio que é capaz de deixar qualquer um, mesmo os desatentos, com um pé atrás. Foi em 1978... os metalúrgicos tinham cruzado os braços, e nós, da ANFAVEA, conversando com o governo sobre o que fazer... o Ministro Mario Henrique Simonsen. informou que o presidente Geisel recomendou moderação: tentar negociar com os grevistas, sem alarido. Imagine: era um passo que nenhum governo militar jamais dera, o da negociação com operário em greve. Geisel devia ter alguma coisa a mais na cabeça. Ele e, tenho certeza, o ministro Golbery.”
Continua: “... que Lula não falasse naquela noite na televisão, como estava programado... ordenou Geisel... Lula não ia ao ar ... Mas foi, e, no auge da conflagração grevista, disse o que queria dizer, numa televisão sustentada pelo governo estadual... prevaleceu a opinião de Golbery.”
O livro está esgotado, teve várias edições, e não houve nenhum desmentido, nem processo contra o autor. Aliás, o banqueiro banido por um rombo de US$ 95 milhões, foi reabilitado pelo governo em 2004, como principal figura em um seminário patrocinado pelo Banco do Nordeste, em Fortaleza, com a participação dos presidentes do Senado, José Sarney, e do STF, Nelson Jobim, dos ministros Dilma Roussef e Ciro Gomes e vários governadores.
É Oportuno Recordar Importantes Acontecimentos Históricos, Dos Quais Lula Foi Figura Proeminente: Em 1982, após a guerra das Malvinas e a crise da dívida externa, o stablishment norte americano articulou-se imediatamente para manter o controle político e econômico em todos os países da América do Sul e Caribe. Engendraram o “Diálogo Interamericano”, que em 1988 foi mudado para “Consenso de Washington”. Preconizava: o fortalecimento das entidades de direitos humanos e o enfraquecimento das forças armadas da região, com a criação de uma força militar interamericana, sob controle da OEA. Garantir o pagamento das dívidas externas dos diversos países; privatização de empresas estatais, principalmente as joias das coroas, para abater dívidas; drástica redução do estado; a questão das drogas, no que afeta os interesses dos EUA. A subordinação de todos os países às medidas econômicas preconizadas pelo FMI, como elevada taxa de juros, brutal endividamento interno e externo, a dolarização das economias, o “currency boArd’ (submissão dos bancos centrais a um regime monetário e cambial no qual o país se compromete a converter sua moeda local em outro ativo líquido de aceitação internacional, a uma cotação fixa), fortalecimento de ONGs tipo Viva Rio, desarmamento das populações, controle da imprensa, comissões de direitos humanos, entrega de setores vitais e estratégicos ao comando de empresas estrangeiras etc.
Em 17/6/1990, o jornal Correio Braziliense informou que a Comissão Trilateral (criada em 1973 por David Rockefeller), defendera a substituição das Forças Armadas dos países subdesenvolvidos, especialmente da América Latina, por forças regionais de defesa, uma Força Interamericana de Defesa.
Também sem comentários, transcrevo trechos da “REVISTA T & D INTELIGÊNCIA EXECUTIVA”: “Memorando Confidencial do Estado Maior do FMI – Março 1983 - FMI Encontro do Diálogo Interamericano – Consenso de Washington” Data: 15/03/1983, Rio de Janeiro, Brasil. Membros do encontro no Brasil do Diálogo Interamericano: Membros dos EUA: David Rockefeller (FMI), George Shultz, Secretario de Estado (EUA), Ronald Reagan (Presidente dos EUA), Donald Reagan (Secretario do Tesouro), Jim Carter (Conselho do FMI), Paul Volcker/James Backer (FMI), Jeffrey Sacchs, George B.Bush (CIA). Membros do Brasil: Gal. Batista Figueiredo, Delfim Neto (Ministro do Planejamento), Fernando Henrique Cardoso (Embaixada do Brasil nos EUA), Ernane Galvêas (Ministro das Finanças), Pedro S. Malan (Economista), Luis Inácio da Silva (membro da AFL/CIO e líder da oposição brasileira), Roberto Civita e Roberto Marinho (Midia Brasileira), Cristina Pitanguy, Celso Lafer, Jaime Lerner, José Serra, Marco Maciel, Langone, Ricardo Semler, Jose Goldenberg, Leopoldo Collor. México: Luis Herrera, Salinas, Miguel Della Madri. Chile: Pinochet, Eduardo Frei. Argentina: Menem (Economista Argentino), Alejandro Lanusse (Ministério do Exercito), Vidella, Viola, Alphonsyn (Economista);”
Segue relacionando membros de outros países. Curiosidade: a presença de Luis Inácio da Silva (ainda não tinha incorporado Lula). Ele participou também da reunião em Washington em 1989, aí já Consenso de Washington, quando se apresentou como membro da AFL-CIO e deputado da oposição brasileira. Compareceu também, juntamente com FH, à reunião do Consenso em 1992.
ALGUNS COMENTÁRIOS
Lula mal disfarça sua aliança com grandes grupos econômicos, financeiros, com o agronegócio e com as velhas oligarquias, como Sarney, Severino Cavalcanti, Jader Barbalho, Collor, Renan Calheiros.
O povo que, em 2002, acertadamente, escolheu o operário em vez de um liberal, jamais poderia imaginar o comportamento pragmático do esquerdista no governo. Somente tendo conhecimento de sua secreta trajetória durante a ditadura, passa-se a entender.
João Victor Campos, diretor cultural da AEPET-Associaçao dos Engenheiros da Petrobras, em artigo publicado no “Alerta Total” da Associação, afirma que “em 1968 Lula cursou no IADESIL - Instituto Americano de Desenvolvimento do Sindicalismo Livre, escola de doutrinação mantida pela AFL-CIO (American Federation of Labor-Congress of Industrial Organizations), central sindical dos EUA”.
Tanto o IADESIL como a AFL-CIO, ministram cursos contra-revolucionários de “liderança sindical”, com maquiagens para parecer de esquerda, mas servem ao imperialismo norte americano. Ressalte-se que esse Instituto instalou-se em São Paulo no ano de 1963, quando a CIA preparava o golpe de 1964. A AFL-CIO é o braço sindical da CIA para ações criminosas em todo o mundo.
Lula tornou-se amigo de Stanley Gacek, Diretor da AFL-CIO para América Latina e embaixador itinerante do Capitalismo, que o acompanhou em várias visitas a Washington. Esse macabro representante norte americano, na ocasião já aposentado, estava no palanque em São Paulo, na festa da vitória de Lula em 2002.
Eleito em 2002, ainda antes da posse, e logo após reunião com George Bush, anunciou que o comando da economia seria entregue a um banqueiro, o presidente internacional do BankBoston, Henrique Meireles. No final de 2002, passou um final de semana na fazenda da multinacional Molycorps, em Araxá-MG, que explora e exporta, a preço de banana, o precioso e raro mineral nióbio.
Abandonando as ideias da esquerda, governando segundo os princípios da economia capitalista, e transformando o Bolsa-Escola em Bolsa-Família, assumiu as bandeiras do PSDB, que ficou sem discurso oposicionista. E o PT e o PSDB disputaram as eleições em aliança em mais de mil municípios. Submissos ao “Consenso”, pode haver discrepâncias entre os dois partidos, menos em política econômica e segurança.
Verdadeira esquizofrenia tomou conta dos ex-combativos dirigentes sindicais, que hoje conformam uma nova oligarquia que apenas disputa cargos públicos, abandonando a classe trabalhadora, enquanto o PT sofreu profunda metamorfose.
Lula colocou-se na dependência do PMDB para aprovar projetos no Congresso Nacional. Sem sequer disfarçar, apelava para formas de cooptação, de fisiologismo e de corrupção que condenava quando era oposição. Conseguiu aliança com partidos que se tornaram simples satélites e submeteu instituições republicanas importantes a um processo de desmoralização, especialmente a Câmara, o Senado, o TCU e o TSE. Reabilitou Romeu Tuma, chefe do DOPS paulista durante a ditadura, onde foram torturados e assassinados vários oposicionistas. Nomeou o filho de Tuma Secretário Nacional de Justiça. Aliou-se ao papa do fisiologismo e coronelismo, o mais antigo parlamentar, quatro vezes presidente do Senado, o homem dos atos secretos, José Ribamar Ferreira Araujo da Costa, vulgo José Sarney, concedendo-lhe benesses que o triste personagem não conseguira nem quando era Senador e presidente da ARENA (“Sarney tem história para não ser tratado como se fosse uma pessoa comum”. Llembram?).
O corolário foi uma série de escândalos de corrupção e radicais mudanças em partidos que abandonaram seus princípios, em troca de benesses.
No final do governo, na surdina, ressuscitou o Acordo Militar com os EUA, que Geisel havia denunciado. Fez isso, depois que os EUA reativaram a IV Frota (que fora desativada em 1950), para policiar o Atlântico Sul e interferir nas reservas do pré-sal.
Outro episódio importante, iniciado com FHC, mantido até hoje, mas que Lula certamente “não sabia”: O general-de-brigada da reserva, Durval Antunes de Andrade Nery, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra, denunciou a presença da Blackwater* em reservas na Amazônia e em plataformas de petróleo da empresa Halliburton*, na costa do pais. Dispõe de lanchas, ancoradouros, armas, aviões anfíbios etc. Atua livremente na reserva Yanomani, enquanto um oficial do exército brasileiro lá só pode entrar com autorização judicial.
O general denunciou que a Halliburton* mantém um de seus diretores na Agência Nacional de Petróleo-ANP, o que permite acesso a dados secretos das jazidas de petróleo. Afirmou que “membros fortemente armados da Blackwater já atuam em reservas indígenas brasileiras contando com bases fluviais bem equipadas”. Aliás, vários dados secretos sobre a reserva Tupy vieram a público, criminosamente.
Outro fato digno de nota: Lula vetou o artigo 64 da Lei nº 12.351/2010 (novo marco regulatório do petróleo), oriundo de emenda apresentada pelo Senador Pedro Simon por inspiração do engenheiro Fernando Siqueira, presidente da AEPET, QUE PROIBIA A DEVOLUÇÃO DOS ROYALTIES pagos por quem produz petróleo. Quanto a bacias sedimentares, Lula privatizou: 41,7 mil km2, ou seja 28% da área total da província do PRÉ-SAL, já foram concedidos, isto é, privatizados. FHC deu concessões nas diversas bacias petrolíferas, na extensão de 176,4 mil km2, enquanto o governo Lula deu 349,7 mil km. Lula instituiu novo marco regulatório, a partilha, que é um avanço em relação ao sistema de concessões instituído por FHC. Mas vale apenas para o pré-sal. E não reinstituiu a Lei 2.004 do monopólio estatal do petróleo, que substituiria a entreguista Lei 9.478 de FHC.
O General Golbery um dos articuladores e planejadores do Golpe Militar, em ação coordenada pela CIA, foi quem planejou a ascensão de Lula, e incentivou a criação do Partido dos Trabalhadores. Armou esquema para barrar os passos de Leonel Brizola na volta do exílio, para impedir que o líder nacionalista voltasse com possibilidades de assumir a Presidência, excluindo-o da sigla PTB. Tentou impedir a posse de Brizola para o governo do Estado do Rio, em 1982 (escândalo Proconsult).
Conhecendo os textos acima, que cada um decida se o presidente Lula se enquadra nas definições do poeta uruguaio, citadas no início.
É nesse quadro que as esquerdas terão que apresentar um projeto. Sempre desejei que Lula fizesse um governo baseado nas bandeiras da esquerda, que ele defendia e que eram o programa do PT. É, sem dúvida, uma tragédia para as esquerdas brasileiras e de todo o continente.
EM SETEMRO DE 2010. RONALD SANTOS BARATA
NOTA 1: A Blackwater é uma empresa de mercenários com sede na Carolina do Norte, Estados Unidos. É formada por vários tipos de paramilitares e outras forças de elite. Fornece mercenários e outros serviços paramilitares. Está atuando como força auxiliar (e de segurança) no Iraque e Afeganistão. Recentemente mudou sua denominação para “ Xe Services and US Training Center”.
NOTA 2: A halliburton é a maior empresa de exploração de petróleo e gás do mundo e outras atividades, como fabricação de ferramentas etc. Atua em mais de setenta países, com centenas de subsidiárias. Tem entre seus donos, o ex-vice presidente dos EUA Dick Cheney e a família Bush.
NOTA 3 – Marcos Coimbra, em artigo no Monitor Mercantil em 2002, escreveu:
“O Diálogo Interamericano foi fundado em 1982, por iniciativa do banqueiro David Rockefeller. Seu endereço é 1211 Connecticut Avenue, Suite 510, Washington, DC 20036, tel. (202) 822-9002, Fax (202) 822-9553, site: iad@thedialogue.org. É composto por cidadãos oriundos dos EUA, Canadá, México, América do Sul e Caribe.... Suas principais fontes de financiamento são as Fundações Ford, MacArthur, a corporação Carnegie, American Airlines, Banco Itau, Bank America, Bank Boston, Chase Manhattan Foundation, General Eletric, Texaco, Time Warner, Trans-Brasil Airlines, USAID, BID, Xerox, Banco Mundial e outras. No ano de 1988, houve uma reunião ampla, já acrescida de novos membros, em Washington, quando então foram acordadas as políticas e estratégias a serem adotadas para domínio da América Latina e do Caribe, de onde surgiu a expressão “Consenso de Washington”, porém do qual resultou , por escrito, apenas um documento modesto, informando sua realização, sem entrar em pormenores, em função da gravidade dos assuntos tratados e da necessidade de sigilo. Não é por acaso que o instituto da reeleição foi implementado na Argentina, no Peru e no Brasil, nem a nomeação de integrantes desta “seleta” elite para cargos de importância em seus respectivos países, bem como a padronização caracterizada pela subordinação das medidas econômicas de todos os países ao FMI, pela elevada taxa de juros, pelo brutal endividamento externo e interno, pela tentativa de “dolarização” das economias, pela pressão para implantar o “currency board”, pelo fortalecimento das ONG’s (vide o "Viva Rio" no Brasil, que orienta a política de segurança pública do país) e das comissões de “direitos humanos”, pelo desarmamento da população (vide projeto encaminhado ao Congresso pelo Presidente FHC), pela venda por “tostões” das jóias da coroa, pela cumplicidade da grande imprensa, pela entrega de setores vitais e estratégicos dos respectivos países a empresas estrangeiras, algumas até estatais, pela pressão para incorporação do Mercosul à ALCA Possuía, segundo dados de novembro do corrente ano, setenta fundadores e cerca de cem membros, dentre os quais destacamos: a) Brasil- Sr. Fernando Henrique Cardoso- ex-presidente do CEBRAP, licenciado; Sr. Celso Lafer, ministro das Relações Exteriores; Sr. Roberto Civita, Presidente da Editora Abril. Mais tarde entraram o Sr. Roberto Teixeira da Costa, o Sr. Bolívar Lamounier, o Sr. Henrique Campos Meirelles, a Sra. Celina Vargas do Amaral Peixoto, a Sra. Dulce Maria Pereira (ex-Fundação Palmares), a Sra. Jacqueline Pitanguy e outros... ”
Recomendação: Na Internet, encontramos importantes fontes de informação sobre o Diálogo Interamericano, como: “WWW. Tribunadaimprensa..com .br/?prp=11714”, “WWW. Brasilsoberano .com.br”, e outros sites sobre o Consenso de Washington. Através do Google encontramos o livro proibido “O Chefe” de Ivo Patarra.
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