Quem sou eu

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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

UM PSOL CONTRA O CAPITAL
190716

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”, já afirmava Marx no seu insuperável “18 Brumário”, obra em que analisou  raízes e sequelas de equívocos da Revolução de 1848, na França.
 “Nossa situação agora é diametralmente oposta à do Século XX, quando sabíamos o que queríamos fazer (ditadura do proletariado, etc.), mas precisávamos esperar com paciência  o momento certo em que a oportunidade se ofereceria. Agora, não sabemos o que fazer, mas temos de agir, porque as consequências de não agir podem ser catastróficas”, conclui Slavoj Zizek, no seu “Primeiro como tragédia, depois como farsa”, recuperando a premonitória Rosa Luxemburgo, com seu aviso dramático: “Socialismo ou Barbárie”. E optando, no dilema proposto por Gramsci, pela afirmação do otimismo da vontade na convivência com o pessimismo da razão. .
Não; não se trata da abertura de um abstrato catecismo de citações doutrinárias. Trata-se de uma lembrança didática de referências emitidas em tempos históricos distintos,  fundamentais para o debate sobre tática e estratégia de um partido que se pretende de esquerda, anticapitalista, socialista. De um partido que se pretende parte de uma alternativa reativadora do que foi perdido no Pacto Conservador de Alta Intensidade dos anos do mandato de Luis Inácio Lula da Silva.
Um Pacto que, por sua irrealizável estratégia de “governar para todos sem incomodar ninguém”, típica de uma mentalidade sindical pragmática transferida para  a política de Estado, terminou por se afirmar como raiz de ceticismo atual, em amplas camadas outrora comprometidas com anseios de transformação qualitativa de nossa realidade. Raiz do que foi perdido na oportunidade desperdiçada de impor reformas progressistas estratégicas; todas  jogadas para escanteio por conta de uma política limitada a mitigar necessidades imediatas, sem apontar desdobramentos  estruturais, geradores de um mais alto nível de consciência ideológicas nas massas atingidas.
Porque ao fim e ao cabo ficou claro tratar-se de um pacto que manteve os privilégios do grande capital em sua tríade mais expressiva – bancos, empreiteiras e agronegócio – , compensados por um Reformismo Fraco, voltado para os segmentos mais miseráveis da população. Um pacto que garantia a cobertura de 11 milhões de família com uma Bolsa cujo custo anual se igualava ao lucro dos dois principais bancos privados em apenas nove meses desse mesmo período.
Pois, afinal, quem afirma governar para todos, aos seus certamente está  traindo.
CENÁRIO DO CONFRONTO
Tarefa hercúlea, portanto, para uma esquerda combativa, pois a conjuntura atual não é favorável a um tal projeto como aquela que, por exemplo, propiciou a fundação e a consolidação do PT.
A luta pelas Diretas, na disputa recente contra o governo golpista do PMDB, PSDB e seus acólitos, não chegou perto da mobilização nacional dessa campanha quando do fim da Ditadura.
O movimento sindical fragmentado, com ampla influência do sindicalismo de resultados, não nos oferece uma base social combativa, semelhante à que foi propiciada ao nascimento e desenvolvimento do PT na aurora dos anos 80, com o nascimento e afirmação combativa da hoje acomodada CUT. E mais; com tempo de TV nos horários políticos, instrumento fundamental para a divulgação de programas e propostas, então igual para todos, atualizado por um verdadeiro massacre de desigualdade em favor de legendas da pior política.
Quanto ao contexto internacional a polaridade ideológica EUA x URSS era obstáculo incontestável à possibilidade de que o imperialismo e seus cúmplices internos pudessem nadar a favor da corrente em defesa de um modelo econômico condicionado pela manutenção dos privilégios do grande capital como hoje ocorre. O neoliberalismo mal nascia, e longe daqui.
Mais ainda, não temos o cenário de proximidade ideológica na luta que, naquela conjuntura, tornava o confronto Reforma x Revolução parte da rotina permanente das assembleias daquele saudoso PT. 
Nem de perto. Pelo contrário. O que ainda nos obriga a ouvir  formulações sobre o tema quando vindas de declarações surpreendentes por parte de luminares do grande capital globalizado;
“Sim, estamos numa luta de classes. E nossa classe está vencendo” é o desabafo transparente de Warren Buffet, o segundo homem mais rico do mundo, embaralhando as escusas dos que, outrora militantes combativos, se desviaram para uma pós-modernização da política, tentando negar a dicotomia esquerda/direita.
Num tempo de ascensão de pautas identitárias em sua visão liberal, e de pressão reducionista contra o conceito reconhecido por Warren Buffet, mas que também seria subscrito por George Soros, seu grande rival;  num tempo de esforços desmedidos para a despolitização da política através, principalmente, da imposição da horizontalidade movimentista contra o caráter orgânico, vertical, do partido político, os trechos  citados são portanto essenciais para nutrir o debate sobre a questão que se impõe:
POR QUE E PARA QUE NECESSITAMOS DE UM PSOL?

Sim, por que diante do conceito leninista, sempre atual para a esquerda revolucionária, de que a ação se determina a partir da análise concreta da situação concreta, nenhum debate mais profundo, que anteceda o estabelecimento de táticas e de precisão sobre o objetivo estratégico de um partido político pode se omitir de resposta a essa pergunta.
Não pode se omitir principalmente se levamos em conta esse contexto citado acima, em que um  dito “neoliberalismo progressista” pretende se impor invadindo mentes e corações de segmentos que, décadas atrás, não hesitavam em sua vinculação com a luta anticapitalista. E que hoje abrigam suas guinadas numa afirmação tentada há mais de um século sobre o fim da dicotomia direita/esquerda.
Uma negação que Daniel Bensaid, sempre lúcido revolucionário referencial, enfrenta nos teoremas e corolários do seu “Os Irredutíveis”, afirmando que “a política é irredutível à ética e à estética”, tanto quanto “a luta de classes é irredutível às identidades comunitárias”. Ousadia que vem na linha de outro pensador inquestionável, seu antecessor no embate revolucionário, George Lukacs, no seu indispensável “História e Consciência de Classe” – ao afirmar que “a totalidade é a categoria fundamental da realidade”.
Ou seja, o que vem de Luckacs e Bensaid é que tanto os partidos necessitam dos movimentos da sociedade civil progressistas, quanto estes necessitam dos partidos no contexto atual em que as deliberações definitivas se dão, incontestavelmente, e a despeito do que isso tenha de pouco romântico, no plano de lutas institucionais.
Mas o que vem de Zizeck é que nos anima, por ilustrar , nos exemplos de Bernie Sanders, Melenchon, Jeremy Corbyn , Pablo Igesias e, mais próximo a nós, Evo Morales, a eficácia da transparência na radicalidade anticapitalista de suas campanhas e propostas, como eixo da amplitude de suas influências políticas. Na aposta ousada no otimismo da vontade.
Não é pouca coisa, neste início de século em que idéias e conceitos fundados em Marx e seus protagonistas posteriores eram dados como mortos. Não é pouca coisa neste período mais recente, em que a ascensão de correntes que se julgavam definitivamente extirpadas com o fim da II Guerra Mundial, ameaçassem retorno acintoso em vários países da Europa.
Vale considerar um dos processos pelo que traduz de inimaginável quando de seu começo, para ilustrar a formulação. Quem conhece minimamente a realidade americana religiosamente conservadora,  no máximo liberal, só compreende o espaço ocupado por  Sanders se concordar que a extrema ousadia da vontade se impôs , sem perder os limites da razão, no estabelecimento da linha de campanha, claramente anti-WallStreet. Claramente anticapitalista.
Essa experiência nos Estados Unidos, assim como as da Europa e a da América do Sul, é que nos deve servir de norte. E há razões objetivas na realidade brasileira.
NOSSA REALIDADE
Vivemos um momento “interessante” no que isso pode significar de perigoso e, simultaneamente, esperançoso., já que o quadro é menos preocupante do que o desenhado nas mobilizações pelo impeachment de Dilma. Naquele então, uma direita reacionária, truculenta, se afirmava, confirmando-se nos aterrorizadores resultados das eleições municipais,  principalmente no Rio e em S.Paulo.
Não é esse o quadro atual, embora ainda não tenhamos o que festejar. Houve o golpe. Mas não houve ascensão institucional do fascismo, a despeito do factoide bolsonariano que, assim como seus correspondentes internacionais, não passa de um fenômeno condicionado à sua limitada capacidade mental quando se iniciam os verdadeiros debates decisivos.
Dito isto, passemos às alternativas concretas, e à determinação de caminhos e instrumentos para a materialização de propostas anticapitalistas no nosso contexto.
UM ANO DA MAIOR IMPORTÂNCIA
2018 será um ano decisivo. Ano em que, para além da renovação dos parlamentos legislativos da União e dos Estados, nos defrontamos com o único momento em que movimentos sociais e Partidos se concentram no debate que corre o País de norte a sul sobre modelo de sociedade; no debate sobre regime e modelo de sociedade sob o qual queremos viver.
É o momento da disputa presidencial.
Preocupação eleitoreira? Não. Disputa concreta sobre o espaço que se oferece para a conquista de hegemonia no controle do aparelho do Estado. Caminho institucional que pode abrir caminhos para a desconstrução e superação do regime capitalista, sob o qual não cessamos de abrir atalhos para a barbárie. Momento em que, como sempre afirmou Melenchon em suas campanhas, devemos transformar o voto do escrutínio secreto em ferramenta revolucionária.
Nas  hipóteses que se apresentam, o PSOL vive um momento de extrema responsabilidade. Pelo desempenho extraordinário de suas bancadas parlamentares, com especial importância da federal por conta dos grandes temas que enfrentou e enfrenta, a legenda se tornou maior do que a sua própria estrutura interna permite abarcar.
Mas tal expressividade não suplanta o que a realidade objetiva impõe. É o debate determinante, sobre modelo de sociedade que o povo brasileiro vota na eleição presidencial. Na conjuntura atual, decisão sobre como entramos nessa campanha não depende apenas de nós, se nos propomos à grande política e não somente às quizílias internas, sem levar em conta fatores determinantes alheios a nosso controle. O trecho do “18 Brumário” citado na abertura nos ensina. Ou seja; o cenário do embate não pode deixar de levar a conta o item fundamental  para a deliberação final: a presença, ou não, de Luis Inacio Lula da Silva na disputa.
CAMPANHA PRESIDENCIAL e PROPOSTAS
LULA SERÁ CANDIDATO? Se for, é para compor com o que chama de “centro”, personificado em reacionários sob investigação, tais como Renans e Meirelles. Pelo que tem sido tornado público, principalmente por sua intervenção no congresso do PT, em junho, a perspectiva não é alvissareira. A forma como se empenhou na imposição do nome de Gleisi Hoffman para a direção do partido, contra a candidatura de Lindbergh Farias, que como senador não votou projetos regressivos enviados por Dilma, deixou isso ainda mais evidente
Por seu próprio discurso, mas principalmente pela rápida saudação de Gleisi, fica claro que no passado não se toca. Nada a corrigir; só a proteger.
Por esse caminho,  o PSOL tem a obrigação de lançar uma candidatura própria, que traduza de forma transparente um programa anticapitalista, naquilo que hoje se apresenta como necessidade inadiável. É obrigação, contra qualquer ameaça de busca de um “mal menor”, que a história recente tem comprovado ser apenas o caminho para o mal com nosso aval. Um nome capaz de dar luz a promessas exequíveis, mas sem fugir ao confronto com os mantenedores, explícitos ou dissimulados, do status quo.

Democratização dos Meios de Comunicação que operam sob concessão de Direito Público - Rádios e TVS- ; Reforma Política democratizante, abrindo espaços aos controle social do aparelho do Estado; Reforma Tributária que cancele as isenções dadas aos maganos e estabeleça uma verdadeira justiça distributiva de encargos e o estabelecimento de controle sob o sistema financeiro privado, cortando-lhe asas no domínio que exerceu, desde a vaga neoliberal de FHC até os dias atuais, sobre o Banco Central. Cancelamento de todos os projetos regressivos dos governos Dilma e Michel Temer.
Esses seriam itens básicos, que pautariam nossa candidatura como alternativa à esquerda..

MAS SE LULA NÃO FOR candidato, o lançamento de candidatura própria do PSOL não se justifica. Pode assumir caráter divisionista, pois dificilmente qualquer candidato da legenda conseguiria se transformar em polo aglutinador da esquerda contra uma candidatura apoiada por Lula. Ciro Gomes, para citar o mais provável.
Nesse caso, o PSOL se afirmaria como referencial, se tivesse a ousadia de oferecer sua legenda a uma candidatura externa. Uma  candidatura de um nome expressivo do movimento social, ao qual o partido forneceria uma "filiação democrática". Uma filiação que deixasse claro a colocação da legenda à disposição de uma candidatura de toda uma esquerda disposta ao combate real contra os avanços da direita. Uma candidatura que atraísse a base social do PT, tanto a ativa quanto a que se afastou por ceticismo, e que não aceitaria mais uma aliança com um “centro” idealizado por Lula . E que mobilizasse a sociedade civil organizada em suas diversas correntes fora dos partidos políticos.
O PSOL, sozinho, e independentemente dos excelentes nomes que poderia apresentar, não seria o polo aglutinador. Um nome saído do movimento social, sem filiação partidária anterior, seria o ideal.
Para tanto, teríamos que ter a visão corajosa da Grande Política. Sem se perder em quizílias internas. Sendo radical na visão da prioridade da luta de classes efetiva contra a direita reacionária, com objetivo claro de consolidar o campo de esquerda, contra uma direita que, certamente, não terá nomes expressivos para garantir vitória antecipada, como até bem pouco cogitava.
Só depende de nós.
Luta que Segue!!