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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Paul Singer explica transformismo do PT, de luta, em neoPT, da moderação

Paul Singer, economista renomado e fundador do PT, avalia positivamente o tardio controle de fluxos cambiais que o governo enfim implementa.  Mas o mais deimportante está no bojo da matéria, onde Singer resume as razões do retrocesso ideológico do PT - ao qual continua filiado -, hoje numa posição mais moderada do que a do governo Cristina Kirchner, na Argentina,  cujos compromissos de campanha sempre foram bem mais modestos dos que os proclamados pela longa história de lutas do saudoso PT. 
Segue a íntegra da entrevista que Paul Singer concedeu ao Valor Econômico:


Singer, 80 anos, recomenda ao Brasil imitar a Argentina

Por Fernando Exman | De Brasília
Ruy Baron/Valor / Ruy Baron/ValorPaul Singer: alertas sobre processo de desindustrialização são exagerados, mas há um risco inflacionário devido à situação de pleno emprego no país

O economista Paul Singer chegou, sábado, aos 80 anos de idade com um patrimônio pessoal raro: nas últimas décadas, o atual secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho conviveu, trabalhou ou compartilhou sua vida acadêmica com alguns dos principais nomes da história brasileira contemporânea. Tal ativo lhe dá a segurança necessária para defender posições polêmicas. Ele demonstra entusiasmo com o atual momento do país e não faz reparo nenhum à condução da economia pelo governo Dilma Rousseff. Sustenta, por outro lado, que a política econômica argentina deveria servir de modelo ao Brasil. No âmbito político, não deixa por menos: constata que o PT, partido que ajudou a fundar, vive num impasse devido ao fato de hoje contar nos seus quadros com "políticos profissionais".
Singer foi aluno do ex-ministro Delfim Netto na Universidade de São Paulo (USP). Após o golpe militar, teve de deixar a instituição e ajudou a fundar o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) com outros professores universitários, entre eles o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Anos depois, participou da fundação do PT e integrou a equipe que elaborou os sucessivos programas econômicos do partido.
Militou ao lado do então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva e outros personagens que mais tarde escalaram alguns dos postos mais importantes na cena política e econômica do país. Lula tornou-se presidente da República. Fernando Haddad, a quem orientou num mestrado, virou ministro da Educação e é o candidato petista à Prefeitura de São Paulo.
Na Secretaria de Planejamento da prefeitura paulistana, Guido Mantega foi seu chefe de gabinete durante o governo de Luiza Erundina. Mas os dois perderam o contato. Durante o governo Lula, Singer até conseguiu marcar uma reunião com o ministro da Fazenda. Logo no início do encontro, Mantega foi interrompido por um assessor. Era um chamado do presidente e os dois nunca mais despacharam. "Ele não tem tempo. Acho que continuo amigo dele, apesar de não estarmos juntos", disse Singer em entrevista ao Valor.
Mesmo assim, o professor identificado ao socialismo não economiza elogios aos integrantes da equipe econômica. Ele avalia ser este o melhor momento da história brasileira que presenciou desde sua chegada ao país, aos oito anos, após sair da Áustria com sua família por causa da ascensão nazista. Singer é um entusiasta do Brasil Sem Miséria, "resultado de um acúmulo de experiências" que tem promovido distribuição de renda e dado aos mais pobres a economia solidária como uma opção para sair da miséria. Está também animado com a possibilidade de cooperativas também passarem a ser beneficiadas pelo Super Simples.
O economista classifica de exagerados os alertas de que há em curso um processo de desindustrialização no Brasil. De um lado, aponta um risco inflacionário devido à situação de "pleno emprego". Do outro, diz que a pressão sobre os salários não é muito forte. Para ele, a taxa de juros real deveria ser de 2% a 3% ao ano e a taxa de câmbio, entre R$ 2,00 e R$ 2,50.
Singer já criticou a política econômica dos governos petistas, assim como também se dá a liberdade para criticar o amigo FHC. Diz, por exemplo, que a sorte do país foi FHC não ter privatizado todos os bancos públicos. Hoje, pondera, os bancos estatais são instrumentos essenciais para a redução dos juros e a elevação da oferta de crédito. Assume, porém, que "felizmente" estava enganado ao prever o fracasso do Plano Real.
"A grande mudança [na política econômica] é o controle dos fluxos de capital especulativo, que são muito destrutivos. Enquanto o Antonio Palocci era o nosso ministro da Fazenda, isso não se pensava, embora o PT tenha proposto isso em campanha após campanha em que fomos derrotados", destacou. "Isso começou já no governo Lula, quando o Guido Mantega substituiu o Palocci. Com esse controle, temos condições de manter a taxa de câmbio que o governo considera necessária. Acho um absurdo o país não poder controlar o valor da própria moeda."
Singer argumenta que o modelo da Argentina poderia servir de receituário para o Brasil: proteção da indústria, total controle do câmbio e um maior crescimento. "Eles fazem políticas que o PT sempre defendeu. Eu não estou sendo original. Eles têm mais força para isso, ela [Cristina Kirchner, presidente da Argentina] está afrontando o latifúndio lá, coisa que o Lula optou por não fazer aqui. A Dilma também não quis, mas agora ela tem que enfrentar por causa da questão do Código Florestal, que é muito importante", sublinhou, evitando polêmica sobre as suspeitas de maquiagem dos índices de inflação oficiais da Argentina.
Singer espera que o PT se regenere. "O partido está num impasse, porque uma parte dele transformou-se em políticos profissionais, o que no inicio do PT seria visto com horror. Muita gente dentro do PT é obrigada a ganhar eleições ou está na rua da amargura", diz.
O economista vê como saída a criação de limites para a reeleição de parlamentares e uma maior presença de jovens e mulheres na direção da sigla. "Isso é o normal na política brasileira: a pessoa acaba se profissionalizando na política e a partir daí o seu interesse individual o leva a fazer concessões. Os grandes ideais passam a ser secundários. É por isso que o PT acabou fazendo alianças sem nenhum critério."
Secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho desde 2003, Singer discorda da análise segundo a qual o PT só conseguiu chegar ao poder depois de "acalmar" o mercado financeiro com a Carta aos Brasileiros. O documento foi redigido por seu filho André, conta, jornalista assessor de Lula que depois foi nomeado porta-voz. Diz que não deu importância quando viu o texto antes de sua divulgação e acabou surpreendido com seu impacto. "Se ele (Lula) não tivesse feito isso, também ganharia a eleição."

quarta-feira, 28 de março de 2012

Oposição síria racha em reunião financiada pela Turquia e o Quatar

Financiados pela Arábia Saudita e pelo Quatar, com patrocínio logístico do reacionário e religioso governo turco (que reprime e assassina a comunidade curda, sem protestos da ONU), a oposição síria se revela em seu caráter sabujo e fragmentado. Não tem projeto além da deposição de Assad e, a considerar seus "apoiadores", só pretende substituí-lo para eliminar exatamente o que a Siria tem de positivo - o governo laico, sem submissão aos interesses imperialistas na região -. 
Não tem nenhum compromisso com a necessária reforma democrática do regime, preconizada pelo Partido Comunista Sirio, que se opõe ao autoritarismo do governo Assad, mas não se mistura nessa verdadeira "formação de quadrilha". Quem denuncia esse autoritarismo previsível é um dos membros do Conselho, que se retirou da reuinião denunciando a falta de democracia nas deliberações. Siria transformada numa nova edição das barbarizadas Libia e Iraque, é tudo com que sonham Israel e Estados Unidos 


Segue a matéria do El Pais, jornal espanhol ferrenhamente opositor a Assad, portanto insuspeito::


La oposición siria no logra formar un frente contra El Asad

Tras dos días de reuniones en Estambul, 300 delegados tuvieron que aceptar una nueva derrota. No consiguieron sobreponerse a sus diferencias.

Líderes de la oposición siria reunidos en Estambul. / BULENT KILIC (AFP)

Un año después del inicio de la revuelta siria, los grupos de la oposición son incapaces de formar un frente común que les permita presentarse como una alternativa eficiente al régimen del presidente sirio Bachar el Assad. Ayer por la noche, tras dos días de reuniones en un hotel a las afueras de Estambul, 300 delegados y opositores sirios tuvieron que aceptar una nueva derrota. No consiguieron sobreponerse a sus diferencias. Ni siquiera consiguieron alcanzar un acuerdo de mínimos en una reunión marcada por enfrentamiento entre el Consejo Nacional Sirio, grupos opositores kurdos y activistas de peso.
Invitados por Turquía y Qatar, que ostenta la presidencia rotatoria de la Liga Árabe, la reunión marca la agenda de una semana cuyo plato fuerte es el cónclave del Grupo de Amigos de Siria, que se celebra este domingo en Estambul. Para entonces la oposición siria debería mostrarse como una alternativa coherente y unida para poder contar con apoyo internacional. El resultado de ayer, unido a últimas oleadas de disidentes dentro del Consejo Nacional Sirio (CNS), la organización paraguas que agrupa el mayor número de opositores, ponen en dificultades este objetivo. El desencanto por el liderazgo, la falta de democracia en los procesos internos y sobretodo, el excesivo peso de los Hermanos Musulmanes dentro del CNS son los principales motivos que alegan los disidentes para abandonar la organización.
La falta de consenso dentro de los miembros de la oposición se pudo observar desde el inicio en Estambul. Comenzó con Haitham al Maleh. Maleh, un letrado sirio y activista histórico que pasó varios años en prisión durante la era de Asad y de su padre, abandonó la reunión tras el discurso inaugural del presidente de CNS, Burhan Ghalioun. Según Maleh, el CNS está acaparando demasiado poder y obvia las peticiones de los otros grupos opositores. “ Quiero ver al consejo comportarse de una forma democrática. Hasta ahora se están comportando como el Partido Baath (el partido de El Asad)” aseguró Maleh, que abandonó el CNS hace un mes, a Reuters
Después llegó el turno a los partidos kurdos, que protestaron por la negativa de CNS a abordar de forma explícita sus deseos de tener una región federal–autónoma en el Siria post-Asad. “ Si no llegamos a un acuerdo ahora, estas cuestiones serán más complicadas después de la caída del régimen” aseguró Abdulhakim Basar, del Consejo Nacional Kurdo, a Reuters. “Tenemos miedo de una posible guerra interna entre las diferentes facciones sirias. Por eso preferimos llegar a un acuerdo para evitarlo. Siria tiene que ser para todos los sirios sin discriminación”, dijo Abdulhakim Basar
Horas antes, el presidente del Consejo Nacional Sirio, Gahlioun, había anunciado un plan de acción del Consejo que incluye el respaldo internacional a las protestas pacíficas así como el envío de armamento a los combatientes del Ejercito Sirio Libre. Gahlioun también abogó por la adopción de un “juramento nacional” en el que toda la oposición se comprometiera a la creación de un Estado democrático, basado en la reconciliación nacional y no en la búsqueda de venganza. El proyecto se quedó sin apoyos fuera del CNS. La heterogeneidad de posturas de la oposición paraliza la adopción de cualquier propuesta conjunta. Peor aun, alimenta los temores de que Siria pueda padecer un conflicto sectario tras la caída del gobierno de Bachar el Asad.

EUA e a derrota anunciada no Afeganistão, com sequelas imprevisíveis no Paquistão

Difícil imaginar uma vitória da supermáquina de guerra americana depois da Segunda Guerra Mundial. Conseguiu algumas, de forma indireta, com a instalação das ditaduras assassinas na América Latina, no contraponto da vaga progressista que o continente ameaçou empreender contra os interesses das grandes multinacionais nos diversos países da região, na segunda metade do século passado - o governo democrático de João Goulart e a experiência socialista pelas vias institucionais, de Salvador Allende, em destaque.
Mas, diretamente, produto de intervenção direta de suas tropas, o que se pode contar? A minúscula Granada? A tragédia do Iraque, civilização milenar ora reduzida à quase barbárie? A destruição da Iugoslávia, via OTAN?
Não são vitórias. 
São passivos históricos que se somam à derrota vergonhosa no VietNam, ou na tentativa da derrocada da Revolução Cubana, na Baia de Porcos.
A estas últimas, uma já se soma de forma vertiginosa, no Afeganistão, com consequências imprevisíveis no vizinho Paquistão, onde a produção de armas nucleares bancada inicialmente pelos Estados Unidos, começa a lhe escapar ao controle. E quem afirma isso é o insuspeita ensaio publicado no Financial Times. Importante de considerar, por tratar-se de análise a partir de uma visão conservadora, onde se pauta a intervenção imperialista no Afeganistão como algo concernente apenas à já desmoralizada "guerra ao terror" da ideologia bush-cheney, sem cogitar do pano de fundo real: uma invasão condicionada aos  interesses das corporações petroleiras norte-americanas nas quais ambos, bush e cheney, cresceram como operadores diretos.
Vale a leitura da íntegra, reproduzida no Valor Econômico de 28/03:



O Ocidente perdeu no Afeganistão

Por Gideon Rachman | Financial Times
Cinco anos atrás, os americanos recusavam-se a conversar com os talebans. Agora os talebans estão se recusando a falar com os americanos. Essa é uma medida de como mudou o equilíbrio de poder no Afeganistão. A intervenção ocidental fracassou. Agora que a Otan prepara-se para deixar o país, em 2014, é apenas a dimensão da derrota que resta para ser determinada.
Uma alta autoridade paquistanesa comentou ironicamente: "Eu me lembro de quando os americanos costumavam dizer que o único taleban bom era um talibã morto. À época, o discurso deles era sobre a distinção entre o conciliável e o irreconciliável. Agora, eles dizem: o Taleban não é nosso inimigo". Na realidade, as forças da Otan e do Taleban, a milícia extremista islâmica, são ainda inimigos no campo de batalha. Mas, em um esforço desesperado para deixar o legado de um Afeganistão estável, os EUA e seus aliados também estão se empenhando em incluir o Taleban no processo político.
No entanto, os talebans não têm nenhuma pressa para negociar - e, recentemente, romperam as conversações. Agora que as tropas ocidentais estão a caminho da saída, há pouca pressão para que eles façam concessões.
Embora tenha sido a presença da Al Qaeda que levou a Otan ao Afeganistão, a natureza abominável do regime taleban deu ao combate uma dimensão moral extra. Os políticos ocidentais que visitavam o país sempre se mostravam ansiosos em visitar uma recém-inaugurada escola para meninas - e em enfatizar o progresso dos direitos das mulheres.
Os americanos insistem que a participação do Taleban no processo político continua dependente de eles aceitarem a atual Constituição afegã, que contém todo tipo de proteção dos direitos humanos e defesa da igualdade de gênero. Mas o Afeganistão nunca respeitou as palavras no papel. Nas palavras de um ministro de Relações Exteriores da UE: "Na verdade, três quartos da população não consegue ler a Constituição porque é analfabeto".
Mesmo sob o atual governo, a situação das mulheres afegãs é bastante sombria. Na semana passada, a organização Human Rights Watch divulgou um relatório destacando as centenas de mulheres que estão atualmente presas no Afeganistão por "crimes morais", como resistir a casamentos forçados ou até mesmo queixar-se de estupros. Mas houve avanços também para as mulheres, sobretudo nas escolas e nas cidades - e esses progressos provavelmente ficarão ameaçados quando o Taleban recuperar influência. Para Hillary Clinton, que incluiu a defesa dos direitos das mulheres em sua agenda no Departamento de Estado dos EUA, essa deve ser uma pílula particularmente amarga.
A realidade, porém, é que ao matar Osama bin Laden, no ano passado, o governo dos EUA encerrou um capítulo nessa história, o que lhe permitiria justificar uma retirada do Afeganistão. Os objetivos da Otan para o país são agora mínimos e totalmente concentrados em segurança: o Afeganistão nunca mais deverá proporcionar refúgio a terroristas - e o país não deve tornar-se um "Estado falido".
Até mesmo esses objetivos mínimos poderão não ser alcançados. O foco dos esforços da Otan foi treinar e equipar as forças de segurança afegãs para que elas pudessem assumir o lugar das tropas ocidentais. Mas as despesas militares afegãs somam US$ 8 bilhões a US$ 9 bilhões por ano. Estará o Ocidente disposto a continuar injetando tanto dinheiro no Afeganistão - com tantas demandas concorrentes para esse dinheiro? Se não, como disse Carl Bildt, ministro das Relações Exteriores sueco no fórum deste fim de semana em Bruxelas: "Teremos dado treinamento e armas a 100 mil pessoas, e depois as desempregamos".
Mesmo que o establishment militar afegão se mantenha coeso, é bastante provável que o país mergulhe numa guerra civil. Isso, por sua vez, provavelmente continuará a radicalizar ainda mais o Taleban paquistanês - devido aos vínculos tribais, militares e religiosos nos dois lados da fronteira.
Quando o presidente Barack Obama assumiu o poder, ele, reservadamente, rotulou o Paquistão de "país mais assustador do mundo" - e insistiu em que o problema afegão não pode ser separado do destino de seu vizinho muito maior; daí a insistência no horrível termo "AfePaqui". Na pressa de tirar as tropas ocidentais do Afeganistão, no entanto, o problema do Paquistão corre o risco de ser negligenciado.
Isso também é um erro, porque a situação no Paquistão é tão assustadora como quando Obama assumiu o poder. Carl Bildt, que recentemente visitou o país, descreve-o como possuído por uma "onda de histeria antiamericana". Esse ânimo só vai piorar, diante da notícia, divulgada no fim de semana, de que nenhum militar americano terá de defender-se de acusações envolvendo o ataque aéreo da Otan que matou 24 soldados paquistaneses em novembro passado.
A ideia de que os EUA estão conspirando para apoderar-se das armas nucleares paquistanesas tornou-se uma obsessão tanto para os meios de comunicação paquistaneses como para grande parte da classe dirigente do país. Em resposta, o Paquistão está intensificando produção de armas nucleares e distribuindo-as por todo o país. Dada a radicalização da opinião pública paquistanesa e a quantidade de material físsil que está sendo produzida, o pesadelo americano de armas nucleares "à solta" está parecendo desconfortavelmente realista.
Em consequência, os EUA continuam profundamente engajados na luta contra o terrorismo no sul da Ásia. Mas os ataques de aeronaves não tripuladas contra jihadistas nas áreas tribais do Paquistão - que foram a fonte dos maiores êxitos americanos - são uma faca de dois gumes. Eles devastaram a liderança da Al Qaeda. Mas também alimentaram a desenfreada onda antiamericana que poderá produzir a próxima geração de terroristas.
Como diz uma alta autoridade paquistanesa: "O número três da Al Qaeda foi morto pelo menos cinco vezes. Mas há sempre um novo número três. É a mentalidade que fomenta a Al Qaeda que precisa ser derrotada". Infelizmente, essa mentalidade está de novo em ascensão, tanto no Paquistão e como Afeganistão.

terça-feira, 27 de março de 2012

Papa anticomunista vai a Cuba e condena capitalismo predador

Papa anticomunista vai a Cuba e, em seu discurso, cita necessidade de sociedade aberta e justa, condenando o capitalismo "selvagem". Não gosto dessa qualificação, porque selvagens não eram predadores; essência típica do regime hegemonizado pelo grande capital especulativo. Mas, de qualquer forma, essa visita do Papa é um reconhecimento formal de que Cuba tem que ser respeitada. E que é absurdo imaginar a existência de uma ditadura repressiv, numa sociedade fundada em alto nível de culturl, educação e informação científica. Ou alguém é capaz de imaginar que um povo provado no confronto com invasão armada, bloqueio econômico radical, para além de asfixia financeira, 20 anos depois do fim da União Soviética, se mantenha no regime socialista por opressão de um aparelho de Estado supostamente policial? 
Reformas são necessárias? Claro. E é o que Raul Castro deixou claro em sua intervenção. Mas sem concessões ao capitalismo predador. 

Seguem os discursos do Papa e de Raul Castro:

Discurso de Raúl Castro: “En nombre de la Nación, le doy la más calurosa bienvenida” (+ Fotos y Video)

26 Marzo 2012 36 Comentarios
Raúl recibe a Benedicto XVI en Santiago de Cuba. Foto: Ismael Francisco/ Cubadebate
Raúl recibe a Benedicto XVI en Santiago de Cuba. Foto: Ismael Francisco/ Cubadebate
Palabras del Presidente cubano Raúl Castro al ofrecer la bienvenida en Santiago de Cuba a su Santidad Benedicto XVI.
Santidad:
Cuba lo recibe con afecto y respeto y se siente honrada con su presencia. Encontrará aquí a un pueblo solidario e instruido que se ha propuesto alcanzar toda la justicia y ha hecho grandes sacrificios.
De Martí aprendimos a rendir culto a la dignidad plena del hombre y heredamos la fraterna fórmula que seguimos hasta hoy: “con todos y para el bien de todos”.
Cintio Vitier, insigne intelectual y cristiano, escribió que “el verdadero rostro de la Patria… es el rostro de la justicia y de la libertad” y que “la Nación no tiene otra alternativa: o es independiente o deja de ser en absoluto”.
La potencia más poderosa que ha conocido la Historia ha intentado despojarnos, infructuosamente, del derecho a la libertad, a la paz y a la justicia. Con virtud patriótica y principios éticos el pueblo cubano ha hecho tenaz resistencia, sabiendo que ejercemos también un derecho legítimo cuando seguimos nuestro propio camino, defendemos nuestra cultura y la enriquecemos con el aporte de las ideas más avanzadas.
Sin razón, a Cuba se le calumnia, pero nosotros confiamos en que la verdad, de la que jamás nos apartamos, siempre se abre paso.
Catorce años después que el Papa Juan Pablo II nos visitara, el bloqueo económico, político y mediático contra Cuba persiste e, incluso, se ha endurecido en el sector financiero. Como aparece en el memorando norteamericano del 6 de abril de 1960, desclasificado décadas después, su objetivo sigue siendo (cito)      “… causar hambre, desesperación y el derrocamiento del gobierno”.
Sin embargo, la Nación ha seguido, invariablemente, cambiando todo lo que deba ser cambiado, conforme a las más altas aspiraciones del pueblo cubano y con la libre participación de este en las decisiones trascendentales de nuestra sociedad, incluidas las económicas y sociales que en casi todo el mundo son patrimonio de estrechas élites políticas y financieras.
Varias generaciones de compatriotas se han unido en la lucha por elevados ideales y nobles objetivos. Hemos enfrentado carencias, pero nunca faltado al deber de compartir con los que tienen menos.
Sólo como demostración de cuánto se podría hacer si prevaleciera la solidaridad, menciono que en la última década, con la ayuda de Cuba se han preparado decenas de miles de médicos de otros países, se ha devuelto o mejorado la visión a 2,2 millones de personas de bajos ingresos y se ha contribuido a enseñar a leer y escribir a 5,8 millones de analfabetos. Puedo asegurarle que, dentro de las modestas posibilidades de que disponemos, nuestra cooperación internacional continuará.
Santidad:
Conmemoramos el IV Centenario del hallazgo y la presencia de la imagen de la Virgen de la Caridad del Cobre, que lleva bordado en su manto el escudo nacional.
La reciente peregrinación de la Virgen por todo el país, unió a nuestro pueblo, creyentes y no creyentes, en un acontecimiento de gran significado.
Le aguardan Santiago de Cuba, que ha sido protagonista de gloriosos episodios en la historia de luchas de los cubanos por su definitiva independencia y también el poblado del Cobre, donde la Corona española tuvo que conceder la libertad a los esclavos sublevados en las minas, ochenta años antes de la abolición de tan infame institución en nuestro país.
Nos satisfacen  las estrechas relaciones entre la Santa Sede y Cuba, que se han desarrollado sin interrupción durante setenta y seis años, siempre basadas en el respeto mutuo y en la coincidencia en asuntos vitales para la Humanidad.
Nuestro gobierno y la Iglesia Católica, Apostólica y Romana en Cuba mantenemos buenas relaciones.
La Constitución cubana consagra y garantiza la plena libertad religiosa de todos los ciudadanos y, sobre esa base, el gobierno guarda buenas relaciones con todas las religiones e instituciones religiosas en nuestro país.
Santidad:
Hace casi veinte años que Fidel sorprendió a muchos al proclamar que “una importante especie biológica está en riesgo de desaparecer por la rápida y progresiva liquidación de sus condiciones naturales de vida: el hombre” concluyó.
Hay crecientes amenazas a la paz y la existencia de enormes arsenales nucleares es otro grave peligro para el ser humano. El agua o los alimentos serán, después de los hidrocarburos, la causa de las próximas guerras de despojo. Con los recursos que se dedican a producir mortíferas armas, podría eliminarse la pobreza. El desarrollo vertiginoso de la ciencia y la tecnología no se encuentra al servicio de la solución de los grandes problemas que aquejan a los seres humanos. Frecuentemente sirven para crear reflejos condicionados o para manipular a la opinión pública. Las finanzas son un poder opresivo.
En vez de la solidaridad, se generaliza una crisis sistémica, provocada por el consumo irracional en las sociedades opulentas. Una ínfima parte de la población acumula enormes riquezas mientras crecen los pobres, los hambrientos, los enfermos sin atención y los desamparados.
En el mundo industrializado, los “indignados” no soportan más la injusticia y, especialmente entre los jóvenes, crece la desconfianza en modelos sociales e ideologías que destruyen los valores espirituales y producen exclusión y egoísmo.
Es cierto que la crisis global tiene también una dimensión moral y que prevalece la falta de conexión entre los gobiernos y los ciudadanos a los que dicen servir. La corrupción de la política y la falta de verdadera democracia son males de nuestro tiempo.
En estos y otros temas apreciamos coincidencia con sus ideas.
Frente a tantos desafíos, Nuestra América se une en su soberanía e intenta una integración más solidaria para hacer realidad el sueño bicentenario de sus Próceres.
Su Santidad podrá dirigirse a un pueblo de convicciones profundas que le escuchará atento y respetuoso.
En nombre de la Nación, le doy la más calurosa bienvenida.
Muchas gracias.

Palabras del Papa Benedicto XVI a su llegada a Cuba

Señor Presidente, Señores Cardenales y Hermanos en el Episcopado, Excelentísimas Autoridades, Miembros del Cuerpo Diplomático, Señores y señoras, Queridos amigos cubanos:
Le agradezco, Señor Presidente, su acogida y sus corteses palabras de bienvenida, con las que ha querido transmitir también los sentimientos de respeto de parte del gobierno y el pueblo cubano hacia el Sucesor de Pedro. Saludo a las Autoridades que nos acompañan, así como a los miembros del Cuerpo Diplomático aquí presentes. Dirijo un caluroso saludo al Señor Arzobispo de Santiago de Cuba y Presidente de la Conferencia Episcopal, Monseñor Dionisio Guillermo García Ibáñez, al Señor Arzobispo de La Habana, Cardenal Jaime Ortega y Alamino, y a los demás hermanos Obispos de Cuba, a los que manifiesto toda mi cercanía espiritual. Saludo en fin con todo el afecto de mi corazón a los fieles de la Iglesia católica en Cuba, a los queridos habitantes de esta hermosa isla y a todos los cubanos, allá donde se encuentren. Los tengo siempre muy presentes en mi corazón y en mi oración, y más aún en los días en que se acercaba el momento tan deseado de visitarles, y que gracias a la bondad divina he podido realizar.
Al hallarme entre ustedes, no puedo dejar de recordar la histórica visita a Cuba de mi Predecesor, el Beato Juan Pablo II, que ha dejado una huella imborrable en el alma de los cubanos. Para muchos, creyentes o no, su ejemplo y sus enseñanzas constituyen una guía luminosa que les orienta tanto en la vida personal como en la actuación pública al servicio del bien común de la Nación. En efecto, su paso por la isla fue como una suave brisa de aire fresco que dio nuevo vigor a la Iglesia en Cuba, despertando en muchos una renovada conciencia de la importancia de la fe, alentando a abrir los corazones a Cristo, al mismo tiempo que alumbró la esperanza e impulsó el deseo de trabajar audazmente por un futuro mejor. Uno de los frutos importantes de aquella visita fue la inauguración de una nueva etapa en las relaciones entre la Iglesia y el Estado cubano, con un espíritu de mayor colaboración y confianza, si bien todavía quedan muchos aspectos en los que se puede y debe avanzar, especialmente por cuanto se refiere a la aportación imprescindible que la religión está llamada a desempeñar en el ámbito público de la sociedad.
Me complace vivamente unirme a vuestra alegría con motivo de la celebración del cuatrocientos aniversario del hallazgo de la bendita imagen de la Virgen de la Caridad del Cobre. Su entrañable figura ha estado desde el principio muy presente tanto en la vida personal de los cubanos como en los grandes acontecimientos del País, de modo muy particular durante su independencia, siendo venerada por todos como verdadera madre del pueblo cubano. La devoción a “la Virgen Mambisa” ha sostenido la fe y ha alentado la defensa y promoción de cuanto dignifica la condición humana y sus derechos fundamentales; y continúa haciéndolo aún hoy con más fuerza, dando así testimonio visible de la fecundidad de la predicación del evangelio en estas tierras, y de las profundas raíces cristianas que conforman la identidad más honda del alma cubana. Siguiendo la estela de tantos peregrinos a lo largo de estos siglos, también yo deseo ir a El Cobre a postrarme a los pies de la Madre de Dios, para agradecerle sus desvelos por todos sus hijos cubanos y pedirle su intercesión para que guíe los destinos de esta amada Nación por los caminos de la justicia, la paz, la libertad y la reconciliación.
Vengo a Cuba como peregrino de la caridad, para confirmar a mis hermanos en la fe y alentarles en la esperanza, que nace de la presencia del amor de Dios en nuestras vidas. Llevo en mi corazón las justas aspiraciones y legítimos deseos de todos los cubanos, dondequiera que se encuentren, sus sufrimientos y alegrías, sus preocupaciones y anhelos más nobles, y de modo especial de los jóvenes y los ancianos, de los adolescentes y los niños, de los enfermos y los trabajadores, de los presos y sus familiares, así como de los pobres y necesitados.
Muchas partes del mundo viven hoy un momento de especial dificultad económica, que no pocos concuerdan en situar en una profunda crisis de tipo espiritual y moral, que ha dejado al hombre vacío de valores y desprotegido frente a la ambición y el egoísmo de ciertos poderes que no tienen en cuenta el bien auténtico de las personas y las familias. No se puede seguir por más tiempo en la misma dirección cultural y moral que ha causado la dolorosa situación que tantos experimentan. En cambio, el progreso verdadero tiene necesidad de una ética que coloque en el centro a la persona humana y tenga en cuenta sus exigencias más auténticas, de modo especial su dimensión espiritual y religiosa. Por eso, en el corazón y el pensamiento de muchos, se abre paso cada vez más la certeza de que la regeneración de las sociedades y del mundo requiere hombres rectos, de firmes convicciones morales y altos valores de fondo que no sean manipulables por estrechos intereses, y que respondan a la naturaleza inmutable y trascendente del ser humano.
Queridos amigos, estoy convencido de que Cuba, en este momento especialmente importante de su historia, está mirando ya al mañana, y para ello se esfuerza por renovar y ensanchar sus horizontes, a lo que cooperará ese inmenso patrimonio de valores espirituales y morales que han ido conformando su identidad más genuina, y que se encuentran esculpidos en la obra y la vida de muchos insignes padres de la patria, como el Beato José Olallo y Valdés, el Siervo de Dios Félix Varela o el prócer José Martí. La Iglesia, por su parte, ha sabido contribuir diligentemente al cultivo de esos valores mediante su generosa y abnegada misión pastoral, y renueva sus propósitos de seguir trabajando sin descanso por servir mejor a todos los cubanos.
Ruego al Señor que bendiga copiosamente a esta tierra y a sus hijos, en particular a los que se sienten desfavorecidos, a los marginados y a cuantos sufren en el cuerpo o en el espíritu, al mismo tiempo que, por intercesión de Nuestra Señora de la Caridad del Cobre, conceda a todos un futuro lleno de esperanza, solidaridad y concordia.
Muchas gracias.

sábado, 24 de março de 2012

"Tsunamis" não se combatem com muros de areia

Dilma se assusta com o "tsunami financeiro" que prevê, com os imensos recursos públicos colocados à disposição dos bancos privados transnacionais na Europa, à custa do arrocho dos direitos sociais conquistados pelos segmentos assalariados ao longo de décadas. " Entre cidadãos e instituições financeiras, os governos conservadores não hesitam. Ficam com as instituições", como afirma  David Harvey.
No artigo que se segue, o economista e radialista Paulo Passarinho (apresentador do Faixa Livre), disseca as razões da pouca eficácia  que as medidas pretendidas por Dilma possam ter na contenção dessa,  vaga especulativa. Mostra como as opções macroeconômicas privilegiando, no Brasil, os maganos do dito "livre mercado", geradas no neoliberalismo da década de 90, e mantidas pelo lulopragmatismo, criaram raízes difíceis de serem removidas, sem mudanças estruturais que o atual governo certamente não tomará.

Tsunamis
Paulo Passarinho
Dilma Rousseff e Guido Mantega reclamam do tsunami financeiro, provocado pelas sucessivas emissões monetárias dos europeus para salvar os seus bancos. Os dirigentes brasileiros se preocupam com o processo de valorização do real frente ao dólar. Acham que a culpa vem de fora e especialmente da torrente de euros que as injeções de recursos financeiros, promovida pelo Banco Central europeu, provocam, na medida em que uma parte dessa imensa massa de recursos procura oportunidades de aplicações em países como o Brasil.
Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq - Associação Brasileira da Indústria de Máquinas, denuncia, por sua vez, o tsunami de importados, pois, com o dólar barato – consequência da maciça entrada de recursos estrangeiros no país e da inevitável valorização do real – comprar bens finais, peças ou equipamentos no exterior passa a ser um melhor negócio do que produzi-los internamente. A resultante dessa história é a chamada desindustrialização da economia brasileira.
Dilma e Guido também têm com o que se preocupar com os “importados”: a velocidade com que as despesas com importações de bens evolui, acaba por consumir boa parte das receitas de exportação do país, reduzindo o saldo comercial. Esse é um processo muito negativo para o Brasil. Com saldo comercial diminuto, o prejuízo de nossas transações com o exterior se amplia. Além de vender e comprar mercadorias no estrangeiro, o Brasil tem um enorme e crescente prejuízo com os serviços transacionados pelo país. A remessa de lucros e dividendos, o pagamento de juros, fretes e de viagens impõem despesas muito maiores do que receitas obtidas por empresas e pelo setor público nessas rubricas.
Em 2002, por exemplo, o saldo comercial do Brasil foi de US$ 13,1 bilhões e a conta de serviços nos deu um prejuízo de US$ 20,7 bilhões. Isto implicou um déficit de nossas transações correntes de US$ 7,6 bilhões. Já em 2006, o saldo comercial alcançou a cifra recorde de US$ 46,5 bilhões – graças à demanda chinesa, principalmente. Resultado mais do que importante, pois a conta deficitária de serviços já havia naquele ano alcançado US$ 32,9 bilhões (crescimento de 58,9% em relação a 2002). Apesar, portanto, da conta crescente e negativa dos serviços, ficamos no “azul” em nossas transações correntes com o mundo.
Esse comportamento das contas externas do país, ao longo do mandato de Lula, ao menos até a crise de 2008, foi importante. A margem de manobra do governo se ampliou e o país passou a apresentar taxas de crescimento um pouco melhores do que no período de FHC. Com um pouco mais de crescimento, o aumento da arrecadação fiscal permitiu a ampliação dos recursos destinados aos programas de transferência de renda aos miseráveis (“cuidar de pobre é barato”, segundo Lula), deu continuidade à política de reajustes reais do salário mínimo, com importante impacto também no valor do piso previdenciário e, principalmente, viabilizou a redução dos custos de captação de recursos externos, por bancos e empresas brasileiras.
Aproveitando-se do diferencial da taxa de juros e da melhor condição de risco do Brasil, pegar dinheiro lá fora e aplicar aqui no Brasil virou um grande negócio. A ampliação do mercado de crédito no país, por exemplo, em boa medida foi possível graças a essa situação das nossas contas externas.
Os dividendos políticos capitalizados pelo governo foram imensos. Apesar do vertiginoso crescimento do endividamento do país, provocado por esse modelo econômico, os resultados obtidos são superlativizados – especialmente pela mídia dominante, defensora arraigada da política econômica. Endividamento da União, através da dívida pública; endividamento externo – em dólares e euros - de empresas e bancos; e endividamento das famílias, com crediários e outras formas de financiamento.
Crescimento econômico pífio, em comparação com os países da América do Sul e os ditos emergentes; deterioração espantosa dos serviços públicos ou a patente incapacidade das instituições políticas darem respostas a problemas estruturais do país – da corrupção endêmica à Justiça que somente alcança aos ricos, com raríssimas exceções – parecem ser problemas inexistentes.
O problema é que tudo indica que esse transe em que nos encontramos terá um fim. A crise de 2008, longe de ser uma marolinha, mudou completamente aquele quadro de uma melhor situação das contas externas do país.  O saldo comercial despencou e o déficit da conta de serviços chegou, agora em 2011, a mais de US$ 82 bilhões.
O país volta a depender dos recursos especulativos dos estrangeiros e da venda de ativos ao capital externo para fechar as nossas contas externas. Por isso, as reclamações de Dilma ou de Guido devem ser relativizadas. Com relação ao presidente da Abimaq, suas reclamações são mais do que justas. De fato, com a inevitável entrada de produtos importados, finais ou intermediários, dada a valorização do real, o processo em curso acarreta não somente desindustrialização, mas, uma - mais forte, ainda - desnacionalização do parque produtivo do país.
O grande dilema é que Dilma e Guido são reféns políticos do modelo econômico dos bancos e das transnacionais, afinal, o principal fiador do badalado governo Lula e da própria eleição da primeira presidente do Brasil. As mudanças, por exemplo, para deter o processo de valorização do real – que vem de longe, diga-se de passagem – são muito limitadas e sempre atrasadas. Para o presidente da Abimaq, seus problemas são mais complexos. Conforme ele mesmo já admitiu, seus pares, empresários, conhecem muito bem o setor, possuem estruturas logísticas de comercialização de máquinas e equipamentos no país muito bem estruturadas, e não encontram muitas dificuldades em vender bens importados pelo país afora. Se não bastasse, ainda têm a alternativa de aplicações financeiras muito bem remuneradas pelo mercado financeiro, alimentadas e respaldadas pelo negócio da dívida pública.
Resumindo: com o pacto político que viabilizou o modelo econômico da abertura financeira e comercial do país, e que reúne políticos que vieram da esquerda e se somam à velha direita, e com o decisivo apoio de bancos, transnacionais e da mídia dominante, fica muito difícil acreditar em mudanças substantivas, necessárias, mas, até o momento, inviáveis.

22/03/2012

terça-feira, 20 de março de 2012

HRW denuncia crimes da oposição síria contra civis alauitas


A despeito das distorções jornalísticas da mídia conservadora mundial, em uníssono com a ONU, a OTAN e o Departamento de Estado norte-americano, a Human Rights Watch, que não poupou denúncias iniciais ao governo sírio no combate aos rebeldes que se levantaram na esteira dos episódios da Líbia e Egito, agora revela algo de extrema importânci. Denuncia as violências dessa oposição armada contra civis inocentes, trazendo indícios sobre a razão de estabilidade do governo de Damasco, a despeito dos longos confrontos.
É que na raiz da disputa não está tão evidente a questão democrática,como mote, mas, sim, uma guerra civil promovida pelos sunistas financiados pela Arabia Saudita e o Quatar, tentando reproduzir na Síria o que fizeram, com seus mercenários, seu financiamento e seus armamentos, na Líbia.
A HRW denuncia atrocidades dos ditos rebeldes contra civis e funcionários do governo, quando identificados como membros da facção muçulmana alauíta, à qual pertence o chefe de Estado, Bashar Al-Assad.
Para além da referência religiosa, no confronto entre alauitas e sunitas em território sírio, o que está realmente em pauta - daí a participação ativa das forças conservadoras ocidentais -  é a disputa de hegemonia política no Oriente Médio. De um lado, a reacionária e autoritária família Saud, proprietária privada do território que leva seu nome, e que lhe foi doado pelos ingleses nos anos 30 do século passado, como forma de garantir o controle das imensas reservas  petrolíferas da região em mãos das "Sete Irmãs". Os Saud exerceriam, com participação nos lucros, o papel sujo de capatazes repressores dos árabes que lutassem por soberania.
Não, por acaso, são eles, ao lado de Israel, os principais aliados das potências ocidentais no exercício de eliminar todos os que, na região, se oponham à hegemonia expansionista exercida pelos Estados Unidos, que tem sua base militar instalada no Quatar. Base militar, é claro, existente não para promover avanço pacífico na região, mas para garantir os interesses das corporações petrolíferas no Oriente Médio.
Nessa conjuntura, o governo sírio, a despeito de toda a tibieza em situações passadas - a passividade diante da ocupação ilega das estratégicas colinas de Golan pelo exército israelense -, preserva espaços de autonomia e de confrontação política a essa hegemonia ocidental, que sauditas e americanos consideram fundamental liquidar, como forma de deixar aberto o caminho de ataque ao Irã. E que justificam posições de forças realmente democráticas, que lutam contra os excessos do poder atual que distorce o programa inicial do Partido Baath, como o Partido Comunista, exigindo reformas profundas, mas não se aliando com os ditos "rebeldes" que ora pedem a intervenção estrangeira explícita no processo.

Segue a matéria do Le Monde sobre as denúncias da HRW

Syrie : HWR dénonce des violences des rebelles, combats sporadiques à Damas

Le Monde.fr avec AFP | • Mis à jour le
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Des membres de l'Armée syrienne libre à Idlib, le 11 mars 2012.
Dans une lettre rendue publique et adressée au Conseil national syrien et aux leaders des autres groupes de l'opposition syrienne, Human Rights Watch dénonce, mardi 20 mars, de graves abus - kidnapping, détention, torture de membres des forces de sécurité ainsi que des milices gouvernementales, les shabeehas - commis par des combattants rebelles. L'ONG pointe également des exécutions par des rebelles armés de membres des forces de sécurité et de civils.
HWR appelle les leaders de l'opposition syrienne à condamner fermement ces exactions. Selon des témoignages recueillis par l'ONG, certaines de ces attaques étaient motivées par un sentiment anti-alaouite. "Les méthodes brutales et violentes du gouvernement syrien ne justifient en rien des mauvais traitements de la part des combattants rebelles armés", rappelle Sarah Leah Whitson, directrice de HWR au Proche-Orient.
Sur le terrain, des combats sporadiques opposaient à Damas mardi des soldats de l'armée régulière aux déserteurs de l'Armée syrienne libre, tandis que les troupes poursuivaient leurs opérations à travers le pays, provoquant la mort d'au moins neuf civils.
Un militant sur place a affirmé que des tirs étaient entendus à l'aube dans la capitale, tandis que les Comités locaux de coordination (LCC, qui animent la contestation sur le terrain) ont affirmé que des "tirs nourris résonnaient en direction de la place Arnous depuis le boulevard de Bagdad", dans le centre de Damas. De son côté, l'Observatoire syrien des droits de l'homme (OSDH) a affirmé que des tirs étaient entendus dans les quartiers de Barzé et de Qaboun, en périphérie.
MILITARISATION CROISSANTE
Ailleurs dans le pays, quatre civils au moins ont été tués par une roquette tombée sur leur maison de Khaldiyé, à Homs (Centre), ainsi que trois autres à Rastane dans les mêmes circonstances. A Hama (Centre), un civil a été abattu à la mitrailleuse lourde et une dizaine de personnes ont été blessées dans plusieurs quartiers, selon l'OSDH. Dans la province de Deir Ezzor (Est), un homme est mort touché par un tir des forces gouvernementales qui menaient des perquisitions.
Alors que la révolte populaire hostile au régime du président Bachar Al-Assad est entrée dans sa deuxième année, elle se militarise et l'opposition ainsi que plusieurs pays, notamment du Golfe, appellent à armer les déserteurs regroupés dans l'ASL, qui multiplient les affrontements avec l'armée. Un soldat de l'armée régulière a ainsi été tué par des rebelles à l'aube dans la région de Deraa (Sud). Lundi, cinquante et une personnes avaient trouvé la mort, dont vingt-deux civils, vingt et un membres des forces de l'ordre et huit rebelles.


domingo, 18 de março de 2012

Evo Morales denuncia falsidade "ambientalista" na ação do grande capital

Impressionante como a mídia conservadora brasileira só se preocupa com América Latina para fazer campanha desestabilizadora de governos que se afirmam pela defesa de suas soberanias nacionai. Principalmente quando não se submetem aos ditames de dependência "globalizada" aos países centrais do regime capitalista.
É o caso deste pronunciamento de Evo Morales, definidor de uma posição política e ideológica absolutamente corajosa. Então, ao leitor brasileiro, é necessário recorrer à mídia independente da Argentina para poder dele tomar conhecimento. Sim, mídia independente, pois a saber o que é reproduzido no Brasil, a impressão é de lá só existirem os conservadores La Nacion e Clarin. Ambos absolutamente engajados em apoios às correntes mais direitistas da Argentina. Pois não é assim. Pagina 12 é independente e tem importância no cenário político no País. E é dele que extraimos a matéria sobre as últimas denúncias de Evo Morales contra a ação do grande capital exposta abaixo.
Matéria onde ele se define como " antiimperialista, anticapitalista y antineoliberal";

Evo Morales: "El ambientalismo es el nuevo colonialismo"

 "QUIERO ADVERTIR QUE NO TENGO MIEDO"
Pagina 12- 18/03/12
Al asegurar que "la derecha no tiene una propuesta política, democrática, estructural o social", el presidente de Bolivia recordó el conflicto por la construcción de la carretera por el Territorio Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS), y señaló que "los enemigos históricos del movimiento indígena se presentan como defensores del medio ambiente cuando sus políticas nunca estuvieron dirigidas a su preservación". Además, consideró cerrar la embajada de Estados Unidos en el país "si siguen molestando".
"La derecha se adhiere a los conflictos que se presentan en algunas regiones o sectores, para desgastar al Gobierno", advirtió Morales en una reunión del oficialista Movimiento Al Socialismo (MAS), en Cochabamba. "Cuando se presenta un problema de límites toda la derecha está ahí, para magnificar se meten ahí, profundizar y enfrentar a los propios compañeros", continuó.
Además, indicó que "el capitalismo trata de pagar su enorme deuda, en el caso de los países altamente industrializados, con la apropiación del petróleo y el invento de la lucha contra el terrorismo y el narcotráfico para la creación de convulsión interna planificada y organizada desde el exterior".
"Yo quiero advertir públicamente que no tengo ningún miedo. Si otra vez la Embajada de Estados Unidos sigue molestando a Bolivia como está haciendo hasta ahora, mejor la cerramos porque somos antiimperialistas, anticapitalistas y antineoliberales", enfatizó Evo.
Bolivia y Estados Unidos carecen de embajadores en sus respectivas capitales desde que Morales expulsara en octubre de 2008 al delegado norteamericano en La Paz, Philp Goldberg, por presunta injerencia en temas políticos. La relación bilateral se tensó aún más cuando, poco después, puso fin al trabajo de la agencia antidroga estadounidense DEA en el país andino.

Fisk: "Massacre no Afeganistão não foi loucura"

Artigo de Robert Fisk reitera a tese que defendemos quando noticiado o massacre de 16 afegãos por um sargento da tropa de ocupação norte americana. Não se trataria de uma explosão de loucura mas, sim, de comportamento lógico, consequente da lavagem ideológica a que são submetidos os militares em guerra a serviço dos interesses das grandes corporações do complexo industrial-militar-petrolífero.
Com sua experiência, lembra episódios anteriores - inclusive do exército de Israel, contra civis na cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada -. e se pergunta: "por que os ataques de loucura nunca se dão contra seus superiores; somente contra populações civis dos territórios ocupados?"

Segue a íntegra do artigo de Fisk, traduzido em Cubadebate


La masacre en Afganistán no fue locura

18 Marzo 2012 Haga un comentario
Robert Bales (extrema derecha), el sargento estadunidense acusado de matar a 16 civiles en la provincia afgana de Kandahar, en una imagen escolar correspondiente al ciclo 1990-91 y difundida ayer por el diario The Cincinnati Enquirer, en esa ciudad del estado de Ohio. Foto Ap
Robert Bales (extrema derecha), el sargento estadunidense acusado de matar a 16 civiles en la provincia afgana de Kandahar, en una imagen escolar correspondiente al ciclo 1990-91 y difundida ayer por el diario The Cincinnati Enquirer, en esa ciudad del estado de Ohio. Foto Ap
Empieza a cansarme este cuento del soldado demente. Era predecible, por supuesto. No bien el sargento de 38 años que masacró el domingo pasado a 16 civiles afganos, entre ellos nueve niños, cerca de Kandahar, regresó a su base, ya los expertos en defensa y los chicos y chicas de los centros de pensamiento anunciaban que había enloquecido. No era un perverso terrorista sin entrañas -como sería, desde luego, si hubiera sido afgano, en especial talibán-, sino sólo un tipo que se volvió loco.
Esa misma tontería se usó para describir a los soldados estadunidenses homicidas que perpetraron una orgía de sangre en la ciudad iraquí de Haditha. Con la misma palabra se describió al soldado israelí Baruch Goldstein, quien masacró a 25 palestinos en Hebrón, algo que hice notar en este mismo periódico apenas unas horas antes de que el sargento enloqueciera de pronto en la provincia de Kandahar.
Al parecer enloqueció, anunciaron periodistas. Un hombre “que probablemente había sufrido algún colapso (The Guardian)”, un soldado rufián (Financial Times) cuyo disturbio (The New York Times) fue sin duda (sic) perpetrado en un rapto de locura (Le Figaro).
¿De veras? ¿Se supone que creamos eso? Claro, si hubiera estado loco por completo, nuestro sargento habría matado a 16 de sus compañeros estadunidenses. Habría asesinado a sus camaradas y después prendido fuego a los cuerpos. Pero no, no mató a estadunidenses; escogió matar a afganos. Hubo una elección. ¿Por qué, entonces, mató a afganos?
Existe una pista interesante en todo esto, la cual no hubiera aparecido en los informes de los medios. De hecho, la narración de los hechos ha sido curiosamente lobotomizada -censurada, incluso- por quienes han tratado de explicar la atroz masacre en Kandahar. Recordaron la quema de ejemplares del Corán -cuando soldados estadunidenses en Bagram los arrojaron a una hoguera- y las muertes de seis soldados de la OTAN, dos de ellos estadunidenses, que vinieron después. Pero vuélenme en pedazos si no olvidaron -y esto se aplica a todas las notas informativas sobre la reciente matanza- una declaración notable y sumamente significativa del comandante en jefe del ejército estadunidense en Afganistán, el general John Allen, hace exactamente 22 días. De hecho, fue una declaración tan inusitada que recorté las palabras en mi periódico matutino y puse el recorte en mi maletín para referencia futura.
Allen dijo a sus hombres: Ésta no es la hora de la venganza por las muertes de los soldados estadunidenses muertos en los disturbios del jueves. Les advirtió que debían resistir cualquier urgencia que sientan de devolver el golpe, luego de que un soldado afgano dio muerte a los dos estadunidenses. “Habrá momentos como éste en que estarán ustedes buscando el significado de estas muertes -continuó-. Momentos como éste, en que sus emociones serán gobernadas por la rabia y el deseo de desquite. Ésta no es la hora de la venganza; es la hora de mirar al fondo de su alma, de recordar su misión, recordar su disciplina, recordar quiénes son ustedes.”
Fue un llamado extraordinario, viniendo del comandante en jefe de Estados Unidos en Afganistán. El general se vio precisado a decir a su ejército, supuestamente bien disciplinado, profesional, de élite, que no cobrara venganza en los afganos a los que supuestamente está ayudando/protegiendo/educando/adiestrando, etc. Tuvo que decir a sus soldados que no cometieran asesinatos.
Sé que los generales decían esas cosas en Vietnam. Pero, ¿en Afganistán? ¿Han llegado las cosas a ese extremo? Me temo que sí. Porque, por mucho que me disgustan los generales, he tratado con muchos de ellos en persona y, en general, tienen una idea bastante acertada de lo que ocurre en sus filas. Y sospecho que el general John Allen ya había sido advertido por sus oficiales de que sus soldados estaban furiosos por las muertes que vinieron después de la quema de los ejemplares del Corán y tal vez habían decidido emprender una escalada de venganza. Por eso trató de un modo tan desesperado -en una declaración tan impactante como reveladora- de prevenir una masacre exactamente como la que ocurrió el domingo pasado.
Sin embargo, ese mensaje fue borrado por completo de la memoria de los expertos cuando analizaron esa matanza. No se permitió en sus relatos ninguna alusión a las palabras del general Allen, ninguna referencia, porque, desde luego, eso habría sacado a nuestro sargento del grupo de los enloquecidos y le habría dado un posible motivo para la masacre. Como de costumbre, los periodistas tuvieron que meterse a la cama con los militares para procrear un demente y no un asesino. Pobre tipo: andaba mal de la cabeza. No sabía lo que hacía. No es extraño que lo hayan sacado de Afganistán tan rápido.
Todos hemos tenido nuestras masacres. Ahí está My Lai, y nuestro propio My Lai británico, en una aldea malaya llamada Batang Kali, donde los guardias escoceses -envueltos en un conflicto contra despiadados insurgentes comunistas- asesinaron a 24 indefensos trabajadores del hule, en 1948. Claro, se puede aducir que los franceses en Argelia fueron peores que los estadunidenses en Afganistán -se dice que una unidad francesa de artillería desapareció a 2 mil argelinos en seis meses-, pero eso es tanto como decir que somos mejores que Saddam Hussein. Cierto, pero vaya parámetro de moralidad.
De eso se trata todo esto. Disciplina. Moralidad. Valor. El valor de no matar en venganza. Pero cuando uno va perdiendo una guerra que finge estar ganando -me refiero a Afganistán, por supuesto-, supongo que eso es esperar demasiado. Parece que el general Allen perdió su tiempo.
(Tomado de La Jornada. © The Independent. Traducción: Jorge Anaya)

sexta-feira, 16 de março de 2012

IPEA acende luz amarela quanto à qualidade de desenvolvimento atual

Antes que algum fundamentalista do neoPT estrile, aviso: a notícia é dada pelo próprio portal oficial do IPEA, órgão hoje totalmente desvinculado da submissão incondicional aos preceitos neoliberais do período correspondente ao governo FHC. É, portanto, para ser levada a sério, na avaliação desse retrocesso brasileiro à condição de exportador de matéria prima, por conta da acelerada desintustrialização vigente.

Segue a íntegra:

15/03/2012 17:57
Índice traz alerta sobre desenvolvimento do país

Mensurada ao longo de 2011, a qualidade do desenvolvimento brasileiro apresentou instabilidade
O desempenho da qualidade do desenvolvimento do Brasil ao longo de 2011 reflete um cenário de estagnação e instabilidade, e o ano é de alerta. A constatação foi feita nesta quinta-feira, 15, na coletiva de lançamento do Comunicado 139 – Evolução do Índice de Qualidade do Desenvolvimento em 2011. O assessor técnico da Presidência do Ipea, André Calixtre, afirmou que o IQD é mais uma das pesquisas que têm apontado uma constante redução do desenvolvimento e de sua qualidade, que tem se acentuou nos últimos meses. “Não há tendência clara de queda, mas é um alerta”, definiu Calixtre.
Houve relativa estabilidade do índice em 2011, que começou com 280,78 em janeiro, atingiu o mínimo de 259,44 em março e seu máximo em 277,91 em agosto. Depois disso, com poucas variações, o índice fechou o ano em 269,35.
“O país estagna na sua dinâmica de desenvolvimento”, declarou André Viana, pesquisador que apresentou o estudo. O Índice de Qualidade do Crescimento (IQC), um dos componentes do IQD, foi o que mais variou, começando o ano em 279,71 e terminando em 251,14. “Não temos como dizer se esta melhorando ou piorando o padrão qualitativo da produção e atuação da indústria. Não há nenhum indicador que nos dê real dimensão se estamos evoluindo favoravelmente na industrialização, além da massa salarial”, explicou.
Mercado internacional
No ano passado o Índice de Qualidade da Inserção Externa (IQIE) voltou a se recuperar em relação a 2009 e 2010. Sai de 216 pontos em janeiro e chega a 256,76 em outubro. Em dezembro o índice registrou 243,24 pontos. Viana atribuiu o bom desempenho ao grande investimento externo e à melhoria dos termos de troca a partir de fevereiro, o que só foi interrompido em dezembro. Apesar de as reservas internacionais apresentarem tendência de aumento, a fraca participação das manufaturas na pauta exportadora e o grande volume de recursos enviados ao exterior por empresas estrangeiras instaladas no Brasil prejudicaram o desempenho do índice.
Destaque positivo
Embora em queda, o Índice de Qualidade do Bem-Estar (IQBE) se manteve estável. A taxa de desenvolvimento aumentou no primeiro semestre e se estabilizou no meio do ano, voltando a melhorar em agosto. Ocorreu uma melhora quase constante no número de pessoas carteira assinada. A taxa de pobreza reduziu de 23% para 21% da população brasileira. Índice de Gini também diminuiu, mas de forma errática. “Embora haja melhora, não há um comportamento estável, mas a área social ainda sustenta a qualidade do desenvolvimento”, destacou André Viana.
Metodologia
Calixtre adiantou que o IQD continuará sendo calculado pelo Ipea, e que a pesquisa passará por melhorias metodológicas. Segundo ele, o índice “é um dos poucos que incorpora a questão ambiental na análise do desenvolvimento”. A intenção é aumentar o peso do componente para dar maior dimensão ao desenvolvimento sustentável.
“Não adianta apenas avaliar se estamos crescendo, mas onde estamos. Claramente, 2011 é um ano de alerta, de grande instabilidade. Mas a instabilidade do desenvolvimento brasileiro no pós-2010 é diferente daquela que existia na década de 1990. Hoje as variações se dão em uma conjuntura positiva”, considerou Calixtre.
Leia a íntegra do Comunicado 139 - Evolução do Índice de Qualidade do Desenvolvimento em 2011

quinta-feira, 15 de março de 2012

Dilma quer "Reforma Agrária" privatista, formando base social para a direita rural

Matéria sobre a posse do novo ministro da Reforma Agrária, Pepe Vargas, deputado federal do neoPT-RS, explicita uma gravíssima definição ideológica do governo Dilma Roussef. Reforma Agrária, sim, mas não para democratizar a propriedade rural, e sim para criar uma "classe média"  individualista e priviatista  no campo. Ou seja, longe da proposta histórica do MST- cuja liderança, a despeito de tudo, continua submissa aoatual  governo - não há prioridade para a regulamentação de assentamentos e liquidação de latifúndios. O objetivo é promover a formação de uma pequena burguesia no campo que, inevitavelmente, se transformará no mais reacionário setor social, em apoio de governos conservadores e autoritários.
Vale lembrar aqui o exemplo boliviano, a partir da implantação do capitalismo destruidor implementado durante o governo Paz Estensoro, nos anos 80,com cobertura dos economistas da escola de Chicago, condicionados aos conceitos de Milton Friedman. Os mesmos, mais tarde, implementados no Chile pela ditadura Pinochet.
Paz Estensoro, é bom lembrar, havia sido, nos anos 50, o líder de uma reforma agrária, feita na "marra", que gerou essa pequena burguesia rural corresondente à que Dilma agora pretende consolidar no modelo a ser tocado por seu novo ministro. Uma pequena burguesia que, nos anos 80,  se mobilizou para ajudar a reprimir violentamente os mineiros que resistiam à vaga neoliberal então imposta. 
É isso que teremos no Brasil, caso lideranças do MST, como Stédile. continuem se limitando a reconhecer, em artigos, a necessidade de mudança de comportamento dos governos lulopragmáticos,  sem no entanto, na prática, deixar de dar apoio a este governo, por conta da bolsa-família e da cesta básica entorpecedora a cosnciência combativa dos militantes dos asssentamentos. Lastimável


Segue a íntegra da matéria publicada hoje no Valor Econômico


Dilma prefere formar classe média rural a aumentar assentamentos

Por Fernando Exman e Yvna Sousa | Brasília
Alan%20Marques%2FFolhapress / Alan%20Marques%2FFolhapressDilma abraça Vargas: "Queremos pequenos proprietários com tecnologia"
A presidente Dilma Rousseff aproveitou ontem a cerimônia de posse do novo ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, para deixar claro qual é a sua política para o setor: em vez de priorizar apenas a distribuição de terras, o governo buscará reduzir a pobreza no campo por meio de mecanismos que aumentem a produção da agricultura familiar. Dilma anunciou ainda que o governo lançará, nos próximos dias, um programa de qualificação da população rural batizado de Pronacampo.
O deputado Pepe Vargas (PT-RS), novo titular do Ministério do Desenvolvimento Agrário, reforçou o discurso de Dilma. Logo destacou em sua fala que trabalhará pela formação de uma grande classe média rural. Afirmou ainda que o Ministério do Desenvolvimento Agrário deve ser visto como um ministério do "desenvolvimento econômico". O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no entanto, voltou a cobrar do Executivo maior celeridade no assentamento das milhares de famílias que continuam sem acesso à terra. Vargas substituiu Afonso Florence (PT-BA), que retorna à Câmara dos Deputados.
"A política de assentamentos vai perseguir a ideia de que a gente deve priorizar as regiões onde temos populações de extrema pobreza. A reforma agrária tem esse sentido. É lógico que significa assentar, mas significa também dotar os assentamentos de condições para o seu desenvolvimento produtivo. Do contrário, de nada adianta jogar o pessoal na terra sem dar condições de produzir", explicou Vargas. "Isso significa um maior volume de recursos. No ano de 2011, o volume de recursos investidos nos assentamentos foi maior do que nos anos anteriores. O número de assentados um pouco menor porque se buscou essa diretriz."
Para Dilma, o desenvolvimento da agricultura rural é essencial para que o Brasil se torne um país majoritariamente de classe média e o país consiga reduzir a extrema pobreza. "Esta nova lógica da agricultura familiar não olha a reforma agrária pura e simplesmente como distribuição de terra. Porque ela não pode ser só isso. A reforma agrária tem de ser a forma pela qual se garanta o acesso à terra, mas também se garanta as condições de desenvolvimento para as populações que acedem a essa terra", destacou a presidente. "Nós queremos pequenos proprietários que utilizem todos os ganhos de tecnologia da Embrapa para se transformarem em excepcionais produtores."
Mesmo assim, o MST sinalizou que não abrirá mão das manifestações pela aceleração da reforma agrária já agendadas para abril. Apenas do MST há 100 mil famílias acampadas à espera de lotes de terra, contabiliza a organização. "Não vai haver um desenvolvimento do campo se não destravar o problema da terra", criticou Alexandre Conceição, integrante da direção nacional do movimento.
Pepe Vargas assegurou que tentará ampliar o diálogo com os movimentos sociais do campo, que têm reclamado da falta de interlocução com o governo. Sua ideia é convocar uma reunião com representantes dessas entidades já na semana que vem.
A cerimônia contou com a presença de diversos ministros e parlamentares. Esteve presente também o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), padrinho político de Florence.
Em seu discurso, Afonso Florence tentou afastar os comentários de que fora exonerado porque a presidente não aprovava sua gestão. Disse que o Ministério do Desenvolvimento Agrário bateu todas as metas no ano passado, e narrou que ouvia aplausos quando falava dos diversos programas da Pasta em eventos país afora. "Criamos todos nós esse projeto e instrumentos de políticas públicas em que os resultados são incontestes", disse, saudando seus antecessores que estavam presentes à solenidade realizada no Palácio do Planalto.