O bom dia de domingo vem com o elogio a um "desafeto". Não a ele, especificamente, mas aos seus espaços cedidos a dois importantíssimos artigos, publicados na edição de ontem e de hoje.
No de ontem, a reprodução de mais uma reflexão de Paul Krugman, prêmio Nobel por descuido da comissão de neoliberais responsáveis pela escolha dos eleitos, fazendo a síntese da crueldade com que os governos conservadores da Europa insistem em tratar as crises conjunturais do capitalismo.
Krugman disseca, didaticamente, os acordos previsíveis, através dos quais mais do mesmo é que possivelmente será aplicado, independentemente da certeza da intranquilidade social crescente que produzirá. Mostra a diferença da saída americana para a crise de 29 - através da solução desenvolvimentista e geradora de empregos, elaborada por Keynes -, e a agora propugnada, com eixo oposto. Punindo a sociedade, transferindo-lhe onus insuportável, para que os verdadeiros responsáveis - as grandes corporações espaculativas do sistema financeiro globalizado - não se vejam prejudicadas em um cêntimo sequer na contabilização de seus privilegiados lucros.
Na edição de hoje, Dorrit Harrazim, uma das poucas expressões de jornalismo de alto nível internacional que nossas redações possam ter produzido, mostra de forma objetiva como uma nova ordem criminosa pode estar se estabelecendo no mundo - nascida em Bush, mas mantida por meios bem mais sofisticados pelo seu "liberal"sucessor Obama - através das novas armas sofisticadas.
Dorrit parte das imagens traumáticas e revoltantes que retrataram os últimos momentos de Kadaffi e seu filho antes de serem submetidos ao linchamento e à execução sumária que lhes foram impostas pela tropa de rebeldes "libertários" da Líbia, para chegar à forma sofisticada, de mãos limpas, com que os Estados Unidos vêm eliminando - com imensos danos colaterais - aqueles que considera seus principais inimigos na dita "guerra ao terror".
Ela conclui com o desdobramento previsível da aplicação dos Veículos Aéreos Não Tripulados - aviões sem piloto, com poderosíssimos equipamentos de geração de imagem que lhe permitem operação a continentes de distância, por "pilotos" alojados em salas do Pentágono, a partir de onde disparam mísseis de alto poder destrutivo. Ilustra com o assassinato do talibã Mehsud, no terraço da casa do sogro, com a família em volta e o tio médico lhe aplicando uma injeção intravenosa por conta de tratamento de uma enfermidade de pâncreas, após filmagem nítida por um desses equipamentos, e disparo dos projéteis certeiros que liquidaram eke e todos à volta, em cena aberta.
Após reconhecer a dificuldade do controle de represálias numa guerra civil, faz a reflexão final de forma pedagógica: "Encrenca nova é um estado de direito declarar uma guerra sem fronteiras. E em nome dela sair matando inimigos mundo afora. Sem sequer manchar os dedos".
Os dois artigos foram publicados pelo Globo, um 1% louvável, numa espécie de compensação não compensável dos 99% restantes de noticiário ideologicamente ideologizado pela visão reacionária da empresa. Mas fica o elogio por conta do domingo.
NESTE DOMINGO MERGULHANDO UMPORCENTO VAMOS APROVEITAR
ResponderExcluirOBRIGADA PELO PASSEIO JORNALÍSTICO.E IMAGINAR QUE OUTROS EXISTAM SÓ NÃO PODEM CHEGAR AINDA À TONA.
MILTON AMIGO FELICIDADE VASCAINAS DE UMA TRICOLORA HOJE ALEGRE BEIJOS THEREZA BULHÕES
Milton, quanto ao Kadaffi, gostaria que me explicasse melhor o porque de algumas correntes de esquerda defenderem ele e algumas o condenarem, eu na minha concepção achava e acho o kadaffi um baita ditador, mas necessário para manter o radicalismo fundamentalista controlado assim como o Bashar al asad faz na Síria, onde direitos das mulheres e as leis não são regidas pela Sharia. Vejo partidos como o PSTU defendendo a deposição e morte de kadaffi e partidos como o PCB contra a deposição do Kadaffi por causa do perfil socialista do mesmo, Milton qual a posição do seu partido e sua quanto ao Kadaffi? fica confuso essas diferenças dentro da esquerda quanto a um regime como o do Kadaffi e do Bashar, eu e muitos do PT defendemos que um país não deve sofrer intervenções externas e sim deve resolver da forma que for seus problemas e conflitos, ou a OTAN é a polícia do mundo agora e ninguém é mais autônomo?
ResponderExcluirMuito boa a resenha, Milton. E a grandeza de não deixar de compartilhar o que merece sê-lo, mesmo com a marca do "desafeto". A Dorrit Harrazim é realmente das melhores que esse país produziu. Bom domingo!
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