Importante reflexão de Tariq Ali, indo fundo na avaliação dos movimentos "indignados", muito mais voltados para uma ação perfomática segmentada do que com a confrontação direta do sistema capitalista contra o qual se pronunciam.
Vem na linha dos que preconizam a necessidade de compreender que assembléias "horizontais", concentradas na condenação da vida política institucional, mas sem nenhuma perspectiva concreta de disputa do poder real, termina por levar água ao moinho dos conservadores
Segue a íntegra da entrevista ao Brasil de Fato
Vem na linha dos que preconizam a necessidade de compreender que assembléias "horizontais", concentradas na condenação da vida política institucional, mas sem nenhuma perspectiva concreta de disputa do poder real, termina por levar água ao moinho dos conservadores
Segue a íntegra da entrevista ao Brasil de Fato
O escritor analisa
as movimentações políticas que sacodem a conjuntura internacional
Brasil de Fato 21/12/2011
Heloisa Gimenez, Marcio Rabat e Vinicius
Mansur,
de Brasília (DF)-
Tariq Ali
- Foto: Reprodução
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Com uma fala tranquila, tão simples quanto ampla, o
paquistanês Tariq Ali domina como poucos os processos políticos, em escala
planetária, que colocam a ordem contra a parede. Em entrevista exclusiva ao
Brasil de Fato, seu olhar analítico percorreu a Primavera Árabe, dividiu as
mobilizações nos países desenvolvidos – EUA e Europa – entre simbólicas e
massivas, valorou a América do Sul como o processo mais radical até agora –
dentro do capitalismo – e ponderou as possibilidades de transição sistêmica no
continente, além de buscar conexões da luta global contra o capitalismo.
Confira a entrevista.
Brasil de Fato – Em uma entrevista recente,
o senhor disse que, diferentemente da resistência na América do Sul durante o
final do século 20 e começo do 21, os países da chamada “Primavera Árabe” não
produziram organizações políticas. Então, quais são as forças políticas que
devem emergir nesses países com a queda dos governos? Há semelhanças entre
elas?
Tariq Ali – Aqui na
América do Sul tivemos movimentos sociais conectando-se, criando novos
movimentos políticos, organizações políticas, disputando eleições e chegando ao
poder – isso é o importante e completamente novo: tomar o poder a partir do
sistema democrático eleitoral. No mundo árabe tivemos grandes levantamentos,
mas não produziram uma nova formação política. Na Tunísia e no Egito ocorreu
que as organizações políticas que haviam sido reprimidas voltaram a aparecer,
principalmente, as islamistas. Então, os novos personagens, os jovens que
criaram os movimentos agora, ficaram sem voz política. A escala dos movimentos
foi imensa, mas não produziram nada e, por isso, o exército no Egito pode tomar
o poder novamente.
Na Tunísia os islamistas ganharam as eleições. Agora,
existe um grande equívoco sobre esses partidos. As pessoas automaticamente
pensam em terroristas, extremistas, fundamentalistas, mas esses partidos
islamistas são religiosos, socialmente conservadores, como os democratas
cristãos da Europa e os partidos dominados pela Igreja Católica em outros lugares
do mundo. É muito importante pôr isso em perspectiva. Os partidos apoiados por
luteranos e católicos existem em diferentes lugares do mundo ocidental e são
aceitos, mas quando os islamistas são eleitos, todo o mundo fica nervoso. Eu
não concordo com esses partidos, mas há que se aceitar seu direito a ganhar
eleições e que as pessoas aprendam através de suas próprias experiências.
No Egito, se são feitas eleições livres, é provável que
a Irmandade [Muçulmana] ganhe. Calculo que tenham aproximadamente 40% do
eleitorado, ou seja, podem formar um governo se o exército e os EUA permitirem.
Se houver mudanças na Síria, algo similar acontecerá.
É importante entender a razão disso. De 1976 a 1989/90,
a esquerda e os nacionalistas foram erradicados do mundo árabe pelos
estadunidenses, em aliança com os islamistas – estes sim, islamistas duros.
Então, existe um vazio e novos tipos de grupos islamistas estão surgindo. No
Egito e na Tunísia, a esquerda está tentando organizar novos movimentos,
partidos e esperemos que tenham êxito, mas até agora não tem forças, são
pequenos, assim como em todo o mundo árabe.
O que há de comum entre esses levantamentos
e as mobilizações recentes da Europa e EUA, além de serem contemporâneos?
Há dois movimentos diferentes. Um são os movimentos nos
EUA e Reino Unido, que são essencialmente movimentos de protesto simbólico,
ocupando espaços públicos e se mantêm só nisso. Mas são muito importantes
porque, ao menos, algo está acontecendo, são movimentos em uma etapa muito
embrionária, pequenos, principalmente de jovens, às vezes alguns sindicalistas,
e esse é seu alcance, simbólico. Não sabemos o que acontecerá com eles. Os EUA
são imensos como o Brasil, não é tão fácil organizar- se, e, na minha opinião –
e isso eu disse à ocupação em Oakland –, é extremadamente importante convocar
uma assembleia popular de todos os movimentos para discutir como avançar. Do
contrário, se diluirão, esse é meu temor.
Outro tipo de movimento está na Espanha e Grécia, que
foram movimentos imensos, não somente protestos simbólicos. Na Espanha houve
imensas ocupações em Madri, Barcelona e outras cidades, mas que não formularam
uma carta ou programa ainda que de limitadas exigências. É evidente que o
pensam, mas não o codificaram, não o puseram num plano que pudesse unir as
pessoas por um longo tempo. Por isso, apesar dos imensos movimentos, tivemos na
Espanha a vitória da direita nas eleições, os movimentos não participaram da
política porque dizem que “a política é suja, asquerosa, manchada”. Isso é um
problema porque ou se faz uma revolução – que não é possível neste momento – ou
se intervém no sistema político, tal como está, como na América do Sul, e
tenta-se mudá-lo com novas constituições ou seja lá o que for. Não fizeram, e a
Espanha é um grande fracasso.
Na Grécia houve seis greves gerais, movimentos massivos,
mas nada de resultados, e o país está entregue aos banqueiros, literalmente. Um
banqueiro foi nomeado para dirigir o país, de Papandreou a Papademos. Esse é um
acontecimento interessante na Europa: os partidos políticos tradicionais já não
podem dirigir o sistema. Então, agora são uma colônia da União Europeia e os
alemães e estadunidenses são quem decide: “Tudo bem, tomem o governo porque não
confiamos neles”. Isso é o que chamo de ditadura do capital que, de distintas
formas, é o “extremo centro”, composto pela centro-esquerda e centro-direita,
onde não importa quem está no poder, fazem exatamente as mesmas coisas. Contra
eles é preciso uma resposta política, caso contrário, os movimentos poderão ser
esmagados. Na minha opinião, era possível que os movimentos na Grécia tomassem
uma cidade. Eu disse a eles: “Tomem Tessalônica! Simplesmente tomem! Capturem!
Se a presença das massas é imensa, os militares não vão intervir. Convoquem uma
assembleia popular, tenham delegados de todas as áreas e elaborem um programa
para toda a Grécia e isso inspirará o mundo”.
Egípcios
reunidos na praça Tahrir, no Cairo - Foto: Reprodução
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Mas eles têm suficiente organização para isso?
Esse é o problema, poderiam ter feito. Creio que se
houvesse 500 ou 600 pessoas pensando com clareza… Na Grécia há a combinação de
mobilizações massivas e grupos escleróticos, atrofiados na esquerda. O Partido
Comunista do Exterior, o Partido Comunista do Interior, cinco dezenas de grupos
trotskistas que sequer podem se unir entre si, muito menos oferecer liderança
às massas.
E o que há de comum entre os movimentos dos
EUA e da Europa e os da Primavera Árabe?
A crise de 2008, do sistema Wall Street, ou seja, do
neoliberalismo, contra o qual os políticos não são capazes de lidar por causa
do “extremo centro”. Temos uma crise imensa e eles não fazem nada para desafiar
a vigência do neoliberalismo e capitalismo; seguem implementando as mesmas
políticas. Até economistas burgueses tradicionais os advertem que assim não se
resolverão os problemas, mas eles temem fazer mudanças e abrir espaço para mais
disputas.
Mas não é essa nossa esperança?
Sim, e sou otimista. Agora temos que dizer: só protestar
simbolicamente não é sufi ciente. Eles [neoliberais] estão plenamente
confiantes de que não existe uma alternativa a eles. Não importam os movimentos
de massas. Virão e passarão e, caso se tornem muito perigosos, podem ser
esmagados. A menos que haja uma crise terminal do capitalismo, os neoliberais
sempre se recuperarão. Por isso que muita gente no mundo tem esperanças
verdadeiras de que algo diferente possa sair da América do Sul.
O rompimento com o capitalismo não se dá
porque não há vontade popular ou porque não temos uma alternativa?
Acho que temos uma alternativa, mas as pessoas ainda
continuam um pouco traumatizadas pela queda da União Soviética e pela vitória
do capitalismo na China. Isso fez com que muita, muita gente, tenha medo de
propor alternativas. Acho que isso acabará, mas necessitamos um ou dois grandes
êxitos em algum lugar para mostrar que é possível construir um mundo e uma
economia que se desfaça completamente do capitalismo. Isso não aconteceu ainda.
Independentemente da solidariedade com os processos da Bolívia, Venezuela e
Equador, o capital permanece. E esse é o perigo para esses processos. A
situação na América do Sul é de transição, podendo ir além, num bom caminho, ou
retroceder, temos que estar conscientes disso.
Se olhamos objetivamente, o mundo está pedindo a gritos
um sistema diferente. Essa é a imensa tragédia e a contradição em todos os
níveis: na economia, nas condições de vida durante os últimos 20 anos, o
tamanho da classe trabalhadora mundial, que dizem que desapareceu, na verdade
passou de 1,6 bilhão nos anos de 1980 para mais de 3 bilhões agora, com a
entrada do capitalismo na China, na Rússia, a expansão na Índia e até no
Brasil. A classe trabalhadora mundial é imensa, mas está muito reprimida na
China, na Rússia, mas está aí.
Em segundo lugar, agora está claro que a maneira como
funciona o capitalismo degrada a ecologia do mundo e o clima. Qual é a solução?
A economia planejada, global ou regional, onde exista grande colaboração e
planejamento para salvar o planeta da devastação do capitalismo: temos que
fazer isso, isso e isso. Não produziremos mais automóveis, tentaremos tirá-los
de uso – não completamente: deixaremos que sejam usados para longas viagens,
não dentro das cidades (nelas, teremos um sistema de transporte público). Mas
os políticos não estão pensando assim, não podem nem começar a fazê-lo. Então,
a necessidade objetiva do socialismo é muito forte, mas não acontece. Esses
políticos e a elite capitalista que se une contra a classe trabalhadora global
e os movimentos sociais não são capazes de salvar o planeta porque necessitam
maximizar os vultuosos lucros, usar o dinheiro para fazer mais dinheiro. Isso é
o que os determina e o que os explodirá em algum momento.
Manifestantes
ocupam o Zuccotti Park, em Nova York - Foto: Reprodução
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Após mais de uma década das mudanças na
América Latina, quais são os resultados?
Varia de país a país, mas há um padrão que provavelmente
é o mesmo. Foi extremamente importante esses movimentos tomarem o poder em
eleições democráticas, derrubando um dos pilares do Ocidente, que dizia que
todos esses grupos que querem mudanças são antidemocráticos. Isso foi um
impacto tremendo que não se deve subestimar. As vitórias eleitorais sucessivas
de Chávez na Venezuela são extremamente importantes. Primeiro, é um líder muito
valente, sem medo de dizer o que pensa diante dos EUA, o que é raro. Segundo, o
fato de o maior produtor de petróleo da América se mover à esquerda é um grande
atraso para os EUA e é um erro pensar que eles se renderam. Andaram e ainda
estão ocupados com o Oriente Médio, mas começaram a atuar novamente aqui. Em
Honduras, o Esquadrão da Morte voltou ao poder; usaram colombianos com
regularidade para desestabilizar a Venezuela, puseram cada vez mais pressão
sobre o Brasil para que intervenha a favor de seus interesses no continente.
Hoje, pela primeira vez na história da América, não há
embaixadores dos EUA na Venezuela, Bolívia e Equador. Isso reflete algo.
O PT chegou ao poder depois de uma decisão muito
consciente – não foi por acidente – de não desafiar o sistema neoliberal. Não o
fizeram e é por isso que por muitos anos a imprensa financeira, como o
Financial Times, The Economist, dizia que existia na América do Sul o modelo
bom, o Brasil, e o mau, os bolivarianos. O Brasil é o ornitorrinco descrito por
Francisco de Oliveira: manteve, em nível econômico, o modelo neoliberal – Palocci
era um grande –, mas em assuntos externos mudou. Disseram aos EUA: “já não
faremos o que querem”, e as tentativas muito fortes de dividir Lula e Chávez
foram neutralizadas. Talvez seja somente simbólico, mas foi muito importante.
Então, qual é o balanço?
É misto. Isso é um problema, mas é o mundo em que
vivemos. Vemos reformas sociais, tentativas de mobilizar desde baixo, envolver
esses setores, fazê- los participar no funcionamento do sistema e isso é muito
positivo. Vimos imensas quantidades de dinheiro postas a disposição. Mas o fato
de que o capitalismo exista com todas suas contradições também significa que
não se pode lidar com o país como um todo. Qual é a causa do nível de
inseguridade na Venezuela? Se houve uma verdadeira melhora das condições de
vida dos pobres, por que ela acontece? É puramente interno ou parte é promovida
pela intervenção colombiana para criar instabilidade? Provavelmente um pouco
dos dois. Na Bolívia também houve avanços e problemas, que recentemente
explodiram num confronto entre o povo e o governo, resultado da intervenção
econômica de uma empresa brasileira. Portanto, são problemas que permanecem
conosco e acho que a única solução em médio prazo é os governos fortalecerem e
institucionalizarem estruturas desde baixo. Assim, ainda que derrotados, a
estrutura se mantém alternativa ao parlamento existente e o progresso
conquistado não poderá ser totalmente revertido, porque, se tentar reverter as
reformas, a direita sofrerá um tremendo levante.
Então, penso que é uma situação mista. Para o resto do
mundo, o que aconteceu na América do Sul é o experimento mais radical até agora
– dentro do capitalismo, de acordo –, mas muito radical, porque o mundo nos
disse que o Estado não deve fazer nada, o que é muito irônico agora, quando há
uma tremenda crise e é preciso recorrer ao Estado.
O senhor acredita que o Brasil está
promovendo um novo tipo de imperialismo?
Nos anos de 1970, tivemos este grande debate sobre se os
poderes regionais poderiam chegar a ser subimpérios. Ironicamente, Cardoso
[FHC] escreveu sobre isso, quando era de esquerda, na nossa revista New Left
Review. Eu acho um problema, essas são as contradições do Brasil. Se fosse um
governo de direita, não haveria contradições. O governo do PT permitiu que a
indústria privada se metesse em sua indústria petroleira, fomentou
investimentos de corporações ocidentais no Brasil e, logo, essa é sua própria
lógica para operar em outros países do continente, sem ver que esses
investimentos são vistos pelas pessoas desses outros países como um tipo de
exploração.
É muito comparável com a Índia em partes da Ásia. Essa é
a maneira como funciona o capitalismo, a menos que tenha um Estado que o
controle. Todos esses projetos deveriam ser um corpo comum das repúblicas
sul-americanas. O governo brasileiro provavelmente dirá: “Não depende de nós, é
o capital”. Mas depende deles, sim. Eles podem controlar o capital se quiserem.
Manifestação
de indígenas em La Paz - Foto: ABI
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O senhor acha importante e possível um
diálogo entre os processos sul-americanos e árabes?
É muito importante que ocorra. Mas os levantamentos
árabes ainda não estabeleceram vínculos entre eles mesmos. Os Estados estão
colaborando entre si, os movimentos estabelecem vínculos apenas episódicos, com
alguns indivíduos. É extremamente importante mostrar alo que se fez na América
do Sul. Quando estamos aqui, pensamos que não é suficiente, mas comparado ao
que aconteceu no mundo árabe, é enorme. Quando Chávez visitou o mundo árabe há
uns cinco ou seis anos e a Al-Jazeera o entrevistou por uma hora, foi a
entrevista mais popular que haviam feito até então. Porque ele falou sobre o
programa social da Venezuela, como estavam utilizando os recursos do petróleo e
os árabes escutando- o se diziam: “Meu Deus, por que não aqui?”. O diretor da
Al-Jazeera me disse que receberam mais e-mails sobre essa entrevista do que
sobre qualquer outra coisa que já transmitiram. Dezenas de milhares de e-mails
que perguntavam, de diferentes maneiras: “quando o mundo árabe vai produzir um
Chávez?”.
E qual é a imagem do Brasil no Oriente
Médio?
Não creio que o Brasil tenha uma imagem. As pessoas
pensam, desafortunadamente, em outros continentes neste momento. A Venezuela é
uma exceção. Chávez, basicamente, pôs a Venezuela no cenário mundial. É o único
país sulamericano que de verdade é bem conhecido, pelo programa bolivariano.
Não creio que o Brasil tenha uma imagem, boa ou má.
O Fórum Social Mundial (FSM) estabeleceu um
diálogo entre organizações políticas de todo o mundo e o senhor participou
bastante disso. O FSM poderia ser um espaço de encontro desses levantamentos
hoje?
Não estou tão convencido disso porque, quando o FSM
começou, era extremamente importante, era a primeira vez, desde o grande
triunfo do capitalismo, que as pessoas de todo mundo que pensavam que era
preciso outra coisa começaram a se encontrar para dizer uns aos outros: “Oi!
Você ainda está aqui! Que bom!”. Nesses anos existiam movimentos sociais
grandíssimos, que podiam ser reconhecidos, que tinham representantes
identificáveis. Tínhamos movimentos e ONGs, com contradições entre eles em
alguns casos. As ONGs, por sua natureza, são obrigadas por seus patrocinadores
a não serem políticas e se concentrarem em um tema, como una fábrica em
particular em um país em particular. Como resposta aos problemas do mundo isso
não é sufi ciente. Muitas ONGs na Ásia e no mundo árabe foram advertidas por
seus patrocinadores para não se oporem à guerra no Iraque. Então, agora, com os
movimentos sociais debilitados e com as ONGs dominado totalmente o FSM, acho
que ele não é tão relevante. Deixei de ir aos FSMs nos últimos anos. Os de
Porto Alegre foram muito importantes, mas os que se levaram a cabo agora...
converteram- se em uma espécie de simbolismo. Nada é feito. Só te faz sentir
bem por dois ou três dias. E agora tampouco te faz se sentir tão bem. Muita
gente pobre não pôde chegar aos fóruns organizados na África porque eram muito
caros. Seus organizadores têm que se perguntar: “Para que estamos organizando
isso? Qual é o objetivo do FSM?” Porque o mundo mudou desde os primeiros
fóruns, para melhor em alguns casos, e creio que o mais importante agora é o
fortalecimento regional, unir as forças progressistas na América do Sul, unir
as forças progressistas no mundo árabe, unir as forças progressistas na Europa
contra os banqueiros e a burocracia que não foi eleita. Nisso que acho que
devemos nos concentrar. E com as novas iniciativas estadunidenses, é muito
importante criar um movimento de oposição na região do Pacífico.
<QUEM É>
Escritor e cineasta, Tariq Ali, 68, é paquistanês
radicado na Inglaterra desde a juventude, onde cursou Ciências Políticas e
Filosofia na Universidade de Oxford. Escreveu mais de duas dezenas de livros
sobre história mundial e política e sete novelas. É editor da revista New Left
Review, assessor da Telesul e articulista frequente em jornais como The
Guardian e The Independent.
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