Quem sou eu

Minha foto
Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Robert Fisk pede que Bernankes e os Geithners encarem o mesmo tipo de tribunal que Hosni Mubarak


Os banqueiros são os ditadores do Ocidente

O Primeiro-Ministro da Irlanda disse a seu povo que eles não eram responsáveis pela crise. Mas ele não disse quem eram os culpados. Já não é hora de que ele e seus colegas o digam? E os jornalistas também?

Por Robert Fisk [11.12.2011 09h00]
Tradução de Idelber Avelar
Escrevendo na região que produz mais clichês por metro quadrado que qualquer outra 'história'--o Oriente Médio--, eu deveria talvez fazer uma pausa antes de dizer que nunca li tanto lixo, tanta porcaria como tenho lido a respeito da crise financeira mundial.
Mas não vou me conter. Me parece que o jornalismo sobre este colapso do capitalismo chegou a um novo subsolo que nem mesmo o Oriente Médio é capaz de alcançar, em termos de obediência intocada e completa às próprias instituições e “especialistas” de Harvard que ajudaram a provocar o desastre criminoso.
Comecemos com a “Primavera Árabe”-- já em si mesmo um nome que é uma grotesca distorção verbal do grande despertar árabe/ muçulmano que está sacudindo o Oriente Médio—e com os paralelos falaciosos com os protestos sociais nas capitais ocidentais. Fomos inundados com jornalismo que afirma que os pobres ou os desfavorecidos no Ocidente tiraram uma “página” do livro da “primavera árabe”, que os manifestantes nos EUA, Canadá, Grã-Bretanha, Espanha e Grécia foram “inspirados” pelas enormes manifestações que derrubaram os regimes do Egito, da Tunísia e—até certo ponto—da Líbia. Isso é nonsense.
A comparação real, não é preciso nem dizer, escapou aos jornalistas ocidentais, tão prontos a exaltar as rebeliões anti-ditatoriais dos árabes, tão ansiosos para ignorar os protestos contra os governos “democráticos” do Ocidente, tão desesperados para desqualificar essas demonstrações, para sugerir que elas estão apenas adotando a última moda do mundo árabe. A verdade é um pouco diferente. O que levou os árabes, às dezenas de milhares e depois aos milhões, às ruas das capitais do Oriente Médio foi a exigência de dignidade e a recusa a aceitar que os ditadores locais, de um grupo de famílias, fossem dos donos dos países. Os Mubaraks e os Ben Alis e os Gaddafis e os reis e os emires do Golfo (e da Jordânia) e os Assads acreditavam que tinham direitos de propriedade sobre a totalidade de suas nações. O Egito pertencia à Mubarak Inc., a Tunísia à Ben Ali Inc. (e à família Traboulsi), a Líbia à Gaddafi Inc. E assim por diante. Os mártires árabes contra as ditaduras morreram para provar que seus países pertenciam a seus próprios povos.
E esse é o verdadeiro paralelo com o Ocidente. Os movimentos de protesto são, deveras, contra os Grandes Negócios—uma causa perfeitamente justificada—e contra os “governos”. O que eles realmente perceberam, ainda que de forma um pouco tardia, é que durante décadas se iludiram com uma democracia fraudulenta: votam civicamente em partidos políticos, que então entregam seus mandatos democráticos e o poder do povo aos bancos, aos seus negociadores derivados e às suas agências de classificação de risco, todos eles sustentados pela corja preguiçosa e desonesta dos “especialistas” dos "think tanks" e das principais universidades estadounidenses, que mantêm a ficção de que esta é uma crise da globalização, e não um massivo engano financeiro imposto aos eleitores.
Os bancos e as agências de classificação de risco se tornaram os ditadores do Ocidente. Como os Mubaraks e os Ben Alis, os bancos acreditaram—e ainda acreditam—que são os donos de seus países. As eleições que lhes conferem o poder se tornaram—pelo conluio e falta de vergonha dos governos—tão falsas como as urnas às quais os árabes eram obrigados a marchar década após década para ungir os seus próprios donos da propriedade nacional. Goldman Sachs e o Banco Real da Escócia se tornaram os Mubaraks e Ben Alis dos EUA e do Reino Unido, cada um deles engolindo as riquezas de seu povo em recompensas e bônus de araque para seus patrões viciosos, numa escala infinitamente mais voraz que as gananciosas famílias de ditadores árabes jamais poderiam imaginar.
Eu não precisava do documentário "Inside Job", de Charles Ferguson, na BBC-2, esta semana (apesar de que ele ajudou), para me mostrar que as agências de classificação de risco e os bancos dos EUA são intercambiáveis, de que seu pessoal se move sem sobressaltos entre agência, banco e governo. Os senhores da classificação (quase sempre senhores, claro) que deram nota AAA aos empréstimos sub-prime e seus derivativos nos EUA estão agora—através de sua influência venenosa nos mercados—cravando suas garras no povo da Europa, ao ameaçar reduzir ou retirar, das nações europeias, a mesma nota que eles haviam concedido a criminosos antes do colapso financeiro nos EUA. Eu sempre acreditei que atenuar é a melhor forma de vencer discussões. Mas, me perdoem, quem são essas criaturas cujas agências de classificação agora dão mais medo nos franceses do que Rommel dava em 1940?
Por que meus colegas jornalistas lá em Wall Street não me ensinam? Como é possível que a BBC e a CNN—e, ó queridos, até a Al Jazeera—tratem essas comunidades de criminosos como instituições inquestionáveis do poder? Por que não há investigações—o “Inside Job” começou a assinalar o caminho—desses escandalosos negociadores duplos? Isso me lembra a forma igualmente covarde em que tantos jornalistas estadounidenses cobrem o Oriente Médio, evitando, assustados, qualquer crítica direta a Israel, com a cumplicidade de um exército de lobistas pró-Likud, tudo para explicar aos espectadores por que devemos confiar nas “iniciativas de paz” dos EUA no conflito israelo-palestino, por que os bons são os “moderados” e os maus são os “terroristas”.
Os árabes pelo menos já começaram a questionar esse nonsense. Mas, quando os manifestantes de Wall Street começam a fazer o mesmo, eles se tornam “anarquistas”, os “terroristas” sociais das ruas americanas, que ousam exigir que os Bernankes e os Geithners encarem o mesmo tipo de tribunal que Hosni Mubarak. Nós, no Ocidente—nossos governos—criamos nossos ditadores. Mas, ao contrário dos árabes, não podemos tocá-los.
O Primeiro-Ministro da Irlanda, Enda Kenny, informou solenemente a seu povo, esta semana, que eles não eram os responsáveis pela crise em que se encontravam. Eles já sabiam disso, é claro. O que ele não disse foi quem eram os culpados. Já não é hora de que ele e seus colegas europeus o digam? E nossos jornalistas também?
Original do The Independent

Robert Fisk: Bankers are the dictators of the West

 Saturday 10 december 2011



Writing from the very region that produces more clichés per square foot than any other "story" – the Middle East – I should perhaps pause before I say I have never read so much garbage, so much utter drivel, as I have about the world financial crisis.
But I will not hold my fire. It seems to me that the reporting of the collapse of capitalism has reached a new low which even the Middle East cannot surpass for sheer unadulterated obedience to the very institutions and Harvard "experts" who have helped to bring about the whole criminal disaster.
Let's kick off with the "Arab Spring" – in itself a grotesque verbal distortion of the great Arab/Muslim awakening which is shaking the Middle East – and the trashy parallels with the social protests in Western capitals. We've been deluged with reports of how the poor or the disadvantaged in the West have "taken a leaf" out of the "Arab spring" book, how demonstrators in America, Canada, Britain, Spain and Greece have been "inspired" by the huge demonstrations that brought down the regimes in Egypt, Tunisia and – up to a point – Libya. But this is nonsense.
The real comparison, needless to say, has been dodged by Western reporters, so keen to extol the anti-dictator rebellions of the Arabs, so anxious to ignore protests against "democratic" Western governments, so desperate to disparage these demonstrations, to suggest that they are merely picking up on the latest fad in the Arab world. The truth is somewhat different. What drove the Arabs in their tens of thousands and then their millions on to the streets of Middle East capitals was a demand for dignity and a refusal to accept that the local family-ruled dictators actually owned their countries. The Mubaraks and the Ben Alis and the Gaddafis and the kings and emirs of the Gulf (and Jordan) and the Assads all believed that they had property rights to their entire nations. Egypt belonged to Mubarak Inc, Tunisia to Ben Ali Inc (and the Traboulsi family), Libya to Gaddafi Inc. And so on. The Arab martyrs against dictatorship died to prove that their countries belonged to their own people.
And that is the true parallel in the West. The protest movements are indeed against Big Business – a perfectly justified cause – and against "governments". What they have really divined, however, albeit a bit late in the day, is that they have for decades bought into a fraudulent democracy: they dutifully vote for political parties – which then hand their democratic mandate and people's power to the banks and the derivative traders and the rating agencies, all three backed up by the slovenly and dishonest coterie of "experts" from America's top universities and "think tanks", who maintain the fiction that this is a crisis of globalisation rather than a massive financial con trick foisted on the voters.
The banks and the rating agencies have become the dictators of the West. Like the Mubaraks and Ben Alis, the banks believed – and still believe – they are owners of their countries. The elections which give them power have – through the gutlessness and collusion of governments – become as false as the polls to which the Arabs were forced to troop decade after decade to anoint their own national property owners. Goldman Sachs and the Royal Bank of Scotland became the Mubaraks and Ben Alis of the US and the UK, each gobbling up the people's wealth in bogus rewards and bonuses for their vicious bosses on a scale infinitely more rapacious than their greedy Arab dictator-brothers could imagine.
I didn't need Charles Ferguson's Inside Job on BBC2 this week – though it helped – to teach me that the ratings agencies and the US banks are interchangeable, that their personnel move seamlessly between agency, bank and US government. The ratings lads (almost always lads, of course) who AAA-rated sub-prime loans and derivatives in America are now – via their poisonous influence on the markets – clawing down the people of Europe by threatening to lower or withdraw the very same ratings from European nations which they lavished upon criminals before the financial crash in the US. I believe that understatement tends to win arguments. But, forgive me, who are these creatures whose ratings agencies now put more fear into the French than Rommel did in 1940?
Why don't my journalist mates in Wall Street tell me? How come the BBC and CNN and – oh, dear, even al-Jazeera – treat these criminal communities as unquestionable institutions of power? Why no investigations – Inside Job started along the path – into these scandalous double-dealers? It reminds me so much of the equally craven way that so many American reporters cover the Middle East, eerily avoiding any direct criticism of Israel, abetted by an army of pro-Likud lobbyists to explain to viewers why American "peacemaking" in the Israeli-Palestinian conflict can be trusted, why the good guys are "moderates", the bad guys "terrorists".
The Arabs have at least begun to shrug off this nonsense. But when the Wall Street protesters do the same, they become "anarchists", the social "terrorists" of American streets who dare to demand that the Bernankes and Geithners should face the same kind of trial as Hosni Mubarak. We in the West – our governments – have created our dictators. But, unlike the Arabs, we can't touch them.
The Irish Taoiseach, Enda Kenny, solemnly informed his people this week that they were not responsible for the crisis in which they found themselves. They already knew that, of course. What he did not tell them was who was to blame. Isn't it time he and his fellow EU prime ministers did tell us? And our reporters, too?


Nenhum comentário:

Postar um comentário