E O ROCK IN RIO CONTINUA
MEDINA QUANDO FOI DEIXADO POR SEUS SEUESTRADORES NA PÇA. DA BANDEIRA
SUMIÇO DE 1,5 MILHÃO DE DÓLARES - Terminado o seqüestro, Medina está
traumatizado, mas livre, são e salvo na medida do possível. A realidade,
porém, é que aspectos cruciais de seu seqüestro permanecem misteriosos -
e podem se transformar numa fábrica de dinamite no interior da máquina
policial do Rio de Janeiro, além de nova
fonte de inquietações para os 6 milhões de moradores da cidade. Um dos
principais enigmas é saber quanto a família pagou pelo resgate e para
quem foi o dinheiro. Oficialmente, sabe-se que os bandidos receberam uma
bolada de 2,5 milhões de dólares. Também oficialmente, o Banco Central
informa que a família foi autorizada a comprar uma soma bem maior de
dinheiro pelo câmbio oficial - 4 milhões de dólares, em duas etapas, uma
de 1,5 milhão e a outra de 2,5 milhões.
Descobriu-se, na
semana passada, que essa diferença, que obviamente deveria ser devolvida
aos cofres do banco, não se encontrava com Roberto Medina nem com
nenhum dos integrantes da equipe que participou das dramáticas
negociações para salvá-lo. Há poucos dias, surgiu uma primeira pista a
respeito de seu paradeiro. Em conversa com um conhecido, uma pessoa que
esteve com o deputado Rubem Medina, irmão do empresário e uma
personalidade-chave das negociações em torno do seqüestro, ouviu a
informação de que uma parte desse dinheiro tenha sido gasta com
policiais que atuaram na operação de resgate. Até aí, nada demais.
Poucos hábitos estão tão integrados às delegacias brasileiras como o de
empresários às voltas com criminosos tirarem dinheiro do próprio bolso
para fazer funcionar, com mais eficiência, uma máquina sabidamente
enferrujada há quem pague a gasolina para os automóveis poderem circular
e também ofereça um bom emprego num serviço privado de segurança. O
problema é que, no caso Medina, essa atitude envolveria uma soma
colossal de 1,5 milhão de dólares.
Procurado por VEJA, na
sexta-feira da semana passada, Rubem Medina admitiu que o 1,5 milhão de
dólares não se encontrava em poder da família, mas não entrou em
maiores, detalhes sobre seu paradeiro. "Vamos pagar ao Banco Central o
que devemos, já nos próximos dias", disse o deputado. Sobre a
possibilidade de que teria sido obrigado a pagar a policiais corruptos,
que teriam inflacionado o valor final do seqüestro em mais de 50%,
Medina faz um desmentido categórico. "Isso é loucura, não ocorreu", diz.
Mais tarde, contudo, o deputado lembra que vive no Rio de Janeiro.
"Tenho mulher, filhos e muito medo", diz ele. "E só vou falar tudo o que
sei sobre esse sequestro quando sentir que há lei e segurança neste
país."
Como qualquer outro parlamentar, Medina dispõe de
direitos inacessíveis a um cidadão comum. Pode circular à vontade pelos
palácios onde as autoridades fazem seus despachos, tem cacife para
apresentar pedidos e reivindicações de seu interesse - e até dispõe de
uma regalia exclusiva da categoria, a imunidade. O problema é que se ele
sabe do envolvimento de policiais que teriam embolsado 1,5 milhão de
dólares no resgate e sente-se incapaz de fazer uma denúncia às claras
por temer o que pode acontecer com sua família é porque se sente um
cidadão muito menos imune do que, por exemplo, o contrabandista João
Simão Neto. Em 1987, de fato, Simão Neto denunciou o delegado paulista
Josecyr Cuoco, encarregado das investigações do seqüestro do
ex-vice-presidente do Bradesco Antonio Beltran Martinez, de torturá-lo
nas dependências de uma delegacia para confessar a autoria do crime.
Preso, julgado e condenado, até hoje Cuoco cumpre pena em São Paulo.
http://veja.abril.com.br/arqui vo_veja/capa_18071990.shtml
MEDINA QUANDO FOI DEIXADO POR SEUS SEUESTRADORES NA PÇA. DA BANDEIRA
SUMIÇO DE 1,5 MILHÃO DE DÓLARES - Terminado o seqüestro, Medina está traumatizado, mas livre, são e salvo na medida do possível. A realidade, porém, é que aspectos cruciais de seu seqüestro permanecem misteriosos - e podem se transformar numa fábrica de dinamite no interior da máquina policial do Rio de Janeiro, além de nova fonte de inquietações para os 6 milhões de moradores da cidade. Um dos principais enigmas é saber quanto a família pagou pelo resgate e para quem foi o dinheiro. Oficialmente, sabe-se que os bandidos receberam uma bolada de 2,5 milhões de dólares. Também oficialmente, o Banco Central informa que a família foi autorizada a comprar uma soma bem maior de dinheiro pelo câmbio oficial - 4 milhões de dólares, em duas etapas, uma de 1,5 milhão e a outra de 2,5 milhões.
Descobriu-se, na semana passada, que essa diferença, que obviamente deveria ser devolvida aos cofres do banco, não se encontrava com Roberto Medina nem com nenhum dos integrantes da equipe que participou das dramáticas negociações para salvá-lo. Há poucos dias, surgiu uma primeira pista a respeito de seu paradeiro. Em conversa com um conhecido, uma pessoa que esteve com o deputado Rubem Medina, irmão do empresário e uma personalidade-chave das negociações em torno do seqüestro, ouviu a informação de que uma parte desse dinheiro tenha sido gasta com policiais que atuaram na operação de resgate. Até aí, nada demais. Poucos hábitos estão tão integrados às delegacias brasileiras como o de empresários às voltas com criminosos tirarem dinheiro do próprio bolso para fazer funcionar, com mais eficiência, uma máquina sabidamente enferrujada há quem pague a gasolina para os automóveis poderem circular e também ofereça um bom emprego num serviço privado de segurança. O problema é que, no caso Medina, essa atitude envolveria uma soma colossal de 1,5 milhão de dólares.
Procurado por VEJA, na sexta-feira da semana passada, Rubem Medina admitiu que o 1,5 milhão de dólares não se encontrava em poder da família, mas não entrou em maiores, detalhes sobre seu paradeiro. "Vamos pagar ao Banco Central o que devemos, já nos próximos dias", disse o deputado. Sobre a possibilidade de que teria sido obrigado a pagar a policiais corruptos, que teriam inflacionado o valor final do seqüestro em mais de 50%, Medina faz um desmentido categórico. "Isso é loucura, não ocorreu", diz. Mais tarde, contudo, o deputado lembra que vive no Rio de Janeiro. "Tenho mulher, filhos e muito medo", diz ele. "E só vou falar tudo o que sei sobre esse sequestro quando sentir que há lei e segurança neste país."
Como qualquer outro parlamentar, Medina dispõe de direitos inacessíveis a um cidadão comum. Pode circular à vontade pelos palácios onde as autoridades fazem seus despachos, tem cacife para apresentar pedidos e reivindicações de seu interesse - e até dispõe de uma regalia exclusiva da categoria, a imunidade. O problema é que se ele sabe do envolvimento de policiais que teriam embolsado 1,5 milhão de dólares no resgate e sente-se incapaz de fazer uma denúncia às claras por temer o que pode acontecer com sua família é porque se sente um cidadão muito menos imune do que, por exemplo, o contrabandista João Simão Neto. Em 1987, de fato, Simão Neto denunciou o delegado paulista Josecyr Cuoco, encarregado das investigações do seqüestro do ex-vice-presidente do Bradesco Antonio Beltran Martinez, de torturá-lo nas dependências de uma delegacia para confessar a autoria do crime. Preso, julgado e condenado, até hoje Cuoco cumpre pena em São Paulo.
http://veja.abril.com.br/arqui
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