Vladimir Safatle - FSPaulo 21/02/2012
Na semana passada, a imprensa veiculou a notícia de que uma construtora servia-se de trabalho escravo.
A obra não era uma hidrelétrica na região Norte ou em algum lugar de
difícil acesso, onde sempre é mais complicado descobrir o que se passa.
Na verdade, a obra encontrava-se quase na esquina com a avenida
Paulista.
Trata-se da reforma de um dos mais conhecidos hospitais da capital
paulista, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Ironicamente, a empresa
responsável pela obra chama-se "Racional" Engenharia.
Como não podia deixar de ser, a empresa afirmou que os trabalhadores
respondiam a uma empresa terceirizada e que os dirigentes desconheciam
realidade tão irracional. Este foi o mesmo argumento que a rede
espanhola de roupas Zara utilizou quando foi flagrada servindo-se de mão
de obra escrava boliviana empregada em oficinas terceirizadas no Bom
Retiro.
É muito interessante como empresas que gastam fortunas em publicidade e
propaganda institucional são tão pouco cuidadosas no que diz respeito às
condições aviltantes de trabalho das quais se beneficiam por meio do
truque tosco da terceirização. Quando se contrata uma empresa
terceirizada, não é, de fato, complicado averiguar as reais condições a
que trabalhadores estão submetidos, se seus turnos são respeitados e se
seus alojamentos são decentes.
Há de se perguntar se tal desenvoltura não é resultado da crença de que
ninguém nunca perceberá o curto-circuito entre imagens institucionais
modernas, requintadas, "racionais", e sistemas medievais de exploração.
No fundo, essa parece ser mais uma faceta de um velho automatismo
brasileiro de repetição: discursos cada vez mais elaborados e modernos,
práticas cada vez mais arcaicas. Afinal, tal precariedade foi feita em
nome de novas práticas trabalhistas, mais flexíveis e adaptadas aos
tempos redentores que, enfim, chegaram.
Não mais a rigidez do emprego e do controle dos sindicatos, mas a leveza
do paraíso da terceirização, onde todos serão, em um horizonte próximo,
empresas. Cada trabalhador, um empresário de si mesmo.
Que essa flexibilidade tenha aberto as portas para uma vulnerabilidade
que remete trabalhadores à pura e simples escravidão, isto não retiraria
em nada o brilho da ideia. Pois apenas os que temem o risco e a
inovação poderiam querer ainda as velhas práticas trabalhistas. Pena que
o novo tenha uma cara tão velha.
Pena também que, como os gregos mostrem a cada dia, quem paga o
verdadeiro preço do risco sejam, como dizia o velho Marx, os que já
perderam tudo.
Quem sou eu
- Milton Temer
- Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.
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