Auditar a dívida não é capricho. Por razões ideológicas não se previa serr ealizada durante o mandarinato FHC. O injustificável é que essa omissão tenha se mantido a partir da chegada do PT ao governo. Trata-se de iniciativa fundamental quando se constata a forma fraudulenta como o sistema financeiro privado global, e as instituições financeiras oficiais (FMI, Banco Mundial) por ele controlado, tentam impor aos governos acovardados.
Não existe exemplo, entre as poucas realizadas por países ditos devedores, onde tais ilegalidades não sejam facilmente identificadas, daí resultando cortes significativos. O caso da Russia, em fins da década de 90 é exemplar - reduziu em cerca de 30% e ainda permitiu ao governo Putin impor uma moratória de sete anos para reiniciar pagamento do restante acatado.
Neste artigo que se segue, Maria Lucia detalha de que forma são mantidos pelo lulopragmatismo os preceitos subalternos ao grande capital financeiro, a partir do que se estabeleceu, corretamente, como privataria tucana, ora estendida à
Privataria Petista
Por Maria Lúcia Fattorelli (Coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida) - 09/02/2012 | |||||
Em meio a insistentes ataques da grande mídia à
“corrupção” de autoridades dos três poderes institucionais, uma
verdadeira corrupção institucional está ocorrendo no campo financeiro e
patrimonial do país, destacando-se:
- PRIVATIZAÇÃO DA PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES PÚBLICOS
- PRIVATIZAÇÃO DE JAZIDAS DE PETRÓLEO, INCLUSIVE DO PRÉ-SAL
- PRIVATIZAÇÃO DOS AEROPORTOS MAIS MOVIMENTADOS DO PAÍS
- PRIVATIZAÇÃO DE RODOVIAS
- PRIVATIZAÇÃO DE HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS
- PRIVATIZAÇÃO DE FLORESTAS
- PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA, e muitos outros
serviços essenciais, que recebem cada vez menor quantidade de recursos
haja vista a luta de 20 anos pela implantação do piso salarial dos
trabalhadores da Educação, a recente greve dos policiais na Bahia,
ausência de reajuste salarial para os servidores em geral, entre várias
outras necessidades não atendidas, evidenciada recentemente na tragédia
dos moradores do Pinheirinho em São Paulo, enquanto o volume destinado
ao pagamento de Juros e Amortizações da Dívida Pública continua
crescendo cada vez mais.
Qual a justificativa para a entrega de áreas estratégicas ao setor
privado? Por que criar um mega fundo de pensão para os servidores
públicos do país quando os fundos de pensão estão quebrando no mundo
todo, levando milhões de pessoas ao desespero? Por que leiloar jazidas
de petróleo se a Petrobrás possui tecnologia de ponta? Por que abrir mão
da segurança nacional ao entregar os aeroportos mais movimentados para
empresas privadas e até estrangeiras? Por que privatizar os hospitais
universitários se esses são a garantia de formação acadêmica de
qualidade? Por que privatizar florestas em um mundo que clama por
respeito ambiental? Por que deixar que serviços básicos, sejam
automaticamente privatizados, a partir do momento em que se corta
recursos destas áreas?
O que há de comum em todas essas privatizações e em todas essas questões?
O ponto central está no fato de que o beneficiário de todas essas
medidas é um ente estranho aos interesses do povo brasileiro e da Nação.
Os únicos beneficiários têm sido o setor financeiro privado e as
grandes transnacionais.
Então, por que o governo tem se empenhado tanto em aprovar todas essas medidas contrárias aos interesses nacionais?
E o que diz a grande mídia a respeito dessas medidas indesejáveis?
Não divulga a posição dos afetados e prejudicados por todas essas
medidas, mas promove uma completa “desinformação” ao apresentar
argumentos falaciosos e convincentes propagandas de que o Brasil vai
muito bem e que a economia está sob controle.
Ora, se estamos tão bem assim, qual a razão para rifar o patrimônio
público? Por que esse violento round de privatizações partindo
justamente de quem venceu as eleições acusando a privataria?
Na realidade, o país está sucateado. Vejam as estradas rodoviárias
assassinas e a ausência de ferrovias; a desindustrialização; o
esgotamento de nossas riquezas; as pessoas sem atendimento hospitalar,
com cirurgias adiadas até a morte; os profissionais de ensino
desrespeitados e obrigados a assumir vários postos de trabalho para
sustentar suas famílias; o crescimento da violência e do uso de drogas.
É inegável o fato de que o PIB brasileiro cresceu e já somos a 6a.
potencia mundial, mas o último relatório da ONU mostra que ocupamos a
vergonhosa 84a. posição em relação ao atendimento aos direitos humanos,
de acordo com o IDH, o que é inadmissível considerando as nossas imensas
riquezas.
Algo está muito errado. Não há congruência entre nossas riquezas e
nossa realidade social. Não há coerência entre o discurso ostentoso e a
liquidação do patrimônio nacional.
Dizem que temos reservas internacionais bilionárias, mas não
divulgam o custo dessas reservas para o país, o dano às contas públicas e
ao crescimento acelerado da dívida pública brasileira que paga os juros
mais elevados do mundo.
Dizem que temos batido recordes com exportações, mas não divulgam
que lá de fora, valorizam os preços da chamadas “commodities” e o que
fazemos: aceleramos a exploração dos nossos recursos naturais e os
exportamos às toneladas. Mas quem ganha já não é o país, pois as minas,
as siderúrgicas e o agrobusiness já foram privatizados há muito tempo.
Outra grande falácia é de que o Brasil está tão bem que a crise
financeira que abalou as economias dos países mais ricos do Norte –
Estados Unidos e Europa – pouco afetou o país. A grande mídia não
divulga, mas a raiz da atual crise “da Dívida” que abala as economias do
Norte está na CRISE DO SETOR FINANCEIRO.
A crise estourou em 2008 quando as principais instituições
financeiras do planeta entraram em risco de quebra. Tal crise dos bancos
decorreu do excesso de emissão de diversos produtos financeiros sem
lastro – principalmente os derivativos – possibilitada pela
desregulamentação e autonomia do setor financeiro bancário. Embora
tivessem agido com tremenda irresponsabilidade na emissão e especulação
de incalculáveis volumes de papéis sem lastro, tais bancos foram
“salvos” pelos países do Norte à custa do aumento da dívida pública, que
agora está sendo paga por severos planos de ajuste fiscal contra os
trabalhadores e crescente sacrifício de direitos sociais.
Apesar da monumental ajuda das Nações aos bancos, o sistema
financeiro internacional ainda se encontra abarrotado de derivativos e
outros papéis sem lastro – tratados pela grande mídia como “ativos
tóxicos”. Grande parte desses papéis foi transferida para “bad Banks” em
várias partes do mundo, à espera de serem trocados por “ativos reais”,
principalmente em processos de privatizações.
Assim funcionam as privatizações: são uma forma de reciclar o
acúmulo de papéis e transferir as riquezas públicas para o setor
financeiro privado.
Relativamente à privatização da Previdência dos Servidores
Públicos, o Projeto de Lei PL-1992 cria o FUNPRESP que, se aprovado,
deverá ser um dos maiores fundos de pensão do mundo.
Na prática, esse projeto se insere em tendência mundial ditada pelo
Banco Mundial, de reduzir a participação estatal a um benefício mínimo,
como alerta Osvaldo Coggiola, em seu artigo “A Falência Mundial dos
Fundos de Pensão”:
“Com este esquema, o que se quer é reduzir a aposentadoria estatal
de modo a diminuir o gasto em aposentadorias e aumentar os pagamentos da
dívida do Estado.”
A dívida brasileira já supera os R$ 3 trilhões. A grande mídia não
divulga esse número, mas o mesmo está respaldado em dados oficiais.
Os fundos de pensão absorvem grandes quantidades de papéis, pois
funcionam trocando o dinheiro dos trabalhadores por papéis que circulam
no mercado financeiro. Os tais “ativos tóxicos” estão provocando sérios
danos aos fundos de pensão, como adverte Osvaldo Coggiola:
“… duas Agentinas e meia faliram nos Estados Unidos como produto da
crise do capital, levando consigo os fundos de pensões lastreados em
suas ações. Na Europa, a situação não é melhor. A OCDE advertiu sobre o
grave risco da queda nas Bolsas sobre os fundos privados de pensão, cuja
viabilidade está ligada à evolução dos mercados de renda variável:
“Existe o risco de que as pessoas que investiram nesses fundos recebam
pouco ou nada depois de se aposentar”.
O art. 11 do PL-1992 não permite ilusões quanto ao risco para os
servidores federais brasileiros, pois assinala que a responsabilidade do
Estado será restrita ao pagamento e à transferência de contribuições ao
FUNPRESP. Em outras palavras, se algo funcionar errado com o FUNPRESP;
se este adquirir papéis podres ou enfrentar qualquer revés, não haverá
responsabilidade para a União, suas autarquias ou fundações.
PREVIDÊNCIA É SINÔNIMO DE SEGURANÇA. COMO COLOCAR A PREVIDÊNCIA EM APLICAÇÕES DE RISCO?
Qual o sentido dessa medida anti-social?
O gráfico a seguir revela porque a Previdência Social tem sido alvo
de ferrenhos ataques por parte do setor financeiro nacional e
internacional: o objetivo evidente, como também alertou Osvaldo
Coggiola, é apropriar-se dos recursos que ainda são destinados à
Seguridade Social para destiná-los aos encargos da dívida pública.
As diversas auditorias cidadãs em andamento no Brasil e no
exterior, bem como a auditoria oficial equatoriana (2007/2008) e a CPI
da Dívida no Brasil (2009-2010) têm demonstrado que o único beneficiário
do processo de endividamento público tem sido o setor financeiro.
No Brasil, o gráfico a seguir denuncia o privilégio da dívida, pois
a dívida absorve quase a metade dos recursos do orçamento federal, o
que explica o fabuloso lucro auferido pelos bancos aqui instalados,
enquanto faltam recursos para as necessidades sociais básicas, tornando
nosso país um dos mais injustos do mundo.
Para ver a imagem, utilize a URL abaixo:
http://virusplanetario.net/wp-content/uploads/2012/02/grafico_orcamento-1024x674.jpg
Elaboração: Auditoria Cidadã da Dívida. Nota: O valor de R$ 708
bilhões inclui o chamado “refinanciamento” ou “rolagem”, pois a CPI da
Dívida Pública comprovou que parte relevante dos juros são
contabilizados como tal. Para mais informações ver
http://www.divida-auditoriacidada.org.br/config/artigo.2012-01-15.2486469250/document_view
É urgente unir as lutas contra a privatização do que ainda resta de
patrimônio público no Brasil, pois é para pagar a dívida pública e
preservar este modelo de “Estado Mínimo” para o Social – e “Estado
Máximo” para o Capital – que as riquezas nacionais continuam sendo
privatizadas.
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excelente texto, milton, não podemos nos iludir com essa ideia que o PT quer nos passar de privataria relacionada exclusivamente à gestão tucana. Enquanto o auxílio ao sistema financeiro for mais importante que o auxílio às necessidades básicas da população, o Brasil continuará ocupando colocações pífias nos índices de desenvolvimento humano, paralelamente a altas classificações nos rankings econômicos.
ResponderExcluirOlá, Milton
ResponderExcluirFazendo eco a esta sua postagem, vai o link da edição de fevereiro do jornal do CORECON-RJ, cujo tema é Privatização: tem Gilberto Palmares, sobre a política de destruição do patrimônio público do Rio no que chama de "política de terra arrasada", política esta empreendida por Fernando Collor/Marcelo Alencar; artigo de Plínio Erickson sobre a privatização dos aeroportos, entre outros autores.
http://www.corecon-rj.org.br/pdf/JE_fevereiro_2012.pdf
Um Abraço.
Rodrigo