Diário Liberdade - [Aisling Byrne, Asia Times Online] 4 de janeiro de 2012. “A guerra contra o Irã já começou” – escreveu recentemente um conhecido analista israelense, sobre a “combinação de guerra clandestina e pressão internacional” contra o Irã.
Embora
não mencionado, o “prêmio estratégico” do primeiro estágio dessa guerra
contra o Irã é a Síria, primeira campanha de uma guerra sectária muito
mais ampla. “Exceto o colapso da própria República Islâmica”, teria dito
o rei Abdullah da Arábia Saudita, no verão passado, “nada enfraqueceria
mais o Irã do que perder a Síria” [1].
Em dezembro, altos funcionários dos EUA
falaram explicitamente sobre a agenda norte-americana para as mudanças
na Síria: Tom Donilon, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA,
explicou que “o fim do regime [do presidente Bashar al-] Assad será a
principal derrota do Irã na região – golpe estratégico que alterará,
contra o Irã, o equilíbrio de poder na região.”
Pouco antes, outro alto funcionário, com
função chave na operacionalização daquela política, o sub-secretário de
Estado para o Oriente Próximo, Jeffrey Feltman, já havia declarado, em
audiência no Congresso, que os EUA “perseguiremos incansavelmente uma
estratégia de dois braços, apoiando diplomaticamente a oposição e
estrangulando financeiramente o regime [sírio], até conseguirmos que
saia de lá” [2].
O que o mundo vê acontecer hoje na Síria
é campanha deliberada, calculada, para derrubar o governo de Assad,
para substituí-lo por outro, que seja “mais compatível” com os
interesses dos EUA na região.
A ‘planta baixa’ desse projeto foi
produzida pelo Instituto Brookings, dos neoconservadores, com todo o
plano para a ‘mudança de regime” no Irã em 2009. Esse trabalho – “Qual o
Caminho até a Pérsia?” (orig. “Which Path to Persia?” [3]) – continua a
ser a abordagem estratégica geral para o processo de mudar o regime no
Irã, e processo a ser conduzido pelos EUA.
Uma releitura daquele projeto, e a
leitura de outro projeto, mais recente – “Rumo à Síria pós-Assad” (orig.
“Towards a Post-Assad Syria” [4], que adota a mesma linguagem e a mesma
perspectiva, mas foca a Síria, não o Irã, recentemente produzido por
dois think-tanks neoconservadores), mostram com clareza como os
desenvolvimentos na Síria foram modelados nos termos do plano “Caminhos
até a Pérsia”, todos com o mesmo objetivo: derrubar o governo Assad.
Entre os autores desses estudos estão,
além de outros, John Hannah e Martin Indyk, ambos neoconservadores de
destaque nos governos George W Bush/Dick Cheney, e ambos dedicados
advogados da derrubada do governo sírio. [5] Não é a primeira vez que se
vê parceria muito íntima de neoconservadores norte-americanos e
britânicos, com islamistas (inclusive, como já se sabe [6], com
islamistas muito ligados à al-Qaeda), todos trabalhando em associação,
para derrubar governos de estados considerados “inimigos”.
Pode-se dizer que o componente mais
importante nessa luta em busca do “prêmio estratégico” foi a deliberada
construção de uma narrativa quase completamente falsa, em que
manifestantes democráticos desarmados são mostrados como se estivessem
sendo mortos às centenas e milhares, quando protestam pacificamente
contra o governo opressor, violento, “a máquina de matar” [7] comandada
por Assad, o “monstro” [8].
Ao mesmo tempo, na Líbia, a Organização
do Tratado do Atlântico Norte, OTAN declarava que “não há baixas
confirmadas entre os civis”, porque, como o New York Times explicou
recentemente, “a OTAN criou definição própria para o adjetivo
“confirmadas”: só se contam como “mortes confirmadas” os casos que a
própria OTAN tenha investigado e comprovado”.
“Mas, uma vez que a OTAN absolutamente
não investiga nenhuma denúncia de morte de civis” – completou o NYT –,
“não há o que arranque do zero a lista da Aliança, de baixas entre os
civis” [9].
No caso da Síria, vê-se exatamente o
contrário: a maioria das imprensa-empresas ocidentais, praticamente
todos os grandes veículos, e a imprensa-empresa nos países aliados dos
EUA na região, especialmente a rede al-Jazeera e os canais al-Arabiya de
televisão, propriedade dos sauditas, colaboram ativamente para repetir e
distribuir a narrativa da “mudança de regime” e uma agenda pela qual
absolutamente nenhum jornalista e nenhum veículo questiona ou examina os
números ou qualquer tipo de informação distribuídos por outros veículos
de imprensa-empresa e organizações que, ou são propriedade de estados
aliados na aliança EUA/Europa/Golfo, ou são financiados por eles. A
Aliança EUA/Europa/Golfo reúne exatamente os mesmos países que, desde o
início, planejaram todo o golpe para derrubar o governo de Assad.
Só há notícias sobre “massacres”,
“campanhas de estupro de mulheres e meninas, predominantemente nas
cidades sunitas” [10], “tortura”, e, mesmo “estupro de crianças” [11]
são notícias sempre presentes nos veículos internacionais, que só citam
duas fontes: ou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (que só existe
em Londres) ou os Comitês Locais de Coordenação (orig. Local
Co-ordination Committees, LCCs) –, com informações apenas repetidas, que
nenhum jornal ou jornalista nem procura verificar nem procura
confirmar.
Por trás do bordão jornalístico – “não
há como confirmar esses números” –, o que se vê é a nenhuma confiança
que merecem os grandes veículos da imprensa-empresa ocidental, o que já
se via bem visível desde os primeiros eventos na Síria. Uma década
depois da guerra do Iraque, ainda não se aprenderam nem as lições de
2003, da demonização frenética de Saddam Hussein e de inexistentes armas
de destruição em massa.
As três principais fontes de todos os
dados e números referentes a manifestantes mortos e a número de pessoas
em manifestações públicas na Síria – pilares da narrativa jornalística –
são, as três, organizações que participam da mesma aliança para
“mudança de regime”.
Observatório Sírio de Direitos Humanos,
especialmente, é mantido com recursos de um Fundo, com sede em Dubai, no
qual se misturam – o suficiente para não serem rastreáveis – recursos
do Ocidente-Golfo (segundo Elliot Abrams [12], só a Arábia Saudita
alocou US$130 bilhões para “ajudar as massas” da Primavera Árabe).
Apresentado sempre como ‘organização de
direitos humanos’, o Observatório Sírio de Direitos Humanos tem cumprido
papel chave para manter ativa a narrativa das matanças sem fim, de
milhares de manifestantes pacíficos assassinados, sempre distribuindo
números inflados, ‘fatos’ sem qualquer confirmação, ‘telegramas’ sobre
“massacres” e já falou, recentemente, de “genocídio”.
Embora declare que mantém sede na casa
do atual diretor [13], o Observatório Sírio de Direitos Humanos tem sido
denunciado como “fachada” de vasto esquema de propaganda montado pela
oposição síria e seus financiadores. Recentemente, o ministro de
Relações Exteriores da Rússia disse claramente [14]:
A agenda do conselho de transição [da
Síria] é montada em Londres, pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos
(...). Ali se fazem também as imagens do ‘horror’ na Síria, para
difundir o ódio contra o regime de Assad.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos
não tem qualquer registro legal, nem como instituição de caridade no
Reino Unido, e opera informalmente; não tem nem instalações de
escritório, nem equipe e sabe-se que seu diretor administra quantidade
considerável de dinheiro.
As informações que o Observatório Sírio
de Direitos Humanos recebe, pelo que se sabe, vêm de uma rede de
“ativistas” que opera dentro da Síria; o website, em inglês é uma única
página, mas a rede al-Jazeera hospeda um blog do Observatório,
atualizado a cada minuto, desde o início dos protestos [15].
A segunda fonte de ‘dados’ que o
Observatório Sírio de Direitos Humanos distribui, os Comitês Locais de
Coordenação (orig. Local Co-ordination Committees, LCCs), são a face
mais visível da infraestrutura de mídia da oposição; todos os dados
distribuídos pelos LCCs são construídos e distribuídos no bojo da mesma
narrativa [16] para a qual trabalha também o Observatório Sírio de
Direitos Humanos: ao analisar relatórios diários dos LCCs, não encontrei
sequer uma referência a opositores armados mortos; os mortos são sempre
“mártires”, “desertores do exército de Assad”, gente morta em
“manifestações pacíficas” e expressões equivalentes.
A terceira fonte de ‘dados’ que chegam à
imprensa-empresa ocidental é a rede al-Jazeera, cuja cobertura
distorcida dos Levantes já está bem documentada. Descrita por um
experiente analista de mídia [17] como “alto-falante sofisticado do
estado do Qatar e de seu ambicioso emir”, a rede al-Jazeera é
instrumento das “aspirações da política externa” do Qatar.
Al-Jazeera sempre ofereceu e continua a
fornecer [18] apoio técnico, equipamento, hospedagem e “credibilidade”
aos ativistas e às organizações da oposição ao governo de Assad na
Síria. Análises já mostraram que desde março de 2011, a rede al-Jazeera
tem dado apoio técnico e servido como instrumento de comunicação a
exilados sírios ativos na oposição a Assad [19] , os quais desde janeiro
de 2010 coordenavam, através da al-Jazeera, os seus serviços de
notícia, em Doha, Qatar.
Mas, apesar do trabalho de quase dez
meses, e apesar do massacre promovido diariamente pelas redes noticiosas
ocidentais, o projeto de derrubar Assad não parece estar saindo como o
esperado: pesquisa que a Qatar Foundation encomendou a empresa YouGov
[20] mostrou, semana passada, que 55% dos sírios não querem a saída de
Assad; e que 68% dos sírios desaprovam as sanções impostas pela Liga
Árabe à Síria.
Segundo essa pesquisa, o apoio a Assad
tem, de fato, aumentado, desde o início dos atuais tumultos – 46% dos
sírios sentiam que Assad foi “bom” presidente antes do início dos
eventos recentes no país – dado que absolutamente não se encaixa na
falsa narrativa que está sendo promovida.
Mas, como que para reafirmar o sucesso de sua própria campanha de propaganda, a pesquisa conclui, no sumário, que
“A maioria dos árabes acreditava que o
presidente sírio Basher al-Assad deveria renunciar logo que o regime
começou a responder com brutalidade às manifestações (...) 81% dos
árabes [desejam] que o presidente Assad renuncie. Acreditam que a Síria
terá melhores resultados se se realizarem eleições democráticas, sob a
supervisão do governo de transição” [21].
Fica-se sem saber a quem o presidente
Assad deve prestar contas – aos sírios ou “à maioria” dos árabes? Apagar
as linhas demarcatórias e confundir grupos, talvez seja útil: os dois
principais grupos de oposição na Síria já anunciaram [22] que, apesar de
se oporem a qualquer intervenção militar estrangeira, não consideram
estrangeira qualquer “intervenção árabe”.
Nenhum veículo da grande mídia, nenhum
grande jornal e nenhuma rede de notícias comentou os resultados da
pesquisa de YouGov – e que não se encaixam na narrativa que se dedicam a
construir.
Na Grã-Bretanha, só o jornal amador,
Muslim News [23] comentou a pesquisa de YouGov; apenas duas semanas
antes, logo depois das explosões dos suicidas-bomba em Damasco, os dois
Guardian [24], como vários outros jornais, poucas horas depois das
explosões, já publicavam matérias sensacionalistas, sem qualquer
informação aproveitável, recolhidas de blogueiros, entre os quais um,
que dizia que “alguns dos cadáveres podem ser cadáveres de
manifestantes”.
“Já aconteceu antes, de eles plantarem
cadáveres – dizia o blogueiro. “Trazem cadáveres de Dera [no sul] para
exibi-los. E também mostraram cadáveres a jornalistas em Jisr
al-Shughour [perto da fronteira turca].”
Matérias recentes lançam sérias dúvidas
sobre a confiabilidade da narrativa martelada todos os dias pela grande
imprensa internacional, sobretudo quando só repetem informação
distribuída pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos e pelos Comitês
Locais de Coordenação (orig. Local Co-ordination Committees, LCCs).
Em dezembro, o grupo Stratford, da inteligência dos EUA, alertava:
Já se sabe que grande parte das
declarações da oposição [síria] não passam de exageros grosseiros ou são
simplesmente falsas (...) revelando mais sobre as fraquezas da
oposição, do que sobre o nível de instabilidade do governo sírio [25]
[25a].
No nono mês dos tumultos, Stratfor
recomendava cautela em contatos com a narrativa que se lia na grande
mídia sobre a Síria; em setembro, o Instituto comentou que “todas as
guerras têm dois lados (...) e a guerra de percepções sobre a Síria não é
exceção” [26] [25a].
Relatórios do Observatório Sírio de
Direitos Humanos e dos Comitês Locais de Coordenação (orig. Local
Co-ordination Committees, LCCs), “como relatos distribuídos pelo governo
sírio, devem, em todos os casos, ser tomados com cautela e ceticismo” –
alerta Stratfor; “a oposição entende que carece de apoio externo,
sobretudo de apoio financeiro, se quiser que o movimento cresça; e tem,
portanto, todos os motivos para apresentar os fatos de modo que facilite
o processo para obter financiamento estrangeiro.”
Como observou o ministro das Relações
Exteriores da Rússia Sergey Lavrov, “É claro que o objetivo é provocar
uma catástrofe humanitária, que criará o pretexto para pedir
interferência externa naquele conflito” [27]. Na mesma linha, em meados
de dezembro, lia-se em American Conservative:
Analistas da CIA [Central Intelligence
Agency, Agência Central de Inteligência dos EUA] não consideram
garantido o avanço rumo à guerra. Relatório da ONU frequentemente
citado, segundo o qual mais de 3.500 civis teriam sido mortos por
soldados de Assad, praticamente só reproduz informação de fontes
rebeldes e não foi jamais confirmado. A Agência ainda não confirmou
nenhuma daquelas notícias.
O mesmo vale para notícias sobre
deserção em massa de soldados do exército sírio, e sobre batalhas que
estariam acontecendo entre desertores e legalistas, que também parecem
ser ficção; até agora só se confirmaram, por fontes independentes,
algumas poucas deserções. O que o governo sírio tem repetido (que está
sendo atacado por rebeldes armados, treinados e financiados por governos
estrangeiros) é mais verdadeiro que falso. [28]
Recentemente, em novembro, o Exército
Síria Livre [orig. Free Syria Army] sugeriu que teria mais soldados do
que realmente tem; de fato, como explicou um analista, “estão
aconselhando os apoiadores a adiar a deserção”, à espera de que as
condições regionais melhorem [29].
Instruções para Derrubar Governos
Sobre a Síria, a Parte III de “Qual o
caminho até Pérsia?” (orig. “Which Path to Persia?” [3]) é especialmente
importante. Trata-se de um guia, passo a passo, de inúmeras maneiras
para instigar e apoiar levante popular, criar ‘clima’ que leve à
insurgência e/ou provocar golpe de Estado. O guia completa-se com uma
seção de “Prós e Contras”:
Em geral, é mais fácil instigar e apoiar
insurgências rebeldes, se se está fora do país alvo (...). Sabe-se
muito bem que é barato instigar e apoiar levantes em outros países (...)
Os EUA sempre podem oferecer apoio a rebeldes em outros países,
preservando para si condições de “negabilidade plausível” [29a] (...),
[com menos] efeitos diplomáticos e políticos (...) do que se os EUA
tivessem de empreender ação militar direta (...). Tão logo o regime
esteja já suficientemente minado, surge a oportunidade para agir
diretamente.
A “ação militar”, diz o documento, só
será empreendida depois de tentadas várias outras opções que tenham
fracassado, de modo que a “comunidade internacional” possa concluir, no
caso de ataque, que “[o próprio governo atacado] condenou-se, ele mesmo,
a ser atacado”, porque se recusou a aceitar as boas condições de
rendição que lhe foram propostas.
Veem-se em plena operação na Síria
vários itens da ‘receita’ para instigar levantes populares e para
construir “situação de plena guerrilha” em país estrangeiro que se lê em
[3], dentre os quais, por exemplo:
– “Financiar e ajudar a organizar grupos
locais da oposição ao governo [a ser ‘instabilizado’], inclusive grupos
étnicos “infelizes”;
– “Construir capacidade na ‘oposição
efetiva’ com a qual podemos trabalhar” para “criar liderança alternativa
que possa assumir o poder”;
– Prover equipamento e apoio clandestino
(direto ou indireto) aos grupos, inclusive armamento, além de “máquinas
de fax (...) acesso à internet, dinheiro”. (Sobre o Iraque, o documento
relata que “a CIA encarregou-se de parte significativa dos suprimentos e
do treinamento dos grupos da oposição local, como fez ao longo de
décadas, em todo o mundo”);
– Treinar agentes locais e facilitar os serviços de comunicação e produção de noticiário nos grupos de ativistas da exposição;
– Construir uma narrativa “com o apoio
dos veículos de mídia nos EUA que reforce os traços negativos do regime
local e dê destaque a críticas que, sem o reforço da nova narrativa,
poderiam permanecer na obscuridade”; é crucial, para o colapso do
regime, que ele seja “desacreditado entre os ‘formadores de opinião’”;
– Criar orçamento folgado para financiar
grande número de iniciativas lideradas pela sociedade civil (o chamado
“fundo de $75 milhões”, criado pela ex-secretária de Estado Condoleezza
Rice, financiou vários grupos da sociedade civil, inclusive “um punhado
de think-tanks e instituições no ‘Cinturão do Poder em Washington’
[orig. Beltway-based think-tanks and institutions] que se converteram em
fonte de material a ser publicado sobre o Irã, em toda a imprensa”)
[30]; e, dentre outros:
– Criar um corredor adjacente, em país
vizinho “para ajudar a desenvolver a infraestrutura necessária para
apoiar as operações para mudança de regime”.
“Além disso”, prossegue o relatório, “a
pressão econômica feita pelos EUA (e às vezes também a pressão militar)
contribui para desacreditar o governo local, e a população passa a
tender na direção da oposição.”
Os EUA e seus aliados, especialmente a
Grã-Bretanha [31] e a França, financiaram e ajudaram a “modelar” a
oposição desde o início – em ações iniciadas pelos EUA em 2006, com o
objetivo de construir uma frente de oposição contra o governo de Assad,
retomadas depois do que foi definido como o “sucesso” do modelo do
Conselho de Transição na Líbia [32].
Apesar dos meses de trabalho –
predominantemente executado pelo ocidente –, na tentativa de reunir os
vários grupos dissidentes e criar um movimento unido de oposição, os
grupos continuaram “diversos e irreconciliáveis, como as muitas divisões
ideológicas, sectárias e generacionais presentes no país”.
“Nunca houve nem há hoje [na Síria]
nenhum tipo de tendência natural à unificação desses muitos grupos,
porque há entre eles contextos ideológicos completamente diferentes uns
dos outros e visões políticas divergentes, quando não antagônicas” –
concluiu um analista [33].
Recentemente, em visita ao ministro
britânico de Relações Exteriores, os vários grupos sequer aceitaram
participar de reunião conjunta com William Hague, motivo pelo qual se
realizaram várias reuniões, para que alguns grupos da ‘oposição’ síria
sequer precisassem ver-se [34].
Mesmo assim, apesar da falta de coesão,
de credibilidade interna e de legitimidade, essa oposição, reunida sob o
guarda-chuva de um Conselho Nacional Sírio [ing. Syrian National
Council (SNC), está sendo empurrada para ocupar o poder na Síria. O
processo exige que se construam capacidades, como reconhece até o
ex-embaixador da Síria aos EUA, Rafiq Juajati, atualmente na oposição.
Em meados de dezembro de 2011, em
reunião fechada em Washington DC, Juajati confirmou que o Departamento
de Estado dos EUA e o German Institute for International and Security
Affairs (SWP) – think-tank que produz análises de política exterior para
o governo alemão – estavam financiando um projeto administrado pelo US
Institute for Peace e pelo SWP, e executado em parceria com o Conselho
Nacional Sírio, de formação de governantes, preparando o Conselho
Nacional Sírio para tomar o poder e governar a Síria.
Burhan Ghaliyoun, do Conselho Nacional
Sírio, revelou (para “acelerar o processo” da queda de Assad) [35] as
‘competências’ para governar que lhe estavam sendo ‘ensinadas’: “Nenhuma
relação especial com o Irã; romper o relacionamento de exceção que há
entre Síria e Irã implica quebrar aquela aliança militar estratégica”. E
acrescentou: “depois da queda do regime sírio, o Hezbollah nunca mais
será o mesmo” [36].
Descritos na revista Slate [37] como “a
oposição mais liberal e de tendências mais claramente pró-ocidente de
todas os levantes da Primavera árabe”, os grupos da oposição síria
mostram-se tão cordatos e obedientes quanto a oposição líbia antes da
queda de Muammar Gaddafi, que o New York Times descrevia como
“profissionais seculares de cabeça aberta – advogados, professores,
empresários – que falam de democracia, transparência, direitos humanos e
obediência à lei” [38]. Talvez tenha sido tudo isso, mas só até
entrarem em cena, na Líbia, o ex-comandante do Grupo de Combate Islâmico
Líbio [orig. Libyan Islamist Fighting Group] Abdulhakim Belhaj, e seus
soldados jihadis.
A entrada de armas, equipamento e força
de trabalho (vindos predominantemente da Líbia) [39] e o treinamento
oferecido pelos exércitos e outros grupos ligados aos EUA, à OTAN e a
seus aliados regionais, começaram na Síria em maio-abril de 2011 [40],
segundo vários informes [41], e são coordenados a partir da base da
Força Aérea dos EUA em Incirlik, sul da Turquia. Também a partir dessa
base, uma força tarefa especializada coordena as comunicações com os
serviços implantados na Síria, através do Exército Síria Livre. Toda
essa operação clandestina de apoio continua ativada, como informava o
American Conservative, em meados de dezembro.
Aviões de guerra da OTAN sem
identificação na fuselagem estão chegando a bases militares turcas
próximas de Iskenderum, na fronteira síria, desembarcando armas (...) e
voluntários do Conselho Nacional Líbio de Transição (...) Em Iskenderum
funciona também a sede do Exército Síria Livre, braço armado do Conselho
Nacional Sírio. Instrutores das forças especiais britânicas e francesas
estão estacionados naquela base, oferecendo assistência aos rebeldes; e
agentes especialistas da CIA e das Forças Especiais dos EUA instalam e
operam equipamentos de comunicação e inteligência, como contribuição à
causa dos rebeldes, para que os combatentes evitem concentrações de
soldados sírios [42].
Em abril de 2011, o Washington Post
revelou que documentos recentemente vazados por WikiLeaks mostravam que o
Departamento de Estado dos EUA, desde 2006, vinha repassando milhões de
dólares a grupos de exilados sírios (inclusive, em Londres, ao
Movimento por Justiça e Paz, afiliado da Fraternidade Muçulmana) e a
indivíduos, servindo-se para isso, como intermediário, de uma
“Iniciativa de Parceria para o Oriente Médio” [orig. Middle East
Partnership Initiative] administrada por uma fundação dos EUA, conhecida
como “Democracy Council” [43].
Telegramas vazados por WikiLeak
confirmaram que todo esse processo de financiamento continuava ativado
ainda na segunda metade de 2010; e a mesma tendência está hoje muito
reforçada e expandida, depois que os EUA optaram pelo “soft power”
orientado para ‘mudança de regime’ na Síria.
Enquanto esses discursos dos
neoconservadores que exigem ‘mudança de regime’ na Síria vão ganhando
força dentro do governos dos EUA [44], a mesma política vai sendo
institucionalizada também nos principais think-tanks a serviço da
política exterior dos EUA – muitos dos quais organizaram “divisões
sírias” ou “grupos de trabalho sobre a Síria” que, todos eles, operam em
íntimo contato com diferentes grupos das oposições sírias (por exemplo o
USIP [45] e a Foundation for the Defense of Democracy) [46], que já
publicaram grande quantidade de artigos e análises, todos favoráveis à
mudança de regime na Síria.
Na Grã-Bretanha, outro instituto dos
neoconservadores, a Henry Jackson Society (que “apóia a manutenção de
forte presença militar dos EUA, dos países da União Europeia e outros
estados democráticos, armada e com capacidades expedicionárias de
alcance global” e que acredita que “só os modernos estados democráticos
liberais são realmente legítimos”) está, simultaneamente, promovendo a
agenda da ‘mudança de regime’ na Síria [47].
Nesse caso, a Henry Jackson Society
trabalha em parceria com várias figuras da oposição síria, dentre as
quais Ausama Monajed [48], ex-líder dos exilados sírios, o Movimento por
Justiça e Desenvolvimento, ligado à Fraternidade Muçulmana, fundado
pelo Departamento de Estado dos EUA em 2006, como WikiLeaks informou.
Monajed, membro do Conselho Nacional
Sírio, dirige hoje uma empresa de Relações Públicas [49] fundada
recentemente em Londres; foi o primeiro a usar a palavras “genocídio”
aplicada aos eventos na Síria, em press-release distribuído pelo
Conselho Nacional Sírio [50].
Desde o início, a Turquia foi
pressionada a criar um “corredor humanitário” ao longo da fronteira com a
Síria. O objetivo, como se vê delineado em “Qual o Caminho até a
Pérsia?” (orig. “Which Path to Persia?” [3], é criar uma base de
lançamento e operações para a insurgência controlada e apoiada do
exterior.
Esse “corredor humanitário” está sendo
planejado para ser tão humanitário quanto as quatro semanas de
bombardeio pela OTAN contra a cidade de Sirte, quando a OTAN cumpria o
mandado do Conselho de Segurança da ONU, de “responsabilidade de
proteger”.
Nada disso implica que não haja genuíno
movimento popular na Síria contra a infraestrutura do governo dominada
pelas forças da repressão, presente em todos os aspectos da vida das
pessoas, sejam comandadas pelas forças do Estado sírio, pelos grupos
armados da oposição e por misteriosos personagens que ninguém conhece,
uma terceira força clandestina, que opera para alimentar a crise na
Síria, composta de insurgentes [51], quase todos jihadis vindos dos
vizinhos Iraque e Líbano (e mais recentemente também da Líbia) dentre
outros.
Todas essas dificuldades são inevitáveis
em conflitos de baixa intensidade. Críticos respeitados [52] que se têm
manifestado contra o projeto de ‘mudança de regime’ comandado na Síria
por EUA-França-Reino Unido-monarquias do Golfo, clamam desde o início
por transparência e exigem punição de todos os funcionários e militares
(“inclusive os de alto escalão”) que sejam condenado por prática de
abuso contra direitos humanos.
Ibrahim al-Amine escreve que membros do
governo reconhecem “que o uso extremo da força como medida de segurança
provocou graves danos em vários casos e regiões; que a resposta aos
protestos populares interpretou mal aqueles protestos; e que, se os
tivesse interpretado adequadamente, teria sido possível conter as
agitações mediantes providências claras e firmes – como prender os
responsáveis por tortura de crianças em Deraa”. Diz também que é
vitalmente importante e urgente que se implante o pluralismo político e
ponha-se fim a qualquer tipo de repressão não controlada [53].
Mas o que começou como protesto popular,
focado inicialmente em questões e incidentes locais (como o caso de
tortura de meninos em Dera, por agentes das forças de segurança) foi
rapidamente ‘capturado’ e posto a serviço do plano estratégico mais
amplo para derrubar o governo de Assad (‘mudança de regime’).
Há cinco anos, eu trabalhava para a ONU,
no norte da Síria, gerenciando um grande projeto de desenvolvimento
comunitário. À noite, depois das reuniões na comunidade, não era raro
encontrar agentes dos serviços de inteligência do exército (mukhabarat) à
espera de que esvaziássemos a sala, para que pudessem filmar e examinar
as anotações feitas nos flipcharts e cartazes que havia nas paredes.
Praticamente todos os aspectos da vida diária das pessoas eram
controlados por uma burocracia esclerosada e disfuncional da segurança e
do Partido Ba’ath, sem qualquer ideologia política, além do nepotismo e
da corrupção que acompanham inevitavelmente os poderes autoritários. O
controle era visível em, de fato, todos os aspectos da vida das pessoas.
A 3ª-feira, 20/12, teria sido, segundo
os noticiários, “o dia mais mortífero dos nove meses de protestos” na
Síria, “com massacre organizado” e “deserção em massa” de soldados do
exército regular, como informava a imprensa internacional, em Idlib,
norte da Síria. O Conselho Nacional Sírio declarava que a Síria estaria
“exposta a genocídio em grande escala”; e lamentava os “250 heróis
tombados no período de 48 horas”, repetindo números divulgados pelo
Observatório Sírio de Direitos Humanos [54]. Citando a mesma fonte, o
Guardian noticiava que:
“O exército sírio... caça desertores,
depois de soldados (...) terem assassinado cerca de 150 homens que
tentavam desertar de suas bases militares. Começou a emergir um quadro
(...) de deserção em massa (...) que parece ter levado a resultados
trágicos (...), com soldados leais a Assad posicionados para matar os
desertores que tentavam escapar de uma base militar. Os que conseguiram
escapar foram depois selvagemente caçados nas montanhas próximas, como
informam várias fontes. O Observatório Sírio de Direitos Humanos estima
que 100 desertores foram sitiados e em seguida ou assassinados ou
feridos. Soldados leais a Assad também caçaram e mataram moradores que
haviam dado abrigo aos desertores. [55]
O blog atualizado ao vivo na página do jornal Guardian citava o grupo AVAAZ, que divulgara que “269 pessoas morreram nos confrontos” e reproduzia a estatística detalhada de AVAAZ: “163 revolucionários armados, 97 soldados do governo Assad e 9 civis” [56]. Mas o Guardian anotou diligentemente que “o grupo AVAAZ não oferece qualquer prova da correção daqueles números.”
O Washington Post só noticiou que
mantivera contato com “um ativista do grupo AVAAZ [o qual] dissera que
falara com ativistas locais e grupos médicos, e que falou de “269 mortos
naquela área, na 3ª-feira” [57].
Um dia depois das primeiras notícias
sobre o massacre de desertores em fuga, porém, a história mudou. Dia
23/12, o Telegraph noticiou:
As primeiras notícias falavam de
desertores do exército regular que estariam tentando fugir para a
Turquia, para unir-se ao Exército Síria Livre. Agora, se diz que seriam
civis desarmados, tentando fugir do exército regular, que tentava ocupar
a área. Foram cercados por soldados e tanques e metralhados até não
haver sobreviventes, segundo os últimos relatos. [58]
Dia 21/12, o New York Times noticiou que
os “massacrados” eram “civis e manifestantes desarmados, entre os quais
não havia desertores, como informa o grupo AVAAZ”. Citou a manchete do
Observatory que falava de “massacre organizado”; e disse que esse relato
confirmava as palavras de uma testemunha de Kfar Owaid: “As forças de
segurança tinha lista de nomes dos que organizaram os manifestos contra o
governo (...). As tropas abriram fogo, usando tanques, foguetes e
metralhadoras pesadas [e] bombas de fragmentação, carregadas com
pregos, para aumentar o número de baixas [59].
O LA Times citou um ativista
entrevistado na conexão por satélite, o qual, de onde estava
(“escondendo-se entre a vegetação local”) comentou: “A palavra
‘massacre’ é fraca demais para contar o que aconteceu.” Simultaneamente,
o governo sírio informava que, nos dias 19 e 20 de dezembro, matara
“dezenas” de membros “de uma gangue de terroristas armados” nas cidades
de Homs and Idlib fizera vários prisioneiros [60].
Provavelmente, nunca se saberá a verdade
sobre esses dois dias “mortíferos”. Os números noticiados (entre 10 e
163 insurgentes armados; entre 9-111 civis desarmados; e entre 0 e 97
soldados do governo Assad) diferem tão completamente, tanto no número de
mortos quanto na descrição das vítimas, que é impossível inferir
qualquer “verdade” desse tipo de informação.
Sobre outro “massacre” noticiado antes,
investigação do Instituto Stratfor “não encontrou qualquer sinal de
massacre”. A investigação concluiu que “forças da oposição têm interesse
em manter em circulação a ideia de massacres sempre iminentes, na
esperança de, com isso, reproduzir as condições que levaram à
intervenção militar na Líbia” [61].
Seja como for, o “massacre” dos dias
19-20/12 em Idlib foi noticiado como fato, e acrescentou-se à narrativa
que se implantou sobre Assad e sua “máquina de matar”.
Dois relatórios recentemente divulgados,
do Comissário da ONU para Direitos Humanos e um arquivo de dados [62]
sobre mortos “no sangrento levante sírio” publicado num blog do Guardian
(13/12) – duas tentativas para estabelecer a verdade sobre o número de
mortos no conflito sírio – reproduzem, exclusivamente, dados divulgados
por grupos da oposição: entrevistas com 233 supostos “desertores do
exército” (no caso do relatório do Comissário da ONU); e números
divulgados pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos; pelos Comitês
Locais de Coordenação (orig. Local Co-ordination Committees, LCCs); e
pela rede al-Jazeera (no caso do Guardian).
O Guardian fala de um total de 1.414,5
pessoas (sic) assassinadas – entre as quais 144 agentes de segurança da
Síria – entre janeiro e 21/11/2011. Reprodução, exclusivamente, de
informações publicadas, essa matéria traz vários erros flagrantes
(p.ex., o número de mortos total, não é a soma do número de mortos por
locais, de que falam as fontes): nesse total foram somados 23 sírios
mortos pelo exército de Israel em junho, nas colinas do Golan; e 25
noticiados como “feridos” também são somados como mortos, além de vários
feridos a tiros.
O relatório jamais menciona os
insurgentes armados mortos ao longo de dez meses: as vítimas sempre são
“manifestantes desarmados”, “civis” ou “pessoas” – além de 144 agentes
da segurança.
70% dos dados reproduzidos nessas
matérias têm, como fonte, o Observatório Sírio de Direitos Humanos, os
Comitês Locais de Coordenação (orig. Local Co-ordination Committees,
LCCs) ou, então, “ativistas”; 38% de tudo que a mídia publicou é
reprodução de matéria da rede al-Jazeera; 3% reproduz matéria da ONG
Anistia Internacional; e 1,5% reproduz matéria de fontes oficiais
sírias.
Em resposta ao relatório do Comissário
da ONU, o embaixador na Síria à ONU comentou: “E por que alguém
entrevistaria desertores, se quisesse ouvir testemunho confiável e
isento? São desertores... Evidentemente falarão contra o governo sírio.”
No esforço para inflar o número de
mortos, o grupo AVAAZ já superou até a ONU. O grupo AVAAZ já declarou
publicamente, até, que está envolvido na atividade de “tirar
clandestinamente manifestantes, do país”; que mantém “abrigos
clandestinos seguros, usados para abrigar os manifestantes mais visados
pelos terroristas do governo Assad”; e um “cidadão jornalista do AVAAZ”
“descobriu uma cova clandestina, para esconder centenas de cadáveres”
[63].
O próprio grupo anunciou com orgulho que
as redes BBC e CNN divulgaram que cerca de 30% do noticiário sobre os
eventos da Síria, naquelas redes, é informação distribuída por AVAAZ. O
jornal Guardian divulgou, há alguns dias, que AVAAZ teria encontrado
“provas” de mais de 6.200 mortos na Síria (forças de segurança e 400
crianças); que o grupo poderia afirmar com certeza que 617 daqueles
mortos morreram sob tortura [64]. A “prova” estaria na confirmação, de
cada uma das mortes, que AVAAZ teria obtido de três pessoas, “entre as
quais um parente do morto e um clérigo que cuidou do sepultamento”. É
‘prova’ que, para dizer o mínimo, nada prova.
A notícia que se lê num jornal de Homs,
do assassinato de um general-brigadeiro e seus filhos, naquela cidade,
em abril de 2010, ilustra a impossibilidade quase total de ‘provar’
responsabilidades, antes de qualquer investigação séria, no auge de um
conflito sectário e, menos ainda, no caso de o morto ser militar
graduado e filhos:
Um general, que se acredita ser Abdu
Tallawi, foi morto com seus filhos e um sobrinho, quando atravessavam,
em veículo militar, um bairro muito agitado. Há dois relatos dos fatos, e
divergem quanto à religião da vítima.
Os legalistas dizem que teria sido morto
por takfiris – islamistas fanáticos, que acusam outros muçulmanos de
heresia –, porque o morto seria islâmico alawita. A oposição a Assad
insiste que o morto seria da família Tallawi de Homs, e que teria sido
morto por forças de segurança, para acusar a oposição. Há quem diga,
até, que teria sido morto porque se recusou a atirar contra os
manifestantes, mas não se deve considerar essa terceira versão, dada a
extrema polarização das opiniões em Homs.
O general-brigadeiro foi morto porque
trafegava em veículo militar, embora levasse os filhos. Quem o matou não
se interessava por diferenças religiosas e só pensava em atacar membro
do governo, para provocar repressão ainda mais violenta, a qual, por sua
vez, aprofundaria o movimento de protestos e o Estado, no mesmo ciclo
de violência [65].
Aisling Byrne coordena projetos do Conflicts Forum em Beirute.
Nenhum comentário:
Postar um comentário