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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Brizola, sempre vivo, aos 90 anos

Brizola, vivo, celebraria 90 anos neste domingo. Eu, particularmente, tenho muito a ver com isso. Cassado, como oficial de Marinha, em 64, as "acusações" contra mim se dividiam entre comunista e brizolista, por ter apoiado de forma ativa o governo Jango (como jovem tenente, fiz parte do gabinete de seu último Ministro da Pasta).
No início da luta aberta pela redemocratização, já nos anos 80, fui oposição a ele por várias razões. A primeira se fixava no entendimento de que, no retorno do exílio, seu projeto pessoal se sobrepunha à necessária unidade das oposições na luta final e decisiva contra a ditadura. Me reforçava tal avaliação, a hesitação inicial de Brizola que, como governador, não se engajara inicialmente na luta pelas Diretas (vista como algo muito próximo aos "autênticos" do MDB). O que me fez jogar para escanteio, por desentendimento ou por preconceito ideológico, seu projeto corajoso na área da Educação, e seu respeito concreto pelas camadas mais pobres da população. Mas deve se levar em conta que, para quem tinha Cibilis e patota ao lado, dando ordens no primeiro escalão, tudo era passível de dúvidas.
Nos anos 90 me reaproximei de Brizola de forma definitiva e integral. Já deputado, tive nele um aliado mais sólido na luta contra as privatizações criminosas do mandarinato FHC do que em alguns segmentos dirigentes do meu próprio partido - o saudoso e combativo PT de oposição - , por conta de suas correntes ditas anti-estatistas.
Ainda lembro o desfecho da dura disputa com Zé Dirceu, pela presidência do PT, em 97, no Congresso do Glória, onde, em função da significativa votação dos delegados (obtive 47% dos votos contra 49% de Zé Dirceu, que tinha Lula e o então presidente da CUT fazendo boca de ura em seu favor), a imprensa me procurava para saber se eu pretendia liderar alguma dissidência. Deixei claro que não. E que minha concepção de luta unitária ia adiante das fronteiras do próprio Partido.
Havia uma razão muito especial para tal afirmativa.
No Congresso, como visitante, Brizola havia sido aclamado em seu discurso. E eu via aí a razão para uma  unidade eleitoral fortíssima, sugerindo o nome do dirigente do PDT à vice de Lula, na campanha presidencial do ano seguinte. Seria a aliança do socialismo democrático, que caracterizava, então, o eixo programático do PT, com o nacional-popular que o PDT de Brizola expressava.
Foi meu primeiro grande confronto com Lula que, já nessa ocasião, preferia ter um empresário conservador como vice, para se mostrar palatável ao grande capital.
Na fundação do PSOL, tivemos em Brizola, Heloisa Helena e eu, nas visitas secretas após reuniões no Rio, um grande incentivador. Como se visse nessa nova legenda em gestação uma alternativa combativa que lhe recuperasse esperanças já então bem desgastadas. Foi aí que a reaproximação política, iniciada no combate ao neoliberalismo tucano-pefelista, se transformou em amizade pessoal.
Sofremos muito, nós do PSOL que cogitávamos de uma aliança com o PDT na campanha de 2006, com seu falecimento. Entendemos o que representaria a sua perda no combate nacional, fato constatável com a degradação posterior da direção do PDT.
Hoje, vivo, Brizola faria 90 anos, certamente com o mesmo vigor cívico que marcou toda a sua vida, e que reconhecemos e louvamos, a despeito de divergências que pudéssemos ter tido em momentos distintos da história recente do País.
Por conta desta data, reproduzimos o texto alusivo que nos é encaminhado pelo Brizolista histórico, o combativo Ronald Barata. Companheiro Brizola! Sempre presente!

ANO 117 Nº 114 - PORTO ALEGRE, DOMINGO, 22 DE JANEIRO DE 2012
Brizola, o reformador
<br /><b>Crédito: </b> ARTE PEDRO SCALETSKY

Crédito: ARTE PEDRO SCALETSKY
Hoje, se vivo fosse, Leonel "Itagiba" de Moura Brizola completaria 90 anos de idade. Pode-se dizer, sem exagero, Brizola Vive! Ele, Jango e Getúlio formam a trinca de políticos gaúchos mais importantes dos últimos 80 anos. Brizola ainda deslumbra seus admiradores pela coragem, pela ousadia, pelas grandes reformas - encampou duas empresas multinacionais incompetentes e parasitas - e pelo papel que desempenhou em relação à reforma agrária e à educação. Digo, depois de muito estudar, que Leonel Brizola foi o melhor governador da história do Rio Grande do Sul. Hoje também é o dia dos 50 anos do começo da luta por reforma agrária no Banhado do Colégio, em Camaquã, onde o agricultor Epaminondas Silveira e o padre Léo Schneider lideraram comboio de 2 mil pessoas, de carroça, charretes, a cavalo e a pé, por 10 quilômetros. Exigiam que o governo retomasse terras do Estado griladas por fazendeiros. Brizola entrou na parada e mudou o jogo.

É emocionante ler as manchetes dos jornais da época. Capa da Última Hora: "Camaquã imita Sarandi - Mais de 2 mil camponeses pedem terra". Outra da intrépida UH: "Colonos de Camaquã - Só a morte nos expulsa daqui". Os fazendeiros queriam que o III Exército fizesse o serviço sujo e expulsasse os sem-terra. Brizola preferiu um caminho inusitado como destaca Elio Copes: "Decretou a área do Banhado do Colégio (cerca de 20 mil hectares) de utilidade pública para fins de reforma agrária, deu apoio ao acampamento, tais como, alimentação, atendimento de saúde e iniciou um trabalho de inscrição dos acampados, levantamento da condição social de cada família, que serviria para a seleção para, mais tarde, receberem os lotes. Após cinco meses do acampamento, tempo que levou para providenciar na documentação dos lotes, o então governador Leonel Brizola esteve no Banhado do Colégio, onde fez a entrega dos primeiros 134 lotes, marcando, assim, um novo marco de desenvolvimento para o local". Algo nunca visto antes.

Elio Copes organiza, em Camaquã, as comemorações desse cinquentenário da primeira reforma agrária realmente bem-sucedida do Brasil. Brizola era de faca na bota. Fez uma que cala todos os maledicentes. Promoveu reforma agrária na fazenda Pangaré, de sua propriedade, em Palmares. Distribuiu 1.080 de 2.300 hectares para pequenos agricultores plantarem arroz. Cada um recebeu um lote de 35 hectares, casa e três vacas holandesas. De fato, esse Brizola era muito perigoso, subversivo, assustador. Não cumpriu o papel tradicional de repressor de movimentos sociais, criou milhares de escolas, não se mixou para os americanos, enfrentou os interesses dos estancieiros donos do Rio Grande do Sul, suportou com galhardia o pau que levava diariamente dos setores conservadores da Assembleia Legislativa e, findo seu mandado de governador, elegeu-se deputado pelo Rio de Janeiro com um voto em cada quatro eleitores, como se diz, de cola em pé. Esse era de meter medo. Só podia virar inimigo público de todos os reacionários e dos golpistas de 1964.

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