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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

sábado, 2 de março de 2013

Carta aberta a um jovem militante MES- PSOL


Meu prezado Thiago Aguiar,

Por seu intermédio, tomei conhecimento de um texto de Roberto Robaina, assumindo defesa do MES contra “ataques” que eu teria feito a essa tendência do PSOL, assim como à pré-candidatura da brava Luciana Genro à Presidência da República. O texto é malandro, para dar-lhe definição sucinta. Não contesta a questão central por mim colocada, e usa o subterfúgio de abrir fogo para todos os lados como forma de não se definir séria, e honestamente, sobre o essencial. 
Portanto,  só por respeito à forma respeitosa com que você me enfrenta, sem concessões, nos debates políticos pelo FB, e pelo interesse que tenho em prestigiar jovem geração talentosa, mesmo que não concorde com seus referenciais teóricos, me proponho a responder, ponto-a-ponto.

1-    Nunca pretendi fazer o MES e Luciana de alvos. Pelo contrário, a despeito de divergências eventuais, a tendência sempre contou com minha solidariedade, principalmente quando atacada duramente por alguns dos apoiadores que hoje recebe. Fui eu quem subiu no palco de um congresso estadual do PSOL-RJ para defender uma aliança – aliança de fato, e não apenas recebimento de apoio – com o PV do Rio Grande do Sul. Fui eu quem subiu no palco para defender como legítima a decisão dos companheiros em receber doação da Gerdau, na medida em que havia sido identicamente dada a todos os partidos, e não era produto de nenhum acordo bilateral. Tolice, seria abrir mão. Fui eu também o primeiro, e talvez único, a me comunicar diretamente om Roberto Robaina, quando, em nome do PSOL retirava a candidatura ao Senado numa disputa em que o risco era de ver Paulo Paim superado pela direita mais reacionária. Por que o fiz? Simples. Porque considerei correta a iniciativa, no contexto que os companheiros enfrentavam em cada ocasião. E por ter certeza de que tal movimentações não colocava em risco a integridade ideológica dos que lideravam o movimento. Avaliação que, e a despeito do que é escrito e dito de parte a parte, atualmente, não modifico. É da lógica da luta interna.
2-    O que me move hoje não é o ataque a A ou B. Não aceito que divulgar um debate entre Luciana e Carlos Nelson Coutinho, publicado em portal do núcleo, é “atacar”Luciana.  Mas  me move a proteção contra ataques até caluniosos que, desde 2010, vêm sendo feitos contra o senador Randolfe Rodrigues, de quem, até hoje, só vejo razões para registrar um excelente potencial de parlamentar combativa.. Pelo contrário. Randolfe e Clécio, sim, têm sido alvo de algo inqualificável, em se tratando de companheiros de um partido que se pretenda revolucionário. Me refiro como exemplo à entrevista de Clécio a Fernando Rodrigues, no portal do UOL, em que Clécio falou até em reestatização da Vale.  Mas cujo destaque, para todo o partido, foi uma caluniosa versão de que ali ele defendera doação de bancos a nossas campanhas. Clécio nunca disse isso. E quem viu a íntegra pode constatar, Mas, a mairia dos militantes com que discuti sequer haviam visto essa íntegra.  Está lá no YouTube, ou no portal da UOL para se confirmar sua defesa do financiamento público, e, depois de muita insistência do experiente apresentador quanto à realidade do financiamento privado, a afirmação de que “temos que lutar com as armas acessíveis ao adversário”.  Uma citação, usada fora do contexto, na ocultação de quase uma hora de excelentes respostas a outros temas.
3-    Não vou me rebaixar a responder à calúnia de que “caluniei” o MES no DN, pela autocrítica que fiz – e da qual ganho razões para me arrepender – do uso equivocado de uma parte, uma parte, repito, de uma informação não desmentida no restante, quanto a polêmicas decisões do MES. Não é uma declaração digna de quem respeita a divergência.
4-    Quanto a “posições oscilantes”, dessas Robaina entende, como praticante, embora me tente imputá-las. Inclusive quando falta com a verdade como constataremos no item seguinte. Pergunte a ele, Thiago,  quem escreveu um livro atacando Carlos Nelson Coutinho, com o velho cantochão de “reformismo direitista”, ainda no PT, e que depois me procurou, pedindo interferência para que o mesmo Carlos Nelson Coutinho aceitasse ser o orientador de uma tese que pretendia fazer em doutorado. Quanto à minha assinatura de tese com o MTL no Congresso, é verdade. Mas com uma diferença. Para ter minha assinatura, na condição de independente, os líderes da corrente me visitaram em casa, e a tese foi definida por minha redação final. Houvesse uma APS, ou uma dissidência paulista do Enlace, com expressão militante aqui no Rio, e possivelmente assinaria com um deles. E não renego. Minha raiz teórica é Marx e Lenin. Do trotsquismo, só textos de Daniel Bensaid e Michel Lowy. Moreno, nem pensar.
5-    Reunião de Maceió – Robaina confirmou a realização, ainda no primeiro semestre de 2009 que, bizarramente, afirma não ter tido “caráter decisório”  como a recente reunião realizada na casa de Chico Alencar, divulgada por mim no FB. Pois se houve reunião extra-instâncias com caráter decisório foi a que agregou o MES-MTL- HH e eu (os participantes são assim nomeados na carta de Robaina) em Maceió. E por que decisória? Por ser parte de uma manobra que já visava uma operação concretizada meses depois: a renúncia de HH a uma candidatura cujas pesquisas de época eram unânimes em indica-la com dois dígitos, enquanto o nome de uma certa Marina Silva, ex-ministra de Lula durante 7 anos, não passava de ridícula pontuação. HH não queria se submeter a um “novo sacrifício” de disputa sem expectativa, e tinha como certa uma vitória para o Senado. Eu me coloquei contra a aprovação entusiástica do MES e do MTL – embora Janira Rocha discordasse de Martiniano e Jefferson, e defendesse a candidatura própria - . E meu argumento era claro: Marina, eu conhecia bem. Não só da vida interna do PT, onde sempre esteve nas posições mais conservadoras, quanto no mandato de Senadora, onde eu, deputado federal, a enfrentava com sua “oposição” propositiva a FHC, numa cumplicidade com Jorge Viana, então governador do Acre, e totalmente vendido ao tucano predador.
6-    Nessa reunião já ficou clara a rejeição a algo que Robaina invoca como condicionante para o apoio, mostrando a falácia da sua argumentação. Por pressão minha, HH faz uma ligação telefônica a Marina. Propunha fornecer o vice e participar da discussão de programa. Marina pediu um tempo. Ia se reunir, naquele momento, com a direção do PV.  Pouco depois, deu o retorno: o PV decidira uma estratégia de campanha e de política de alianças onde não existia compatibilidade possível de acordo político com o PSOL. Isto, repito, no primeiro semestre de 2009. Ou seja, peca por vício de origem a afirmação de Robaina quanto a condicionamentos de apoio a Marina–  cuja bajulação ficou mantida, de forma humilhante, até janeiro de 2010 . Foram necessárias duas entrevistas de Marina, uma delas elogiando Henrique Meirelles, para se concluir que a farsa não podia mais caminhar. Uma farsa que tinha, a partir do MTL, como causa, uma guinada à direita, hoje concretizada. Mas no que diz respeito ao MES, a uma operação casada pela qual a legenda via o caminho para a tomada da hegemonia do partido: Luciana, eleita deputada federal com ampla votação, e HH, senadora, se  juntando e compondo maioria de prestígio social incontestável. Operação digna de uma “esquerda de resultados”, como bem classificou um outro membro do DN, e que todas as demais correntes viam e comentavam abertamente.
7-    Sobre a prévia Martiniano-Plínio, nada a comentar, a não ser ter sido causadora da decisão  de PSTU e PCB lançarem candidatura própria, por não terem mais como aguardar.
8-    Robaina não contesta nenhum desses  pontos, em sua resposta. E, não por acaso. Havia gente demais participando, ou testemunhando,  da manobra. Recorre, então, a o escapismo. Um adjetivo, aqui, um outro tema mais adiante, e desvia o foco da questão central – qual dos fatos por mim relatados ele contesta?
9-    Por que reproduzi uma página do núcleo ZS do PSOL do Rio com a carta de Carlos Nelson Coutinho a Luciana? Atentem sobretudo que a publicação é de 16 de novembro, vários meses após, portanto, à reunião de Alagoas. Vários meses de bajulação sem que a ecocapitalista sequer se dignasse em enviar algum sinal. Pelo contrário. Prevaleciam as seguidas entrevistas de Alfredo Sirkis, explicitando absoluto desprezo pela nossa “démarche”. Reproduzi para comprovar que a campanha violenta, agressiva e por vezes insultuosa, mobilizada pelo dito Bloco de Esquerda, contra Randolfe e Ivan Valente, não procedia se levamos em conta fato semelhante, anteriormente ocorrido. Com uma vantagem para Randolfe: seu mandato era intocável, irrepreensível, e se no caso de Marina houve proposta de aliança subalterna, no caso de Randolfe tratou-se apenas de recebimento de apoios.
10-Por fim bravo Thiago, gostaria imensamente de ver desmentido o envio de uma carta de Robaina, saudando o Forum Marina Silva, realizado em Belo Horizonte, em 2011.
11- Vamos às tergiversações, com respeito à minha omissão quanto ao apoio que a APS, via Ivan Valente e Randolfe, também teriam dado a Marina. Lamento, Thiago, por não ter com a APS, naquela ocasião,  a intimidade de debates internos que Roberto Robaina mostra ter tido. Se eu tivesse sido convidado para alguma reunião com qualquer um que apoiasse Marina, minha posição não teria sido distinta. Minhas posições, então, eram transparentes e públicas como o são agora.
12-Passo à forma grosseira do tratamento das divergências internacionais. E respondo no mesmo tom. Prefiro marcar minha posição nos conflitos por uma lógica: onde está o imperialismo, ou me abstenho ou estou do lado oposto. Há, lamentavelmente, e principalmente nas correntes ligadas à IV Internacional, uma bizarra tendência a aceitar o conceito de “guerra humanitária” e a intervenção dos bombardeios da OTAN contra populações civis, em nome do combate aos ditadores. Eu fico contra essa posição, com oposições internas que negam intervenção estrangeira, defendida por um dirigente importante do DN – não era do MES - que não hesitou em qualificar como justificadas as bombas sobre a população civil de Tripoli. Fico por aqui, por mais não merecerem.
13- Concluindo, prezado Thiago, registro meu orgulho com o desempenho de nossas bancadas federais, na Câmara e no Senado, pela combatividade incessante e o compromisso com a luta dos trabalhadores contra o grande capital. Ivan, Chico,Jean e Randolfe, qualquer um desses me representaria plenamente num debate de disputa com a direita pela Presidência da República. E Luta e Debate que Seguem!! Pois o PSOL  não tem porque não ser transparente em suas discussões. 
                                                              Saudações fraternas,

                                                                                        Milton Temer


2 comentários:

  1. perfeito milton, ótima a sua análise de toda a situação. Abraço camarada!

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  2. Somente um comentário em relação ao apoio a Marina que a APS teria dado em 2010: cogitamos, sim, essa possibilidade, porém sob critérios rígidos. Propusemos um documento, aprovado na direção do partido, com vários pontos programáticos como pré-requisito, entre os quais encontravam-se a crítica severa à política econômica do governo, reforma agrária e reestatização da Vale. Graças a esse mesmo documento, as negociações foram finalizadas. Isso se não me falha a memória. Ao contrário dos critérios defendidos pelo MES, expressos na carta de Luciana, em que a única preocupação era o espaço eleitoral propiciado pela Marina, sem discutir uma vírgula do programa. Afinal, o que importa é tão somente fortalecer a direção revolucionária redentora da missão histórica dos trabalhadores. Como isso será feito? Não importa. O que importa são os resultados! E a coerência é o nosso forte! Essa última frase pode ser o título da tese deste grupo para o próximo congresso: "Para fazer o PSOL brilhar, coerência é o nosso forte!".

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