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Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Antissemitismo e as esquerdas, fronteiras e armadilhas






“As esquerdas e o antissemitismo”, foi este o tema do debate de que participei no fim de tarde do domingo, na ASA, sociedade judaica progressista, com cujo programa tenho muita proximidade.
Foi um debate duro. Porque não há como debater seriamente o tema proposto sem que a conjuntura do Oriente Médio, particularmente a ocupação da Palestina pelo Estado de Israel, entre na roda. Afinal, é por conta da tomada de posições em relação a esse conflito que se forjam “definições”  de acordo com as posições tomadas.
Tive muitas dúvidas, antecipadamente, na forma de enfrentar o debate, tendo em vista que tenho lado na questão em pauta. Não avalio o conflito como guerra entre dois Estados, mas sim como ocupação de um Estado pelo outro. Opressão de um Estado sobre um povo oprimido, e condicionado a viver sob  controle permanente de um Exército estrangeiro. Tenho, portanto, lado. Como tive na guerra do VietNam; no golpe contra Chavez; no golpe contra Allende. Como estou, na avaliação do bloqueio criminoso contra Cuba, e na forma como a blogueira da moda, compensada em dólares, presta serviço à mídia conservadora internacional na campanha contra o regime da Ilha.  Onde está o imperialismo, operando os interesses do complexo industrial-militar-petrolífero multinacional, eu estou contra.
Aí começa o problema na discussão com uma esquerda judaica, solidária com os Palestinos, mas profundamente  sensível à idéia de que o Estado de Israel não pode ser responsabilizado pelos crimes de seus governos.
Ora, tal preocupação em separar o Estado dos governos deve, antes de tudo, se questionar sobre a possibilidade, ou não, de as correntes de esquerda, humanistas, socialistas ou comunistas, da comunidade judaica, terem alguma condição de chegar ao poder em Israel, no contexto da atual geopolítica mundial.
Alguém acredita ser isso possível no Israel dos nossos dias, em boa parte financiado a fundo perdido por Wall Street, com aporte anual de armamento americano ainda não utilizado pelas próprias forças armadas do país? E  onde a cada eleição a dita vontade popular se encaminha mais  para a escolha de lideranças xenófobas e não raro favoráveis à expulsão dos Palestinos da Cisjordânia?
Aí se coloca, portanto, a questão principal que não vejo a esquerda judaica brasileira responder, teórica ou praticamente. Como exigir da esquerda mundial, anti-imperialista, socialista ou comunista, que não identifique Estado com as práticas dos governos?  
Por que tentam proteger um Estado que não tem em toda a sua história de existência uma única referência atenuante na opressão terrorista constante contra a população palestina? Um Estado acima das leis e deliberações da ONU, porque garantido pelo poder de veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da instituição? (ver sequência de ocupação no mapa acima)
E mais importante ainda. Como garantir, com tal postura, não estar se submetendo sem resistência aos preconceitos da direita reacionária judaica, ao insinuar insistir, em toda a contestação desse terrorismo de Estado, uma forma de antissemitismo simplesmente por não haver uma constante distinção entre o Estado e seus governos que, independentemente de sua maior ou menor identidade formal com uma origem de esquerda, exercem as mesmas políticas de ocupação?
Não, não pode ser tarefa da esquerda laica, internacional, ter a preocupação de formular a denúncia com os cuidados que tornem confortável a convivência da esquerda sionista com a direita xenófoba e reacionária que hegemoniza a comunidade, dentro e fora de Israel. É tarefa dessa esquerda sionista impedir que qualquer ataque mais agudo ao terrorismo de Estado de Israel traga um sintoma oculto de antissemitismo. Com isso, é possível um acordo. Como o acordo que já existe com Uvnery, Filkenstein, Chomsky e tantos outros julgados traidores pelos sionistas fascistas.
Foi importante para mim este debate de domingo, pela forma gentil, mas sem perda de combatividade, com que fui recebido. Mas não deixou de me acender uma preocupação com a forma o fato de ser judeu pode se  sobrepor, a algumas generosas cabeças pensantes, o fato de ser internacionalista de esquerda. Enfim, luta que segue porque o debate não se encerra.





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