MILTON TEMER
Odebate sobre os partidos ditos “nanicos”embute de fato outra questão determinante para os que demonizam minorias: a introdução da famigerada cláusula de barreira para formação de bancadas parlamentares. Ou seja, a possibilidade de transformar parlamentos em arena exclusiva de grandes partidos, onde as características desejadas são as anunciadas pelo bizarro líder do mais recente entre
eles, o PSD: “Nem de centro, nem de direita, nem de esquerda.” Resumindo:partidos pretensamente
sem definição ideológica, para melhor operar a mercantilizaçãodo voto, meta prioritária do grande
capital privado na sua fainapermanente de reduzir o Estado à condição de agente das suas operações
e interesses.
Mas o que registra a realidade objetiva do Primeiro Mundo, onde tal modelo predomina, duas
décadas depois do desmonte da União Soviética, da decretação do fim da História e da “vitória
definitiva” do capitalismo sobre o socialismo“real”? Nos Estados Unidos, mas principalmente na Europa, as ruas estão constantemente tomadas por multidões de indignados, inteiramente desiludidos com a dita “democracia ocidental”. É a instabilidade econômica, e social, marcando a conjuntura de mais uma crise do regime “vitorioso”, com a consequente esteira de desemprego e liquidação de
direitos sociais, para além de descrença crescente no futuro.
São, portanto, governos dos grandes e tradicionais partidos, com seus aportes de recursos públicos a bancos “grandes demais para quebrar”, que geraram a dúvida consequente na consciência dessa juventude revoltada.
Partidos políticos para quê, se entre eles nenhuma diferença existe na submissão ao
grande capital privado? Todos compondo o que o saudoso Carlos Nelson Coutinho definia
como americanalhização da política, ao se referir à falsa dicotomia ideológica entre
republicanos e democratas nos EUA. Ou ao“socialismo para os ricos”, na síntese de Noam Chomsky. É daí que vem a desmoralização da vida partidária, e não da existência
de “nanicos”.
Há partidos pequenos, no Brasil, que não valem em centavos o próprio tamanho? Sem dúvida. Mas se há é porque os grandes, anódinos, tão inúteis quanto eles nessa despolitização da política promovida pelo neoPT em seu ajuste à conciliação de classes, têm todo o interesse em mantê-
los. Pois é na negociata com eles que garantem seus infindáveis minutos nos horários obrigatórios de TV durante as campanhas eleitorais.
Não é, portanto, a dimensão, mas sim o caráter e a identidade ideológica que qualificam os
partidos. Com o fim do financiamento privado de campanhas, simultâneo ao voto de lista
partidária, a filtragem se daria de forma natural.Com base no programa de cada partido l
Milton Temer é jornalista e dirigente do PSOL
|
Quem sou eu
- Milton Temer
- Jornalista, por conta de cassação como oficial de Marinha no golpe de 64, sou cria de Vila Isabel, onde vivi até os 23 anos de idade. A vida política partidária começa simultaneamente com a vida jornalística, em 1965. A jornalística, explicitamente. A política, na clandestinidade do PCB. Ex-deputado estadual, me filio ao PT, por onde alcanço mais dois mandatos, já como federal. Com a guinada ideológica imposta ao Partido pelo pragmatismo escolhido como caminho pelo governo Lula, saio e me incorporo aos que fundaram o Partido Socialismo e Liberdade, onde milito atualmente. Três filh@s - Thalia, Tainah e Leonardo - vivo com minha companheira Rosane desde 1988.
Nenhum comentário:
Postar um comentário