Meu prezado Thiago Aguiar,
Por seu intermédio, tomei conhecimento de um texto de
Roberto Robaina, assumindo defesa do MES contra “ataques” que eu teria feito a
essa tendência do PSOL, assim como à pré-candidatura da brava Luciana Genro à
Presidência da República. O texto é malandro, para dar-lhe definição sucinta.
Não contesta a questão central por mim colocada, e usa o subterfúgio de abrir
fogo para todos os lados como forma de não se definir séria, e honestamente,
sobre o essencial.
Portanto, só por respeito
à forma respeitosa com que você me enfrenta, sem concessões, nos debates
políticos pelo FB, e pelo interesse que tenho em prestigiar jovem geração
talentosa, mesmo que não concorde com seus referenciais teóricos, me proponho a
responder, ponto-a-ponto.
1-
Nunca pretendi fazer o MES e Luciana de alvos.
Pelo contrário, a despeito de divergências eventuais, a tendência sempre contou
com minha solidariedade, principalmente quando atacada duramente por alguns dos
apoiadores que hoje recebe. Fui eu quem subiu no palco de um congresso estadual
do PSOL-RJ para defender uma aliança – aliança de fato, e não apenas
recebimento de apoio – com o PV do Rio Grande do Sul. Fui eu quem subiu no
palco para defender como legítima a decisão dos companheiros em receber doação
da Gerdau, na medida em que havia sido identicamente dada a todos os partidos,
e não era produto de nenhum acordo bilateral. Tolice, seria abrir mão. Fui eu
também o primeiro, e talvez único, a me comunicar diretamente om Roberto
Robaina, quando, em nome do PSOL retirava a candidatura ao Senado numa disputa
em que o risco era de ver Paulo Paim superado pela direita mais reacionária.
Por que o fiz? Simples. Porque considerei correta a iniciativa, no contexto que
os companheiros enfrentavam em cada ocasião. E por ter certeza de que tal
movimentações não colocava em risco a integridade ideológica dos que lideravam
o movimento. Avaliação que, e a despeito do que é escrito e dito de parte a
parte, atualmente, não modifico. É da lógica da luta interna.
2-
O que me move hoje não é o ataque a A ou B. Não
aceito que divulgar um debate entre Luciana e Carlos Nelson Coutinho, publicado
em portal do núcleo, é “atacar”Luciana. Mas me
move a proteção contra ataques até caluniosos que, desde 2010, vêm sendo feitos
contra o senador Randolfe Rodrigues, de quem, até hoje, só vejo razões para
registrar um excelente potencial de parlamentar combativa.. Pelo contrário.
Randolfe e Clécio, sim, têm sido alvo de algo inqualificável, em se tratando de
companheiros de um partido que se pretenda revolucionário. Me refiro como
exemplo à entrevista de Clécio a Fernando Rodrigues, no portal do UOL, em que
Clécio falou até em reestatização da Vale.
Mas cujo destaque, para todo o partido, foi uma caluniosa versão de que ali
ele defendera doação de bancos a nossas campanhas. Clécio nunca disse isso. E
quem viu a íntegra pode constatar, Mas, a mairia dos militantes com que discuti
sequer haviam visto essa íntegra. Está
lá no YouTube, ou no portal da UOL para se confirmar sua defesa do financiamento
público, e, depois de muita insistência do experiente apresentador quanto à
realidade do financiamento privado, a afirmação de que “temos que lutar com as
armas acessíveis ao adversário”. Uma citação,
usada fora do contexto, na ocultação de quase uma hora de excelentes respostas
a outros temas.
3-
Não vou me rebaixar a responder à calúnia de que
“caluniei” o MES no DN, pela autocrítica que fiz – e da qual ganho razões para
me arrepender – do uso equivocado de uma parte, uma parte, repito, de uma informação
não desmentida no restante, quanto a polêmicas decisões do MES. Não é uma
declaração digna de quem respeita a divergência.
4-
Quanto a “posições oscilantes”, dessas Robaina
entende, como praticante, embora me tente imputá-las. Inclusive quando falta com
a verdade como constataremos no item seguinte. Pergunte a ele, Thiago, quem escreveu um livro atacando Carlos Nelson
Coutinho, com o velho cantochão de “reformismo direitista”, ainda no PT, e que
depois me procurou, pedindo interferência para que o mesmo Carlos Nelson
Coutinho aceitasse ser o orientador de uma tese que pretendia fazer em
doutorado. Quanto à minha assinatura de tese com o MTL no Congresso, é verdade.
Mas com uma diferença. Para ter minha assinatura, na condição de independente,
os líderes da corrente me visitaram em casa, e a tese foi definida por minha
redação final. Houvesse uma APS, ou uma dissidência paulista do Enlace, com
expressão militante aqui no Rio, e possivelmente assinaria com um deles. E não
renego. Minha raiz teórica é Marx e Lenin. Do trotsquismo, só textos de Daniel
Bensaid e Michel Lowy. Moreno, nem pensar.
5-
Reunião de Maceió – Robaina confirmou a
realização, ainda no primeiro semestre de 2009 que, bizarramente, afirma não
ter tido “caráter decisório” como a
recente reunião realizada na casa de Chico Alencar, divulgada por mim no FB.
Pois se houve reunião extra-instâncias com caráter decisório foi a que agregou
o MES-MTL- HH e eu (os participantes são assim nomeados na carta de Robaina) em
Maceió. E por que decisória? Por ser parte de uma manobra que já visava uma
operação concretizada meses depois: a renúncia de HH a uma candidatura cujas
pesquisas de época eram unânimes em indica-la com dois dígitos, enquanto o nome
de uma certa Marina Silva, ex-ministra de Lula durante 7 anos, não passava de
ridícula pontuação. HH não queria se submeter a um “novo sacrifício” de disputa
sem expectativa, e tinha como certa uma vitória para o Senado. Eu me coloquei
contra a aprovação entusiástica do MES e do MTL – embora Janira Rocha
discordasse de Martiniano e Jefferson, e defendesse a candidatura própria - . E
meu argumento era claro: Marina, eu conhecia bem. Não só da vida interna do PT,
onde sempre esteve nas posições mais conservadoras, quanto no mandato de
Senadora, onde eu, deputado federal, a enfrentava com sua “oposição”
propositiva a FHC, numa cumplicidade com Jorge Viana, então governador do Acre,
e totalmente vendido ao tucano predador.
6-
Nessa reunião já ficou clara a rejeição a algo
que Robaina invoca como condicionante para o apoio, mostrando a falácia da sua
argumentação. Por pressão minha, HH faz uma ligação telefônica a Marina.
Propunha fornecer o vice e participar da discussão de programa. Marina pediu um
tempo. Ia se reunir, naquele momento, com a direção do PV. Pouco depois, deu o retorno: o PV decidira
uma estratégia de campanha e de política de alianças onde não existia
compatibilidade possível de acordo político com o PSOL. Isto, repito, no
primeiro semestre de 2009. Ou seja, peca por vício de origem a afirmação de
Robaina quanto a condicionamentos de apoio a Marina– cuja bajulação ficou mantida, de forma
humilhante, até janeiro de 2010 . Foram necessárias duas entrevistas de Marina,
uma delas elogiando Henrique Meirelles, para se concluir que a farsa não podia
mais caminhar. Uma farsa que tinha, a partir do MTL, como causa, uma guinada à
direita, hoje concretizada. Mas no que diz respeito ao MES, a uma operação
casada pela qual a legenda via o caminho para a tomada da hegemonia do partido:
Luciana, eleita deputada federal com ampla votação, e HH, senadora, se juntando e compondo maioria de prestígio
social incontestável. Operação digna de uma “esquerda de resultados”, como bem
classificou um outro membro do DN, e que todas as demais correntes viam e
comentavam abertamente.
7-
Sobre a prévia Martiniano-Plínio, nada a
comentar, a não ser ter sido causadora da decisão de PSTU e PCB lançarem candidatura própria,
por não terem mais como aguardar.
8-
Robaina não contesta nenhum desses pontos, em sua resposta. E, não por acaso. Havia
gente demais participando, ou testemunhando,
da manobra. Recorre, então, a o escapismo. Um adjetivo, aqui, um outro
tema mais adiante, e desvia o foco da questão central – qual dos fatos por mim
relatados ele contesta?
9-
Por que reproduzi uma página do núcleo ZS do
PSOL do Rio com a carta de Carlos Nelson Coutinho a Luciana? Atentem sobretudo
que a publicação é de 16 de novembro, vários meses após, portanto, à reunião de
Alagoas. Vários meses de bajulação sem que a ecocapitalista sequer se dignasse
em enviar algum sinal. Pelo contrário. Prevaleciam as seguidas entrevistas de
Alfredo Sirkis, explicitando absoluto desprezo pela nossa “démarche”. Reproduzi
para comprovar que a campanha violenta, agressiva e por vezes insultuosa,
mobilizada pelo dito Bloco de Esquerda, contra Randolfe e Ivan Valente, não
procedia se levamos em conta fato semelhante, anteriormente ocorrido. Com uma
vantagem para Randolfe: seu mandato era intocável, irrepreensível, e se no caso
de Marina houve proposta de aliança subalterna, no caso de Randolfe tratou-se
apenas de recebimento de apoios.
10-Por fim bravo Thiago,
gostaria imensamente de ver desmentido o envio de uma carta de Robaina,
saudando o Forum Marina Silva, realizado em Belo Horizonte, em 2011.
11- Vamos às tergiversações,
com respeito à minha omissão quanto ao apoio que a APS, via Ivan Valente e
Randolfe, também teriam dado a Marina. Lamento, Thiago, por não ter com a APS,
naquela ocasião, a intimidade de debates
internos que Roberto Robaina mostra ter tido. Se eu tivesse sido convidado para
alguma reunião com qualquer um que apoiasse Marina, minha posição não teria
sido distinta. Minhas posições, então, eram transparentes e públicas como o são
agora.
12-Passo à forma grosseira do
tratamento das divergências internacionais. E respondo no mesmo tom. Prefiro
marcar minha posição nos conflitos por uma lógica: onde está o imperialismo, ou
me abstenho ou estou do lado oposto. Há, lamentavelmente, e principalmente nas
correntes ligadas à IV Internacional, uma bizarra tendência a aceitar o
conceito de “guerra humanitária” e a intervenção dos bombardeios da OTAN contra
populações civis, em nome do combate aos ditadores. Eu fico contra essa
posição, com oposições internas que negam intervenção estrangeira, defendida
por um dirigente importante do DN – não era do MES - que não hesitou em
qualificar como justificadas as bombas sobre a população civil de Tripoli. Fico
por aqui, por mais não merecerem.
13- Concluindo, prezado Thiago,
registro meu orgulho com o desempenho de nossas bancadas federais, na Câmara e no
Senado, pela combatividade incessante e o compromisso com a luta dos trabalhadores
contra o grande capital. Ivan, Chico,Jean e Randolfe, qualquer um desses me
representaria plenamente num debate de disputa com a direita pela Presidência
da República. E Luta e Debate que Seguem!! Pois o PSOL não tem porque não ser transparente em suas
discussões.
Saudações fraternas,
Milton Temer
perfeito milton, ótima a sua análise de toda a situação. Abraço camarada!
ResponderExcluirSomente um comentário em relação ao apoio a Marina que a APS teria dado em 2010: cogitamos, sim, essa possibilidade, porém sob critérios rígidos. Propusemos um documento, aprovado na direção do partido, com vários pontos programáticos como pré-requisito, entre os quais encontravam-se a crítica severa à política econômica do governo, reforma agrária e reestatização da Vale. Graças a esse mesmo documento, as negociações foram finalizadas. Isso se não me falha a memória. Ao contrário dos critérios defendidos pelo MES, expressos na carta de Luciana, em que a única preocupação era o espaço eleitoral propiciado pela Marina, sem discutir uma vírgula do programa. Afinal, o que importa é tão somente fortalecer a direção revolucionária redentora da missão histórica dos trabalhadores. Como isso será feito? Não importa. O que importa são os resultados! E a coerência é o nosso forte! Essa última frase pode ser o título da tese deste grupo para o próximo congresso: "Para fazer o PSOL brilhar, coerência é o nosso forte!".
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