eandro Uchoas, jornalista de boa cepa, nos traz o relato de uma roteiro vivido nos atalhos da vida de Mahatma Gandhi, o grande líder indiiano, cuja vida de lutas pela independência do país, pautada na desobediência civil e na afirmação de valores, é hoje referência para sua militância. Está aí uma narrativa que leva o leitor a mergulhar no clima existencial e na alma locais com uma precisão de tal forma instigadora que torna impossível não sentir até inveja da experiência do outro. De qualquer forma, fica o consolo, lendo o texto, de saber como vale a pena uma longa viagem à India de Gandhi
A fascinante e peculiar trajetória de um peregrino latino-americano pelo país mais rico e diverso do mundo, a Índia.
ITEM 1. ENFIM, ÍNDIA
Foi
em uma cidade de nome esquisitíssimo que pisei pela primeira vez no
país mais incrível do mundo. Em Thiruvananthapuram, comecei a descobrir a
Índia – que, como a China, tem uma população gigantesca e cultura
milenar. Logo no primeiro dia, dos 42 que passei no país, vi homens
montados em elefantes, fiéis peregrinos purificando-se em um lago,
templos monumentais, uma música de sonoridade totalmente nova, casa de
marajás, tuck-tucks, mulheres em lindas vestes, e uma cidade organizada
de uma maneira totalmente outra. Foi como se tivesse aterrissado em uma
nova galáxia.
Apenas durante a primeira semana, viajei de barco, moto, carro,
avião, tuck-tuck, bicicleta, trem, ônibus – percorrendo seis cidades em
sete dias. Este relato é uma tentativa de, resumidamente, deixar algum
registro. Mas, certamente, não há como transformar em palavras as
sensações que vivenciei. Atravessar o estado socialista de Kerala
ouvindo “Clube da Esquina” no walkman, vendo rostos morenos novos ao meu
lado, e assistindo a Índia passar pela janela do trem, é algo que não
tem como descrever para os que não sentiram. É como dar um aperto de mão
na humanidade inteira. Como dar um abraço no mundo. Uma espécie de
êxtase revestido de utopia. E era isso, claro, o que fui fazer na Índia.
Queria ir atrás de utopia. Fui, e encontrei.
ITEM 2. POR QUE A ÍNDIA
De história milenar, berço da espiritualidade, e um dos raros locais,
hoje, dotados de outras organizações sociais, com referências
econômicas totalmente distintas, a Índia é um país único. Sempre quis
conhecer. A lembrança mais antiga desse desejo é de 1999. Quando um
professor, nos EUA, me perguntou que país eu gostaria de conhecer, eu
brinquei: “o Brasil. Eu ainda não conheço o Brasil”. Ele disse que essa
resposta não valia. Então respondi, sem pestanejar: “a Índia”.
Guardava dinheiro há mais de dois anos para essa viagem, que queria
fazer com minha irmã, professora de yoga. Então, ficou claro que não
conseguiríamos conciliar nossas agendas (ela foi para a Índia três
semanas depois de meu retorno). Fiquei triste na época. Investigar,
sozinho, um cenário totalmente novo seria um desafio e tanto. Com o
tempo, no entanto, ficou claro que foi melhor assim. Sozinho, pude ir a
boa parte dos lugares que desejava conhecer (ainda faltam muitos! Não
conheci Calcutá, de Madre Teresa, nem Ranchi, de Yogananda, nem
Puttaparthi, de Sai Baba, nem Dharamsala, do Dalai Lama, nem Rishikesh,
do yoga, nem Varanasi, do Ganges, nem tantos outros lugares. Tenho que
voltar!).
Basicamente, acredito na necessidade de se reinventar, a cada dia,
nossa vida. De elaborar propostas novas, escrever o dia com outra
caligrafia, encarar pessoas com outros rostos. É o jeito mais rápido e
gostoso de crescer como ser humano. Isso é o que fui fazer lá. Queria
que a Índia recheasse meu coração de idealismo, de vontade de melhorar o
mundo e a mim. E não tenho dúvidas de que ela atendeu a meu pedido. A
viagem foi um sucesso em todos os aspectos.
Logo no início, ficou claro pra mim que eu olhava a Índia de uma
perspectiva incompleta, típica de um ocidental com experiência rarefeita
pelo Oriente. Eu pensava: “preciso conhecer esse outro lado
interessante da humanidade”. Percorrendo a Índia, ficou claro que lá
existe gente em todo lugar. São 1,3 bilhão de pessoas – quase sete vezes
o Brasil! Não há ruas desertas, nem região desabitada. Eles não são
“outro lado da humanidade” – isso somos nós. Na verdade, a humanidade
são eles.
ITEM 3. MAHATMA GANDHI É O CARA
Foi ele quem me trouxe para a luta, e isso já seria suficiente para
que eu tivesse por ele uma relação de respeito. O fato é que, de longe,
minha principal meta na Índia, dentre tantas, era seguir os passos de
Mahatma Gandhi. Ir a todos os lugares onde ele construiu sua biografia
notável. Nos últimos 15 anos, devo ter lido quase todos os livros sobre
ele publicados em língua portuguesa. E embora eu tenha sido convencido,
por Kailash Satyarthi (item 4), a não mais me definir como “gandhista”,
minha admiração pelo Mahatma apenas aumentou durante a viagem.
A princípio, eu queria tentar ir além da imagem que o mundo criou de
Gandhi, dos diferentes gandhis vendidos ao senso comum, confundindo
pacifismo com passividade, em benefício da ordem, da manutenção do
status quo. O Gandhi que me trouxe para a luta, que me transformou num
homem de esquerda – embora muitos desinformados o considerem reacionário
–, defendia a desobediência civil, e a não-violência
ATIVA.
O modelo é simples: diante de uma injustiça, desobedeça as leis e as
autoridades, sem utilizar de violência como arma. Tenha clareza sobre
quem é seu inimigo, mas não tenha ódio por ele. A síntese é essa. Boa
parte dos militantes movem-se pelo sentimento de indignação diante das
injustiças. É natural. Gandhi me ensinou, porém, que há um combustível
ainda melhor para os militantes do que a indignação, que é o amor pela
humanidade.
Por mais que eu me esforce, não tenho como definir a satisfação de ir
a cada lugar onde viveu Mahatma Gandhi. Era maravilhoso. Logo no
terceiro dia de viagem, ainda na África do Sul – onde fui antes, porque
ele também viveu lá – fui apresentado para Ela Gandhi, neta do Mahatma.
Ex-deputada super-atuante, e uma das mais ativas pacifistas do mundo,
ela me convidou para um chá em sua casa. Humilde, desculpou-se pela
falta de energia no apartamento, que lhe impediu de cozinhar para mim…
De sua voz pausada, brotava uma sensação de afeto que tomava a atmosfera
inteira. Em Ahmedabad, na Índia, conheci outros netos e bisnetos do
Mahatma.
Há elementos de sua ideologia com os quais eu discordava, mas passei a
respeitar após a viagem. Por exemplo, sua ideia de tentar propagar a
fabricação das próprias roupas me parecia, antes da viagem,
excessivamente utópica, além de parecer a negação do desenvolvimento das
forças produtivas – ou seja, um retorno ao modo de produção medieval.
Mas na Índia, percebi que 70% dos habitantes ainda vivem em vilas. Isso
significa nada menos do que cinco “brasis” vivendo quase fora do
capitalismo, em um sistema econômico coletivizado e auto-suficiente.
Percebi que a proposta do Mahatma estava longe de ser “excessivamente
utópica”, até porque ele a elaborou depois que ele FOI PESSOALMENTE
MORAR JUNTO AOS POBRES. E conclui que, para fazer qualquer juízo de
valor, eu teria que conhecer muito mais a Índia, sua história e o
pensamento de Gandhi.
Vou tentar resumir a minha extensa peregrinação: Na África do Sul,
estive em Durban, onde Gandhi fundou sua primeira comunidade
alternativa, a Phoenix Assentment, inteiramente restaurada. Lá também
tem o Centro Internacional de Não Violência (ICON), principal do mundo
no estudo do tema. Em Pietermaritzburg, fui até a estação onde ele foi
atirado do trem, em 1892, por ter a pele negra e estar viajando na
primeira classe, episódio que teria, segundo ele, o estimulado a lutar
por justiça social.
Em Johanesburgo, conheci a linda casa onde ele viveu com Hermann
Kallenbach. Também conheci a casa onde morou com a família, e a cruel
prisão onde esteve por quatro vezes – lugar assustador. Lá, em
Constitutional Hill, hoje funciona um museu e o órgão máximo de Justiça,
equivalente do STF do país. Foi lá que encontrei a sandália que Gandhi
deu ao general Smuts, seu adversário político, de quem se tornou amigo.
Smuts devolveu a sandália 25 anos depois, pelo correio, após ficar
sabendo que Gandhi havia empreendido a incrível Marcha do Sal, dizendo:
“usei essa sandália por 25 anos, mas já não me considero digno de
utilizar um calçado feito pelas mãos de um homem tão grande”.
Já na Índia, estive na Mahatma Gandhi University, em Kottayam. O
diretor da Escola de Estudos Gandhistas e de Desenvolvimento
Socioeconômico, John Moolakkattu, foi bastante receptivo, e inclusive me
convidou para passar o Natal com sua família, que era cristã. Também no
estado de Kerala, estive em Vaikom, em um templo lindíssimo em que,
tempos atrás, as castas hindus mais altas tinham proibido as castas mais
baixas de frequentar. Gandhi foi à cidade só para lutar contra isso. No
lugar onde viveu lá até vencer a luta, hoje funciona a sede do Partido
Comunista, o mais forte do estado.
Em Bombaim, estive na casa onde ele morou quando esteve na cidade
(Mani Bhavan), hoje um simpático museu em sua homenagem. O site deles é
uma das mais completas compilações de textos de e sobre Gandhi. E em
Pune, estive no Agakhan Palace, onde ele esteve preso de 1942 a 1944, e
onde morreram seu fiel secretário e amigo, Mahadev Desai, e sua esposa,
Kasturba Gandhi. Ambos estavam presos voluntariamente, apenas para
acompanhar Gandhi.
Planejei estar na cidade no dia 1º de janeiro, Dia Internacional da
Paz, em homenagem a Kasturba, que deveria ser reconhecida como uma das
principais lideranças da independência indiana, caso não vivêssemos em
um mundo machista. O próprio Gandhi lhe considerava sua “melhor
professora de não-violência”. Ela morreu deitada em seu colo, em 22 de
fevereiro de 1944. “Perdi a melhor metade de mim”, disse ele. E todos os
dias 22, de todos os meses, Gandhi jejuava e declamava todos os versos
da Bhagavad Gita, em homenagem a Kasturba. Fez isso até o fim de sua
vida.
Em seguida, deveria ir a Wardha. Na verdade, estava cansado de tanta
viagem, e tinha desistido de ir. Mas estava lendo o livro “Autobiografia
de um Yogue”, de Paramahansa Yogananda. No dia seguinte de desistir,
abri o livro. Ao mudar de página, o novo capítulo se chamava “Com
Mahatma Gandhi em Wardha”. Fiquei assustado com a coincidência, e
interpretei aquilo como um aviso. Pouco depois, o dono do hotel bateu na
porta dizendo que eu não tinha como ficar mais, porque o hotel iria
ficar cheio, e eu não reservara para o dia seguinte. Decidi, na hora, ir
a Wardha. A viagem foi uma verdadeira aventura! No ônibus de Ahmandabad
a Wardha, ao invés de cadeiras havia camas! Tive que dormir ao lado de
outro passageiro, enquanto o ônibus passava pela rodovia esburacada.
Aliás, antes, vi as cavernas budistas de Ellora, e em Ahmandabad, uma
fortaleza e uma cópia do Taj Mahal.
Que maravilha era Wardha! Ainda bem que fui. Fiquei hospedado no
próprio Sevagram Ashram, fundado por Gandhi para promover seus 11
princípios de vida. Simples, as pessoas vivem até hoje como ele! Com
casas de pau a pique, é simplório, mas é lindo! Inteiramente preservado,
e com todos os utensílios usados por Gandhi, Kasturba, e Mirabeh – a
famosa e fiel discípula. Lá, comi uma das mais gostosas comidas, e
fiquei amigo de uma equipe grande de engenheiros agrônomos que fazia
pesquisas com orgânicos no local (também sou formado em engenharia). Há
também um museu muito simples, e muitos livros de Gandhi e Vinoba, seu
seguidor.
Em seguida, tive apenas dois dias supermovimentados em Ahmedabad!
Conheci, na cidade, o Sabarmati Ashram, também fundado por Gandhi. Não
há mais quem viva no local, mas ele é super-visitado, e tem uma
excelente loja de produtos relacionados a Gandhi. O lugar foi
frequentado por todas as lideranças da Índia na primeira metade do
século, e já foi visitado por personalidades como a Rainha Elizabeth e
Mandela. Foi de lá que partiu a Marcha do Sal (400 quilômetros de
caminhada para o litoral). Seu diretor, Tridip Suhrud, me contou
orgulhoso que traduziu Paulo Freire para a língua gujarat! Em Ahmedabad,
tive a sorte de ir a uma palestra de Rajmohan Gandhi, o mais famoso
neto. Ele vive nos EUA, e raramente visita Ahmedabad. Foi uma sorte e
tanto estarmos, ao mesmo tempo, na mesma cidade! Na palestra, conheci
dezenas de gandhistas e familiares deles.
Porém, a experiência mais marcante em Ahmedabad, dentre as
relacionadas a Gandhi, foi a visita à Gujarat Vidyapith, universidade
fundada por Gandhi em 1920, que ainda é inspirada em seus ideais. O
campus e os banheiros são limpados pelos próprios alunos, divididos em
brigadas. A arquitetura é totalmente pensada de forma a estimular o
convívio e a sociabilidade. O uniforme é fabricado manualmente, em
máquinas de tecer. Tem importantes estudos de energias alternativas
(bicicletas ergométricas rudimentares são espalhadas pelo campus, para
que os alunos se exercitem e, ao mesmo tempo, gerem energia).
Quando um amigo de Gandhi lhe disse que a universidade não teria
alunos, por conta da rigidez, ele respondeu: “se não tiver alunos,
ensinaremos os macacos. O que não podemos é abrir mão dos nossos
ideais”. Lá, eles dão um curso gratuito de quatro meses sobre
não-violência, e me convidaram a estudar nesse curso, sem precisar
passar por seleção! Mas, tão cedo, não pretendo ir. Fiz bons amigos
nessa universidade. Difícil acreditar que tudo isso, e coisas que
contarei depois, aconteceram em apenas dois dias! Enquanto estive lá,
soube que o estado está discutindo permitir que as pessoas ou
organizações vendam energia para o governo caso ela seja gerada por
fontes alternativas. Isso já é adotado em alguns países, e eu já penso
nisso há muito tempo para o Brasil. Pensei em elaborar um projeto de lei
sobre isso.
Foi então que o destino seguinte passou a ser Porbandar, a pequena
cidade onde nasceu o Mahatma. Nesse momento, embora encantado com a
viagem, eu estava exausto. Porque não passava mais que dois dias em cada
cidade. Antes da viagem, eu achava que iria me emocionar ao chegar na
casa onde Gandhi nasceu. Mas logo que avistei a casa, e entrei, e vi o
local exato onde ele havia nascido, o que pensei na verdade foi: “que
saco, não aguento mais ouvir falar em Gandhi”. O local era marcado com
uma suástica, símbolo sagrado para os hindus. Achei muito interessante
que este símbolo, associado no Ocidente ao nazismo, estivesse marcando o
lugar onde nasceu um defensor de métodos pacíficos de ativismo
político.
Naquela noite, eu deitei na cama, e a ficha caiu. “Hoje estive na
casa onde nasceu Mahatma Gandhi, inteiramente preservada tal como era. E
agi como se estivesse num lugar qualquer”. Levantei da cama no mesmo
momento, decidido a fazer algo. Foi então que decidi cortar a barba, e
deixar só o bigode, para homenagear o bigodudo Gandhi. No dia seguinte,
voltei ao local com o bigode. Considero a foto ali tirada uma síntese da
parte “gandhista” da viagem. Ainda visitei a casa onde nasceu Kasturba
Gandhi, e o local de nascimento também é marcado com uma suástica.
Passei quatro dias na pequena e simpática cidade onde quase ninguém
falava inglês.
Voltei a fazer visitas relacionadas a Gandhi apenas semanas depois,
em Nova Delhi. O Rajghat, lugar onde o corpo dele foi cremado, para que
as cinzas fossem lançadas no Ganges, permanece com uma chama
constantemente acesa, e tem intensa visitação. Visitei ainda o Gandhi
Peace Foundation, ong de promoção da paz, onde fui muito bem recebido.
Também visitei três museus sobre ele. O principal, National Gandhi
Museum, tem uma infinidade de utensílios que pertenceram a ele.
No entanto, o auge deveria vir ao final, como planejado. Gandhi foi
assassinado em 30 de janeiro de 1948 na Birla House, casa de um
importante empresário (Birla), onde ele estava morando porque estava
doente. Ele caminhava para fazer sua oração matinal, às 7h, quando levou
três tiros. No local, hoje funciona um museu, um memorial e um museu
interativo. Antes da doença, Gandhi viveu no Harijan Sevak Sangh,
comunidade alternativa que ele criou na capital do país somente para
combater a “intocabilidade” – pessoas consideradas intocáveis, algo
quase extinto no país.
Meu planejamento era estar no Harijan no dia 29, e na Birla House no
dia 30, exatamente a data do assassinato. E como foi difícil! Havia uma
cerimônia na Birla House com a presença do primeiro-ministro Manmoham
Singh, e vale lembrar que a Índia é, por vezes, vítima de terrorismo, e
há sempre uma paranoia com segurança. Para convencê-los a me deixar
participar da cerimônia tive que usar de todos os argumentos possíveis,
implorar, e rezar muito! Uma boa alma de um indiano me salvou.
No dia 29, visitei o Harijan Sevak Sangh, e fiquei encantado! O lugar
ainda funciona segundo os princípios de Gandhi. O centro médico só
utiliza medicamentos naturais, medicina ayurvedica. Há uma escola para
crianças oriundas das vilas. Os uniformes também são feitos manualmente.
Tudo é coletivizado. E eles me trataram como um príncipe.
No dia 30 de janeiro, exatos 65 anos após o assassinato do Mahatma, e
dois dias antes de meu retorno ao Brasil, lá estava eu na Birla House.
Visitei o quarto onde ele dormia e tinha reuniões, e a casa. Curti o
maravilhoso museu interativo. Vi fotos, vídeos, livros, e as pegadas no
chão, reproduzindo o caminho que ele fez até a tragédia. No horário da
cerimônia, me sentei. Uma hora e meia daquela música de sonoridade
única, homenageando o Mahatma.
Chegou o primeiro-ministro, e fez o mesmo gesto que eu fizera três
horas antes, diante do local onde Gandhi foi assassinado. O lugar estava
inteiramente enfeitado com flores. Foi um desfecho lindo de uma viagem
cuja dimensão não cabe nestas palavras. Me emocionei, é claro. Fiz toda a
viagem para, ao final, estar ali. E ali eu estava. Tudo tinha dado mais
do que certo. Lembrei-me das palavras de Jesus: “preocupe-se somente
com o Reino de Deus e sua Justiça, e todas as outras coisas vos serão
acrescentadas”.
Pela primeira e única vez na minha vida, orei diretamente a Mahatma
Gandhi. Não sei se foi uma coisa boa rezar para um homem que nunca quis
ser chamado de santo, mas naquele momento senti a necessidade de
fazê-lo. Agradeci-o por ter mudado minha vida, por ter me mostrado a
importância de se resistir aos processos de exploração, fazendo-o sem
ódio, com amor e paz no coração. Agradeci-o, ainda, por eu ter conhecido
seu incomparável país através de seus próprios passos. Agradeci,
também, por estar vivendo aquele momento que, repito, não sou capaz de
traduzir em palavras. Levantei, e fui embora. Já estava pronto para
voltar ao Brasil.
ITEM 4. EDUCAÇÃO, MAIOR DAS BANDEIRAS
Pouco antes de viajar, uma amiga indiana radicada no Rio me disse uma
frase que não esqueço. “A Índia não costuma dar o que você procura. Ela
costuma dar o que você precisa”. Ela estava certa.
A princípio, eu queria obviamente ver como os indianos tratam seus
problemas sociais, mas não tinha a pretensão inicial de verificar
especificamente o setor da Educação. Porém, não tenho dúvidas de que as
experiências mais enriquecedoras e marcantes de minha passagem pelo país
têm, todas, a ver com Educação. Nem sei por que estou escrevendo isso
somente agora, no item 4. Foi mais importante que tudo.
No próprio Harijan Sevak Sangh (item 3), tive a doce experiência de
ser levado a TODAS as salas de aula da escolinha deles. Em cada uma
delas, as lindíssimas criancinhas se levantavam, uniam as mãos, e
falavam alto: “Namastê!”. Também no Distrito Federal de Nova Delhi,
cidade-satélite de Noida, o jornalista Venkitesh Ramakrishnan, que eu
conhecera em Jaipur, me levou para conhecer uma escola que fundara e que
mantinha com amigos jornalistas. Para chegar lá, atravessei por sobre
esgotos as vielas de uma comunidade pobre. O lugar era muito humilde,
mas segundo Venkitesh, muitos que lá estudaram já haviam chegado à
universidade pública.
Outra experiência fascinante foram as duas escolas do Aurobindo
Ashram, que foi a comunidade onde me hospedei por duas semanas em Nova
Delhi. Eles mantém escolas inspiradas na filosofia mística de Shri
Aurobindo e The Mother. As salas de aula não têm paredes, apenas
murinhos. Os professores atuam como facilitadores, e não como
transmissores de conhecimento. Os alunos sentam, invariavelmente, em
círculos, e não há rigidez quanto à idade padrão de cada turma. As salas
de aula são dispostas em cada aresta de um hexágono, e quem caminha
pelos corredores vê e ouve todas as salas. O período é integral, com
refeições planejadas em todos os momentos. Meditação e yoga são
imprescindíveis. A prática de esportes é constante e obrigatória
(joga-se muito futebol, algo raro na Índia!).
Há ainda a visita à universidade Gurajat Vidyapith, fundada por Gandhi há 93 anos, que relatei no item anterior.
A experiência mais marcante ocorreu, no entanto, em um local chamado
Bal Ashram. Narro essa experiência na revista Caros Amigos de fevereiro
de 2013, nº 191, página 41. Nesse lugar, próximo à estrada entre Jaipur e
Nova Delhi, “os sonhos de um homem se transformaram em realidade”, como
digo na reportagem. Kailash Satyarthi é um ativista que já retirou mais
de 81 mil crianças do trabalho infantil e escravo. Entre prêmios e
histórias fascinantes, foi indicado ao Nobel da Paz em 2006. No Bal
Ashram, as crianças são ressocializadas.
Meu projeto inicial era, apenas, me encontrar com Kailash. Mas ele me
convidou para ir ao local. E por conta de um problema intestinal, que
me obrigava a visitar o banheiro várias vezes, fiquei lá quatro dias.
Foi, como tenho tantas vezes repetido, a minha experiência mais marcante
na Índia. As crianças chegam lá com sérios problemas psicológicos,
familiares, de saúde, etc. E recebem muito amor e um trabalho muito bem
feito. Não me lembro de uma única que não estivesse sorrindo.
Todos os dias, eles têm uma hora de “aula social”, para entender
melhor os problemas do mundo. A prática de esportes também é padrão. E a
maioria das aulas é ao ar livre. O contato com a terra, e o estímulo a
atividades manuais, são regra. Os funcionários só podem comer quando
todas as crianças já tiverem concluído. Durante minha visita, houve dois
festivais. As crianças obedeceram a todos os rituais, e no momento da
dança, se soltaram de forma incrível. Mais detalhes estão na reportagem.
Logo no primeiro dia, após entrevistar o simpaticíssimo Kailash,
conduzido pelo alegre gerente local, Aditya Mishra, dancei com as
crianças, comi as balas relativas à data, e sua refeição (totalmente
vegetariana, e com alimentos orgânicos). Me hospedei no local, e
conversei muito com funcionários e familiares de Kailash. O clima era de
paz, de festa, de alegria. Lembro que deitei na cama, cansado (a viagem
foi longa), e pensei: “eu não tenho o direito de estar vivendo isso e,
depois, continuar sendo a mesma pessoa. Não tenho esse direito!”. Voltei
da Índia convencido a fazer algo pela Educação no Brasil, mas ainda não
sei o que, nem como.
ITEM 5. ENCONTROS
Não há dúvida de que, em qualquer viagem que mereça a grandeza desse
nome, o que há de melhor são os encontros. E o grande barato é que a
maioria deles é absolutamente inesperada. Foram tantos e tão intensos os
encontros, que há de se lamentar não ver mais tanta gente bacana. Não
há como esquecer a pergunta de um amigo, antes da minha viagem: “você
vai passar Natal e Ano Novo sozinho?”. A minha resposta terminou sendo,
com o tempo, mais verdadeira do que eu imaginava. “Não. Vou passar as
próximas semanas ao lado de um sexto da humanidade”.
Na África do Sul, a ativista Pat Adams me levou para vários lugares
interessantes. Conheci-a em 2012, quando a entrevistei por e-mail para
uma reportagem sobre os impactos da Copa na África do Sul – Pat é a
principal referência da StreetNet, imersa nesse debate, e com dois
representantes no Rio. Confesso que só descobri que era uma mulher
quando ela chegou para me encontrar – até então, eu achava que era
homem. E veja só: Pat já me visitou no Brasil, já que aqui esteve uma
semana após meu retorno da Índia.
Ainda em Durban, também conheci Ela Gandhi, neta do Mahatma – uma das
criaturas mais doces que já conheci. E Paddy Kearney, religioso
católico próximo ao falecido e famoso arcebispo Denis Hurley, que lutou
contra o apartheid e foi amigo de Don Helder Câmara. A lembrança mais
afetuosa que tenho de Paddy é a dele, enquanto me dava uma carona,
mostrando orgulhoso o nome da “Rua Che Guevara”, que eles passaram a ter
na cidade – com o fim do apartheid, a África do Sul reviu nomes de
ruas, retirando nomes de racistas.
Em Johanesburgo, convivi com a alegre e engraçada Manya Gittel, que
levou o Teatro do Oprimido ao país. Ela se lembrava com carinho de
Augusto Boal e de Geo Britto. E me agradeceu por ter descoberto tantos
lugares relacionados a Gandhi na cidade onde ela nascera. Tantas outras
pessoas conheci no país.
No estado de Kerala, o anjo foi John Moolakkattu. Cristão, me mostrou
várias igrejas, e me convidou para a ceia de Natal com sua família. Na
ocasião, seu sogro me perguntou por que eu não era casado aos 36 anos de
idade. Respondi, de brincadeira, como se lamentasse: “tenho me
perguntado isso todos os dias”. Foi então que ele rebateu: “se não tem
esposa, quem cozinha pra você?”. Só então me dei conta do raciocínio
machista dele. Não me controlei: “eu mesmo cozinho. Quando me casar,
quero cozinhar todos os dias para minha mulher”.
Kerala é um estado com grande presença de cristãos. São Tomé, o
discípulo de Jesus, teria migrado para este local após a morte dele.
Minha cerimônia de Natal foi em um templo ortodoxo onde o santo teria
estabelecido uma de suas primeiras igrejas. Tinha duas cruzes persas do
século XI. Mas a cerimônia foi um saco.
Em Mumbai, Usha Thakkar também me recebeu com carinho. E no ônibus
entre Pune e Ahmandabad, conheci Govinda Bobade, simpático engenheiro
que fez questão de me pagar um jantar delicioso, depois que eu lhe disse
que não gostava de comida indiana porque era muito apimentada.
Em Wardha, toda a comunidade local era uma gracinha. Mas conheci uma
equipe de engenheiros agrônomos, de quem me tornei amigo. Com Manish
Surve, criei relações de amizade ainda mais profundas. Em Ahmedabad
foram muitos encontros – incluindo familiares de Gandhi. Mas foi com a
feminista premiada Mirai Chatterjee, que me foi apresentada por Pat, que
tive as mais interessantes conversas.
No Bal Ashram, me encantei com a simplicidade de Kailash Satyarthi, e
dos funcionários Aditya Mishra e Priya Panth (item 4). E em Jaipur, o
dono do hotel Santha Bagh, com inglês irretocável e vasta cultura, me
ensinou muito sobre a Índia. Foi neste local que conheci Venkitesh
Ramakrishnan, também muito culto, fã de Jorge Amado, que depois
reencontrei em Nova Delhi. Era jornalista à moda antiga, do tipo que
bebe, fuma, é ateu, devora livros, e sabe tudo o que está acontecendo no
mundo.
Em Nova Delhi, revi a amiga mineira Michele Cesário, que descobri
estar morando lá durante a viagem. Foi delicioso revê-la após sete ou
oito anos, conhecer seu filho, comer enfim feijão, e conversar muito.
Sri Laxmi Dass me apresentou o Harijan Sevak Sangh com uma paciência e
um carinho raros! E o simplório Surendra Kumar, que dirige o Gandhi
Peace Foundation, mandou que fizessem um almoço especial para mim –
devido à minha complicação intestinal.
Já se criou e se inventou de tudo nesse mundo. Mas o melhor de
qualquer lugar foi, é e será sempre as pessoas desse lugar. E uma viagem
que não tenha encontros intensos, pessoas que mudam nossos paradigmas,
não é digna de ser chamada de viagem.
ITEM 6. ÍNDIA É HISTÓRIA
Tudo na Índia é história. Às vezes, a gente está andando por uma
cidade, e nos deparamos de repente com um monumento construído no século
XII. Claro, é um povo milenar – talvez o mais antigo do planeta. Se
fossem mais desenvolvidos, poderiam explorar o turismo como nenhum outro
país. Porque tudo é história, tudo muito interessante. Tão
impressionante quanto à beleza do Taj Mahal, por exemplo, e tão
assustador quanto o desperdício de dinheiro em um mausoléu (o Taj foi
construído para abrigar o corpo de uma das esposas do príncipe Shah
Jahan), é a história que ronda o monumento.
Vi diversos templos construídos dentro de cavernas. Construções
gigantescas levantadas em diferentes séculos, por diferentes povos.
Fortalezas, fortes, monumentos. Com uma riqueza de detalhes
impressionante. Hoje temos, na mente, a imagem da Índia como um país
pobre. Mas isso só é uma realidade nos últimos 200 anos, após a
colonização inglesa. Antes, eles sempre foram ricos. Basta lembrar que
os conquistadores portugueses e espanhóis queriam atingir as riquezas
“das Índias”.
ITEM 7. VEGETARIANISMO
A Índia deveria ser o paraíso para vegetarianos como eu. Logo que
cheguei, me cativou a existência de “Restaurantes não-vegetarianos”. Ou
seja, a quantidade de vegetarianos é tão grande (mais de 70%), que a
relação dos restaurantes é invertida. São os que usam carne (geralmente
frango) que precisam avisar. É muito comum por lá, também, a não
digestão de ovos. A maioria deles é lactovegetariana.
Percebi que a Índia não é o paraíso dos vegetarianos logo na minha
primeira refeição, repleta de pimenta. A comida é extremamente
apimentada, pouco saborosa, pouco variada, e sempre com algum risco de
ter sido feita com água pouco confiável. Senti muita saudade da comida
brasileira. Emagreci quatro quilos durante a viagem.
ITEM 8. PERRENHES/HIGIENE
Por causa, justamente, da falta de higiene dos indianos, tive meus
piores perrenhes. Problemas intestinais me obrigaram a ir ao banheiro a
todo momento. Tinha que ficar comendo banana, arroz, iogurte natural,
água e sal para passar. Horrível! E é comum no país. Algumas regiões são
visivelmente sem saneamento. Me vi, algumas vezes, andando por sobre
esgotos abertos.
Certa vez, iria comer na estação de trem, em um lugar que parecia
confiável. De repente, vi um rato. Desisti na hora de comer, e apontei
para o rato. Eles começaram a rir de mim, como se dissessem: “olha o
gringo, com medo de um simples ratinho”. Um indiano demonstrou compaixão
pelo rato, dizendo que o animalzinho também estava procurando um lugar
quente para ficar (estava muito frio). É que eles têm uma relação muito
especial com os animais.
Papel higiênico é artigo raro na Índia. Eles não usam. Fiz uma viagem
de cinco horas de barco em que o banheiro era um buraco no chão, sem
papel nem água para lavar. Ao final, na rodoviária, para voltar, tive
que improvisar no banheiro do restaurante. Ônibus também não tem
banheiro.
Outro grande perrenhe é viajar de trem – talvez a maior dificuldade.
Comprar a passagem é dificílimo. Entender o processo. Milhares de caras
querendo ganhar uma grana em cima de turistas. Na volta de Agra, cidade
do Taj Mahal, tive que esperar três horas o trem. Cheguei em Nova Delhi
de madrugada. Um ônibus que peguei de Aurangabad a Wardha era feito só
de camas! E para comprar qualquer coisa, na Índia, a gente tem que
negociar.
ITEM 9. ESTUPRO NA ÍNDIA
Eu estava ainda no início da viagem quando uma estudante foi
estuprada violentamente em Nova Delhi, e morreu no hospital. Mais que
bárbaro, o caso levantou a discussão no país – a capital é recordista em
estupro. Milhares de manifestações tomaram as ruas. Houve até protestos
apenas com homens, e bonitas intervenções de rua. A polícia reprimiu as
manifestações com violência. Por sorte, conheci as principais
lideranças feministas no caminho, e fiz uma matéria elucidativa para o
site da Caros Amigos. Vale a pena ler.
http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/politica/2907-estupro-barbaro-ressuscita-pauta-das-mulheres
ITEM 10. SOCIALISMO EM KERALA
O primeiro lugar onde pisei na Índia foi o estado de Kerala,
conhecido como o “estado socialista”. Lá, o Partido Comunista é muito
forte, e muitas pessoas têm bandeiras vermelhas em casa com a foice e o
martelo. Foram os primeiros comunistas, no mundo, a chegar ao poder por
vias eleitorais, em 1928. O estado é o menos desigual da Índia – poucos
ricos, poucos pobres. Têm os melhores índices de educação, saúde,
mortalidade infantil, combate ao analfabetismo, etc. Fui à cidade de
Kottayam, a primeira no país a erradicar o analfabetismo, em 1989.
Atualmente, o partido não está no poder. Kerala é governado pelo Partido
do Congresso, como todos os outros quatro estados onde estive. Mas o
Partido Comunista deve voltar ao poder nas próximas eleições.
ITEM 11. YOGA
Só tive noção da dimensão da yoga após minha viagem, e decidi retomar
minhas aulas ainda este ano, no Brasil. Trata-se de uma prática
maravilhosa, física e espiritualmente. O mundo inteiro deveria ser
estimulado à prática, nas escolas ainda. A relação das pessoas com a
vida é muito melhor quando praticam yoga. Conheci um yogue mineiro
enquanto estava no Aurobindo Ashram. Professor em Belo Horizonte, viaja à
Índia todos os anos com a mulher.
ITEM 12. TRANSPORTE
O trânsito é um completo caos, em qualquer cidade. Cheia de carros,
tuck tucks, ônibus, motos e pessoas se atropelando. Buzinas são ouvidas
sem parar – no país, elas servem para avisar que estamos passando, e não
para protestar contra outro veículo. O sistema de trens é antigo, e
cobre o país inteiro. Pode-se ir a toda parte de trem, por preços
baixos. A cidade de Mumbai, a mais populosa da Índia, é um completo caos
automotivo. São Paulo, perto deles, é cidadezinha do interior.
ITEM 13. ÁFRICA DO SUL
Estive em três cidades na África do Sul: Durban, Pietermaritzburg e
Johanesburgo. Na segunda, estive apenas para conhecer a estação de trem
de onde Gandhi foi atirado, por ser negro e estar viajando na primeira
classe, e que teria despertado sua luta por justiça social. Em Durban,
cidade bonita, muitas coisas aconteceram. Mas Johanesburgo me deixou uma
sensação muito ruim, que prevaleceu. Sensação de insegurança, de que
estava sendo observado nas ruas. Impossibilidade de sair de casa
sozinho. Também visitei as casas de Nelson Mandela, Winnie Mandela e
Desmond Tutu, em Soweto. E o belo estádio que abrigou a final da última
Copa. E a prisão onde Gandhi ficou quatro vezes. E duas das casas de
Gandhi na cidade. Mas a sensação de insegurança infelizmente prevalece
nas minhas lembranças.
ITEM 14. MISTICISMO
O que fascina a maior parte dos viajantes pela Índia é seu aspecto
místico. E vivenciar isso era, também, um de meus objetivos. A filosofia
hindu, da religiosidade tradicional, é bastante interessante. Estive em
inúmeros templos ao longo do país. Em cada lugar, era uma experiência
nova, uma arquitetura completamente diferente, tudo muito distinto. E
comove perceber como o povo local tem fé e se entrega às suas tradições.
Em Nova Delhi, fiquei em um ashram místico chamado Aurobindo Ashram.
No local, tive aulas de yoga, e todos os dias trabalhava uma hora na
cozinha – uma regra local. Às 19h, havia uma meditação, frequentemente
com música. Há diversas tendências diferentes no país. Sem dúvida, na
próxima viagem – já que ficou constatado que terei que voltar – irei
priorizar o aspecto místico do Índia.
Como esperado, a ida à Índia foi a viagem da minha vida. E a dimensão
dela não está nas fotos, nas narrativas, nem mesmo neste texto. Está
dentro de mim, nas sensações que tive, nas lembranças que permanecerão, e
nas transformações internas que qualquer viagem produz. Porque uma vida
só é Vida, de fato, se há intensas viagens, e uma viagem só é Viagem,
de fato, se há real transformação. Lá do outro lado do mundo, na Índia,
sei que ficou um pedacinho de mim. E aqui dentro do meu peito, eu acho
que ficou a Índia inteira.
(*) Leandro Uchoas é jornalista.