“As
esquerdas e o antissemitismo”, foi este o tema do debate de que participei no
fim de tarde do domingo, na ASA, sociedade judaica progressista, com cujo
programa tenho muita proximidade.
Foi um
debate duro. Porque não há como debater seriamente o tema proposto sem que a
conjuntura do Oriente Médio, particularmente a ocupação da Palestina pelo
Estado de Israel, entre na roda. Afinal, é por conta da tomada de posições em
relação a esse conflito que se forjam “definições” de acordo com as posições tomadas.
Tive muitas
dúvidas, antecipadamente, na forma de enfrentar o debate, tendo em vista que
tenho lado na questão em pauta. Não avalio o conflito como guerra entre dois
Estados, mas sim como ocupação de um Estado pelo outro. Opressão de um Estado
sobre um povo oprimido, e condicionado a viver sob controle permanente de um Exército
estrangeiro. Tenho, portanto, lado. Como tive na guerra do VietNam; no golpe
contra Chavez; no golpe contra Allende. Como estou, na avaliação do bloqueio
criminoso contra Cuba, e na forma como a blogueira da moda, compensada em
dólares, presta serviço à mídia conservadora internacional na campanha contra o
regime da Ilha. Onde está o imperialismo,
operando os interesses do complexo industrial-militar-petrolífero multinacional,
eu estou contra.
Aí começa o
problema na discussão com uma esquerda judaica, solidária com os Palestinos, mas
profundamente sensível à idéia de que o
Estado de Israel não pode ser responsabilizado pelos crimes de seus governos.
Ora, tal
preocupação em separar o Estado dos governos deve, antes de tudo, se questionar
sobre a possibilidade, ou não, de as correntes de esquerda, humanistas,
socialistas ou comunistas, da comunidade judaica, terem alguma condição de chegar
ao poder em Israel, no contexto da atual geopolítica mundial.
Alguém
acredita ser isso possível no Israel dos nossos dias, em boa parte financiado a
fundo perdido por Wall Street, com aporte anual de armamento americano ainda
não utilizado pelas próprias forças armadas do país? E onde a cada eleição a dita vontade popular se
encaminha mais para a escolha de
lideranças xenófobas e não raro favoráveis à expulsão dos Palestinos da
Cisjordânia?
Aí se coloca,
portanto, a questão principal que não vejo a esquerda judaica brasileira
responder, teórica ou praticamente. Como exigir da esquerda mundial, anti-imperialista,
socialista ou comunista, que não identifique Estado com as práticas dos
governos?
Por que tentam proteger um
Estado que não tem em toda a sua história de existência uma única referência
atenuante na opressão terrorista constante contra a população palestina? Um
Estado acima das leis e deliberações da ONU, porque garantido pelo poder de
veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da instituição? (ver sequência de ocupação no mapa acima)
E mais importante ainda. Como garantir, com tal postura, não estar se submetendo sem resistência aos preconceitos da direita reacionária judaica, ao insinuar insistir, em toda a contestação desse terrorismo de Estado, uma forma de antissemitismo simplesmente por não haver uma constante distinção entre o Estado e seus governos que, independentemente de sua maior ou menor identidade formal com uma origem de esquerda, exercem as mesmas políticas de ocupação?
E mais importante ainda. Como garantir, com tal postura, não estar se submetendo sem resistência aos preconceitos da direita reacionária judaica, ao insinuar insistir, em toda a contestação desse terrorismo de Estado, uma forma de antissemitismo simplesmente por não haver uma constante distinção entre o Estado e seus governos que, independentemente de sua maior ou menor identidade formal com uma origem de esquerda, exercem as mesmas políticas de ocupação?
Não, não pode ser tarefa
da esquerda laica, internacional, ter a preocupação de formular a denúncia com
os cuidados que tornem confortável a convivência da esquerda sionista com a
direita xenófoba e reacionária que hegemoniza a comunidade, dentro e fora de
Israel. É tarefa dessa esquerda sionista impedir que qualquer ataque mais agudo
ao terrorismo de Estado de Israel traga um sintoma oculto de antissemitismo. Com isso, é
possível um acordo. Como o acordo que já existe com Uvnery, Filkenstein,
Chomsky e tantos outros julgados traidores pelos sionistas fascistas.
Foi
importante para mim este debate de domingo, pela forma gentil, mas sem perda de
combatividade, com que fui recebido. Mas não deixou de me acender uma
preocupação com a forma o fato de ser judeu pode se sobrepor, a algumas generosas cabeças
pensantes, o fato de ser internacionalista de esquerda. Enfim, luta que segue
porque o debate não se encerra.
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