A profissionalização dos hospitais vem deixando a relação entre médicos e administradores ainda mais conflituosa, principalmente, por conta de uma pressão maior para redução de custos e adoção de procedimentos médicos padronizados. Essa é uma das constatações de uma pesquisa realizada pela FGV in company, a pedido do Valor, com 49 gestores e 38 médicos. Todos os 87 entrevistados são alunos e ex-alunos dos cursos de saúde desse braço da Fundação Getúlio Vargas que oferece cursos sob demanda.
Segundo 84% dos médicos entrevistados, a profissionalização provoca uma pressão mais intensa para uso de produtos ou procedimentos de custo menor. Mas isso não significa necessariamente que haja queda na qualidade de atendimento. "Há hospitais gastando menos porque foram pelo caminho mais fácil, demitindo profissionais experientes e a qualidade caiu, por exemplo. Mas há também hospitais gastando melhor seus recursos. Um procedimento mais caro nem sempre é o melhor", diz a professora Ana Maria Malik, coordenadora do núcleo de saúde do FGV in company.
Nesse contexto há ainda as operadoras de planos de saúde, que pagam a conta dos pacientes e pressionam fortemente os hospitais por custos menores. "Os hospitais que têm uma marca forte como consequência de sua qualidade ou têm uma grande rede têm mais poder para negociar. As operadoras não querem perder os melhores hospitais. Já aqueles que não têm essas vantagens podem acabar cedendo", diz Sérgio Bento, diretor-técnico executivo da Planisa, consultoria especializada em saúde, e ex-superintendente do Hospital Samaritano.
Entre os 49 diretores de hospitais consultados pela FGV in company, 82% informaram que os médicos reagem bem à profissionalização, mas a maioria tem resistência a adotar protocolos - procedimentos médicos padronizados que ajudam a controlar as despesas. O motivo dessa aparente contradição é que os médicos acreditam que a profissionalização destina-se apenas ao departamento administrativo do hospital e não envolve a área médica em si.
"Os protocolos são baseados em evidências médicas, mas há resistência porque há uma crença na comunidade médica de que os protocolos são para profissionais não muito bem formados", diz Ana Maria. "Os médicos acham que os protocolos vão engessar sua forma de trabalhar, que normalmente é individualizada", observa o diretor da Planisa.
Segundo 84% dos médicos participantes do estudo, o comando dos hospitais para o qual prestam serviço é feito por um gestor com formação em administração. Mas para eles o ideal é que esse administrador tivesse uma formação em medicina e especialização em negócios. A justificativa é que com um médico no comando há mais flexibilidade para as demandas na área da saúde.
A amostra da pesquisa da FGV in company traz um alto percentual de hospitais gerenciados por executivos, mas no mercado a maioria dos hospitais não tem gestão profissionalizada. "É muito comum ver conflito de interesses nos hospitais, com o dono misturando os negócios particulares e da empresa", diz o diretor da Planisa. E muitos hospitais têm fechado as portas por conta de má gestão.(...)
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