UM PSOL
CONTRA O CAPITAL
190716
190716
“Os homens
fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob
circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”, já afirmava Marx no seu insuperável
“18 Brumário”, obra em que analisou
raízes e sequelas de equívocos da Revolução de 1848, na França.
“Nossa situação agora é diametralmente oposta
à do Século XX, quando sabíamos o que queríamos fazer (ditadura do
proletariado, etc.), mas precisávamos esperar com paciência o momento certo em que a oportunidade se
ofereceria. Agora, não sabemos o que fazer, mas temos de agir, porque as
consequências de não agir podem ser catastróficas”, conclui Slavoj Zizek, no
seu “Primeiro como tragédia, depois como farsa”, recuperando a premonitória
Rosa Luxemburgo, com seu aviso dramático: “Socialismo ou Barbárie”. E optando,
no dilema proposto por Gramsci, pela afirmação do otimismo da vontade na
convivência com o pessimismo da razão. .
Não; não se
trata da abertura de um abstrato catecismo de citações doutrinárias. Trata-se
de uma lembrança didática de referências emitidas em tempos históricos
distintos, fundamentais para o debate
sobre tática e estratégia de um partido que se pretende de esquerda, anticapitalista,
socialista. De um partido que se pretende parte de uma alternativa reativadora
do que foi perdido no Pacto Conservador de Alta Intensidade dos anos do mandato
de Luis Inácio Lula da Silva.
Um Pacto que,
por sua irrealizável estratégia de “governar para todos sem incomodar ninguém”,
típica de uma mentalidade sindical pragmática transferida para a política de Estado, terminou por se afirmar
como raiz de ceticismo atual, em amplas camadas outrora comprometidas com
anseios de transformação qualitativa de nossa realidade. Raiz do que foi
perdido na oportunidade desperdiçada de impor reformas progressistas
estratégicas; todas jogadas para
escanteio por conta de uma política limitada a mitigar necessidades imediatas,
sem apontar desdobramentos estruturais,
geradores de um mais alto nível de consciência ideológicas nas massas
atingidas.
Porque ao
fim e ao cabo ficou claro tratar-se de um pacto que manteve os privilégios do
grande capital em sua tríade mais expressiva – bancos, empreiteiras e agronegócio
– , compensados por um Reformismo Fraco, voltado para os segmentos mais
miseráveis da população. Um pacto que garantia a cobertura de 11 milhões de
família com uma Bolsa cujo custo anual se igualava ao lucro dos dois principais
bancos privados em apenas nove meses desse mesmo período.
Pois,
afinal, quem afirma governar para todos, aos seus certamente está traindo.
CENÁRIO DO
CONFRONTO
Tarefa
hercúlea, portanto, para uma esquerda combativa, pois a conjuntura atual não é
favorável a um tal projeto como aquela que, por exemplo, propiciou a fundação e
a consolidação do PT.
A luta pelas
Diretas, na disputa recente contra o governo golpista do PMDB, PSDB e seus
acólitos, não chegou perto da mobilização nacional dessa campanha quando do fim
da Ditadura.
O movimento
sindical fragmentado, com ampla influência do sindicalismo de resultados, não
nos oferece uma base social combativa, semelhante à que foi propiciada ao
nascimento e desenvolvimento do PT na aurora dos anos 80, com o nascimento e
afirmação combativa da hoje acomodada CUT. E mais; com tempo de TV nos horários
políticos, instrumento fundamental para a divulgação de programas e propostas, então
igual para todos, atualizado por um verdadeiro massacre de desigualdade em
favor de legendas da pior política.
Quanto ao
contexto internacional a polaridade ideológica EUA x URSS era obstáculo
incontestável à possibilidade de que o imperialismo e seus cúmplices internos pudessem
nadar a favor da corrente em defesa de um modelo econômico condicionado pela manutenção
dos privilégios do grande capital como hoje ocorre. O neoliberalismo mal
nascia, e longe daqui.
Mais ainda,
não temos o cenário de proximidade ideológica na luta que, naquela conjuntura, tornava
o confronto Reforma x Revolução parte da rotina permanente das assembleias
daquele saudoso PT.
Nem de perto. Pelo contrário. O que ainda nos obriga a ouvir formulações sobre o tema quando vindas de declarações surpreendentes por parte de luminares do grande capital globalizado;
Nem de perto. Pelo contrário. O que ainda nos obriga a ouvir formulações sobre o tema quando vindas de declarações surpreendentes por parte de luminares do grande capital globalizado;
“Sim,
estamos numa luta de classes. E nossa classe está vencendo” é o desabafo
transparente de Warren Buffet, o segundo homem mais rico do mundo, embaralhando
as escusas dos que, outrora militantes combativos, se desviaram para uma
pós-modernização da política, tentando negar a dicotomia esquerda/direita.
Num tempo de
ascensão de pautas identitárias em sua visão liberal, e de pressão reducionista
contra o conceito reconhecido por Warren Buffet, mas que também seria subscrito
por George Soros, seu grande rival; num
tempo de esforços desmedidos para a despolitização da política através,
principalmente, da imposição da horizontalidade movimentista contra o caráter
orgânico, vertical, do partido político, os trechos citados são portanto essenciais para nutrir o
debate sobre a questão que se impõe:
POR QUE E
PARA QUE NECESSITAMOS DE UM PSOL?
Sim, por que
diante do conceito leninista, sempre atual para a esquerda revolucionária, de
que a ação se determina a partir da análise concreta da situação concreta,
nenhum debate mais profundo, que anteceda o estabelecimento de táticas e de
precisão sobre o objetivo estratégico de um partido político pode se omitir de resposta
a essa pergunta.
Não pode se
omitir principalmente se levamos em conta esse contexto citado acima, em que
um dito “neoliberalismo progressista”
pretende se impor invadindo mentes e corações de segmentos que, décadas atrás,
não hesitavam em sua vinculação com a luta anticapitalista. E que hoje abrigam
suas guinadas numa afirmação tentada há mais de um século sobre o fim da
dicotomia direita/esquerda.
Uma negação
que Daniel Bensaid, sempre lúcido revolucionário referencial, enfrenta nos
teoremas e corolários do seu “Os Irredutíveis”, afirmando que “a política é
irredutível à ética e à estética”, tanto quanto “a luta de classes é
irredutível às identidades comunitárias”. Ousadia que vem na linha de outro pensador
inquestionável, seu antecessor no embate revolucionário, George Lukacs, no seu
indispensável “História e Consciência de Classe” – ao afirmar que “a totalidade
é a categoria fundamental da realidade”.
Ou seja, o
que vem de Luckacs e Bensaid é que tanto os partidos necessitam dos movimentos
da sociedade civil progressistas, quanto estes necessitam dos partidos no
contexto atual em que as deliberações definitivas se dão, incontestavelmente, e
a despeito do que isso tenha de pouco romântico, no plano de lutas
institucionais.
Mas o que
vem de Zizeck é que nos anima, por ilustrar , nos exemplos de Bernie Sanders,
Melenchon, Jeremy Corbyn , Pablo Igesias e, mais próximo a nós, Evo Morales, a
eficácia da transparência na radicalidade anticapitalista de suas campanhas e
propostas, como eixo da amplitude de suas influências políticas. Na aposta
ousada no otimismo da vontade.
Não é pouca
coisa, neste início de século em que idéias e conceitos fundados em Marx e seus
protagonistas posteriores eram dados como mortos. Não é pouca coisa neste
período mais recente, em que a ascensão de correntes que se julgavam
definitivamente extirpadas com o fim da II Guerra Mundial, ameaçassem retorno
acintoso em vários países da Europa.
Vale
considerar um dos processos pelo que traduz de inimaginável quando de seu
começo, para ilustrar a formulação. Quem conhece minimamente a realidade
americana religiosamente conservadora,
no máximo liberal, só compreende o espaço ocupado por Sanders se concordar que a extrema ousadia da vontade
se impôs , sem perder os limites da razão, no estabelecimento da linha de
campanha, claramente anti-WallStreet. Claramente anticapitalista.
Essa
experiência nos Estados Unidos, assim como as da Europa e a da América do Sul,
é que nos deve servir de norte. E há razões objetivas na realidade brasileira.
NOSSA
REALIDADE
Vivemos um
momento “interessante” no que isso pode significar de perigoso e,
simultaneamente, esperançoso., já que o quadro é menos preocupante do que o
desenhado nas mobilizações pelo impeachment de Dilma. Naquele então, uma
direita reacionária, truculenta, se afirmava, confirmando-se nos
aterrorizadores resultados das eleições municipais, principalmente no Rio e em S.Paulo.
Não é esse o
quadro atual, embora ainda não tenhamos o que festejar. Houve o golpe. Mas não
houve ascensão institucional do fascismo, a despeito do factoide bolsonariano
que, assim como seus correspondentes internacionais, não passa de um fenômeno
condicionado à sua limitada capacidade mental quando se iniciam os verdadeiros
debates decisivos.
Dito isto,
passemos às alternativas concretas, e à determinação de caminhos e instrumentos
para a materialização de propostas anticapitalistas no nosso contexto.
UM ANO DA
MAIOR IMPORTÂNCIA
2018 será um
ano decisivo. Ano em que, para além da renovação dos parlamentos legislativos
da União e dos Estados, nos defrontamos com o único momento em que movimentos
sociais e Partidos se concentram no debate que corre o País de norte a sul
sobre modelo de sociedade; no debate sobre regime e modelo de sociedade sob o
qual queremos viver.
É o momento
da disputa presidencial.
Preocupação
eleitoreira? Não. Disputa concreta sobre o espaço que se oferece para a
conquista de hegemonia no controle do aparelho do Estado. Caminho institucional
que pode abrir caminhos para a desconstrução e superação do regime capitalista,
sob o qual não cessamos de abrir atalhos para a barbárie. Momento em que, como
sempre afirmou Melenchon em suas campanhas, devemos transformar o voto do
escrutínio secreto em ferramenta revolucionária.
Nas hipóteses que se apresentam, o PSOL vive um
momento de extrema responsabilidade. Pelo desempenho extraordinário de suas
bancadas parlamentares, com especial importância da federal por conta dos
grandes temas que enfrentou e enfrenta, a legenda se tornou maior do que a sua
própria estrutura interna permite abarcar.
Mas tal
expressividade não suplanta o que a realidade objetiva impõe. É o debate
determinante, sobre modelo de sociedade que o povo brasileiro vota na eleição
presidencial. Na conjuntura atual, decisão sobre como entramos nessa campanha
não depende apenas de nós, se nos propomos à grande política e não somente às
quizílias internas, sem levar em conta fatores determinantes alheios a nosso
controle. O trecho do “18 Brumário” citado na abertura nos ensina. Ou seja; o
cenário do embate não pode deixar de levar a conta o item fundamental para a deliberação final: a presença, ou não,
de Luis Inacio Lula da Silva na disputa.
CAMPANHA PRESIDENCIAL e PROPOSTAS
LULA SERÁ
CANDIDATO? Se for, é para compor com o que chama de “centro”, personificado em reacionários
sob investigação, tais como Renans e Meirelles. Pelo que tem sido tornado
público, principalmente por sua intervenção no congresso do PT, em junho, a
perspectiva não é alvissareira. A forma como se empenhou na imposição do nome
de Gleisi Hoffman para a direção do partido, contra a candidatura de Lindbergh
Farias, que como senador não votou projetos regressivos enviados por Dilma,
deixou isso ainda mais evidente
Por seu próprio discurso, mas principalmente pela rápida saudação de Gleisi, fica claro que no passado não se toca. Nada a corrigir; só a proteger.
Por seu próprio discurso, mas principalmente pela rápida saudação de Gleisi, fica claro que no passado não se toca. Nada a corrigir; só a proteger.
Por esse caminho, o PSOL
tem a obrigação de lançar uma candidatura própria, que traduza de forma
transparente um programa anticapitalista, naquilo que hoje se apresenta como
necessidade inadiável. É obrigação,
contra qualquer ameaça de busca de um “mal menor”, que a história recente tem
comprovado ser apenas o caminho para o mal com nosso aval. Um nome capaz de dar
luz a promessas exequíveis, mas sem fugir ao confronto com os mantenedores,
explícitos ou dissimulados, do status quo.
Democratização dos Meios de Comunicação que operam sob concessão de Direito Público - Rádios e TVS- ; Reforma Política democratizante, abrindo espaços aos controle social do aparelho do Estado; Reforma Tributária que cancele as isenções dadas aos maganos e estabeleça uma verdadeira justiça distributiva de encargos e o estabelecimento de controle sob o sistema financeiro privado, cortando-lhe asas no domínio que exerceu, desde a vaga neoliberal de FHC até os dias atuais, sobre o Banco Central. Cancelamento de todos os projetos regressivos dos governos Dilma e Michel Temer.
Esses seriam itens básicos, que pautariam nossa candidatura como alternativa à esquerda..
MAS SE LULA NÃO FOR candidato, o lançamento de candidatura
própria do PSOL não se justifica. Pode assumir caráter divisionista, pois
dificilmente qualquer candidato da legenda conseguiria se transformar em polo
aglutinador da esquerda contra uma candidatura apoiada por Lula. Ciro Gomes,
para citar o mais provável.
Nesse caso, o PSOL se afirmaria como referencial, se tivesse a
ousadia de oferecer sua legenda a uma candidatura externa. Uma candidatura de um nome expressivo do
movimento social, ao qual o partido forneceria uma "filiação
democrática". Uma filiação que deixasse claro a colocação da legenda à
disposição de uma candidatura de toda uma esquerda disposta ao combate real
contra os avanços da direita. Uma candidatura que atraísse a base social do PT,
tanto a ativa quanto a que se afastou por ceticismo, e que não aceitaria mais
uma aliança com um “centro” idealizado por Lula . E que mobilizasse a sociedade civil
organizada em suas diversas correntes fora dos partidos políticos.
O PSOL, sozinho, e independentemente dos excelentes nomes que poderia apresentar, não seria o polo aglutinador. Um nome saído do movimento social, sem filiação partidária anterior, seria o ideal.
Para tanto, teríamos que ter a visão corajosa da Grande Política. Sem se perder em quizílias internas. Sendo radical na visão da prioridade da luta de classes efetiva contra a direita reacionária, com objetivo claro de consolidar o campo de esquerda, contra uma direita que, certamente, não terá nomes expressivos para garantir vitória antecipada, como até bem pouco cogitava.
O PSOL, sozinho, e independentemente dos excelentes nomes que poderia apresentar, não seria o polo aglutinador. Um nome saído do movimento social, sem filiação partidária anterior, seria o ideal.
Para tanto, teríamos que ter a visão corajosa da Grande Política. Sem se perder em quizílias internas. Sendo radical na visão da prioridade da luta de classes efetiva contra a direita reacionária, com objetivo claro de consolidar o campo de esquerda, contra uma direita que, certamente, não terá nomes expressivos para garantir vitória antecipada, como até bem pouco cogitava.
Só depende de nós.
Luta que Segue!!
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